sábado, 31 de janeiro de 2009

A meio caminho da meta: O "Bilan"!

Caros leitores,

qual seria a melhor forma de comemorar o ultimo dia dos meus primeiros 3 meses passados aqui, em Beaujon, do que no proprio hospital? Contudo, e como "amor com amor se paga", aproveito a internet desta instituição, e o momento livre "après-midi", para vos escrever umas palavras e fazer o "bilan" destes 3 meses (metade) de estagio.

Se me der ao trabalho (e olhem que ja é algum) de reler todos os meus "posts" anteriores escritos aqui no "Relier", verificarei que passei por varias fases:

- A EXPECTATIVA: Foi, sem duvida, a 1a fase, e que acabou por durar cerca de 1 ano, desde o meu primeiro contacto com esta instituição, em Setembro de 2007, e a confirmação do meu estagio em Paris. Afinal, quem não gostaria de fazer um estagio fora, fosse do que fosse e, quanto mais, na cidade-luz?! Muito poucos, imagino eu! O facto é que foi um misto de vontade, sorte e preserverança. Assim, criei uma expectativa enorme neste estagio, e contagiei todos os que estavam à minha volta antes de vir para Paris. Este sentimento, foi sempre acompanhado de um "frio na barriga" quando pensava na minha vinda para Paris: uma cidade diferente, uma lingua diferente, um hospital e gentes diferentes, o viver so pela primeira vez, enfim... a expectativa...

- O DESLUMBRAMENTO: Os 10 dias que passei em Paris antes de começar, de facto, a trabalhar, foram do mais puro deslumbramento - a casa de 34m2 no centro da cidade (uma verdadeira mansão quando comparado com os espaços onde os autoctones habitam, e uma "ridicularidade" de espaço para o que nos estamos habituados - é cerca de 2/3 da area apenas da sala da minha casa de Portugal), a "cidade-museu", os espaços livres, os espaços fechados, e até a 1a reunião (lembram-se?) com o director de Serviço. Até parece que foi ontem... Estes 10 dias de deslumbramento, também foram os 10 dias de maior descoberta da cidade, sempre acompanhado pela mãe, também ela deslumbrada com o filho caçula na sua cidade preferida.

- A DOR-DE-CABECA: Não sendo um sentimento, é a repercussão fisica de uma mescla de sentimentos. Como me poderei esquecer da monumental dor de cabeça que tive a oportunidade de experimentar no final do 1° dia de trabalho? Esse mesmo! Aquele em que descobri a falta de organização, as praticas e formas de trabalhar diferentes, e a necessidade de concentração ENORME para entender e me fazer entender com os franceses, colegas e doentes.

- A PERPLEXIDADE: Rapidamente fiquei perplexo, no final da primeira semana, com a quantidade de papeis que, afinal, me faltavam, para ter a minha situação perfeitamente regularizada como FFI (fazendo função de interno). Resmunguei, "estrebuchei", literalmente "passei-me"! Não me entrava na cabeça (assim como continuo sem compreender) porque raio de motivo haveria eu de me inscrever na faculdade de medicina. Se ainda trouxesse alguma vantagem, além de ter de pagar a proprina de cerca de 450 euros... O facto, é que a unica vantagem que tive, até ao momento, foi um desconto de 3 euros no bilhete do cinema (paguei 7 em vez dos 10 euros previstos). De resto, nem desconto tive nos museus...
Assim, fiquei perplexo com o pais burocratico e de "rendez-vous" que é a França. Este sentimento ja passou, pelo simples facto de que não me posso manter perplexo todos os dias durante 1/60 da minha vida, mas também devo dizer que não ha dia em que este pais ou os seus habitantes não criem, em mim, um esboço de perplexidade...

- A FURIA: Varios foram os momentos de furia que passei, pela falta de apoio, pela sensação de abandono, por achar que se estivesse em Portugal a trabalhar no nosso serviço de hepatologia estaria a aprender mais. Devo dizer-vos que este é um sentimento que tenho, por vezes, mas que julgo ser da responsabilidade de um qualquer gene do "Ser Português", mas que esta cada vez mais, mais reprimido.

- A RECOMPENSA: Apesar de tudo o que ha de negativo para listar, também é inegavel que tenho tido bons momentos no hospital. Tenho bons colegas e, de facto, ha ca gente que sabe muito. Pode é não querer transmitir a sabedoria toda... Tenho tido excelentes feedbacks por parte de varios colegas, sobre o meu trabalho e forma de trabalhar, o que é sempre bom. tenho visto um numero de doentes enorme, com uma variedade de patologias imensa, dentro da area do figado, o que faz com que, a cada dia que passe, me sinta mais à vontade com os doentes e os seus "males da figadeira".

- A COMPANHIA: Se ha coisa que não me posso queixar, é da falta de companhia e de apoio de toda a gente. Falo não dos de ca, mas dos dai, daqueles que me lêem e que me vão dando noticias. Sim! De vocês mesmos! São vocês que, acompanhando-me nos piores momentos, me têm permitido fazer a catarse e aliviar a cabeça de sentimentos ruins e pesarosos. E as visitas a Paris que continuam a ser (e ainda bem) continuas. O meu "studio" não é mais do que a "casa da mãe Joana" como ja alguém lhe chamou, e a minha cama... enfim!

Assim, o "bilan" destes primeiros 3 meses tem de ser, obrigatoriamente, positivo, independentemente das contrariedades (e que foram muitas) que fui encontrando pelo caminho. Tenho tido companhia, vivido a cidade (não tanto quanto queria) e aprendido muito, independentemente de achar que poderia ser de outra forma.

Que venham os proximos 3 meses!

Bien à vous,
Fil

4 comentários:

Anónimo disse...

Apesar de toda a mescla de sentimentos internos e externos, experiências, encontros e desencontros e, vivências nestes 3 meses aí passados,muito me apraz sentir-te animado, entusiasmado, com toda a pica para comemorar e atacares os próximos 3!

Permite-me dizer que haveria com Certeza Absoluta melhor forma e local para comemorar do que no próprio local de trabalho!!! ou não tenho razão? !
Faço votos que todo esse positivismo permaneça sempre em Alta mesmo que surjam caminhos menos rectilíneos.
10000X Força, Muitos Parabéns eMuito Obrigada pelos belos e bons momentos de prosa que nos dás.

Mil beijos em ti. Adoro-te.
E

Filipe Nery disse...

Merci à toi! Bjs em ti, E!

Unknown disse...

deixaste-me com esperança. Que venham os proximos 5 meses!

Filipe Nery disse...

E eu digo: venham os proximos 3!