terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Vin chaud avec orange et canelle, jusq'à Opera Garnier

Ha 48 horas, meus amigos, ha cerca de 48 horas que aterrei nesta cidade para o "Relier à Paris - 2a parte", e ja muito se passou desde então.
Não, não vos vou falar dos connards dos franceses, nem do trabalho (que até começou bem, por sinal, mas dêem-lhe tempo, dêem-lhe tempo...), mas sim do que esta fantastica cidade me ofereceu, desde o frio e neve até um bailado na Opera Garnier.

Cheguei no avião dos pobres, vulgo companhia-que-faz-Porto-Beauvais-a-baixo-custo. Tenho a impressão que foi a ultima vez que o fiz naquela companhia aerea. Tal, deve-se ao ar pouco simpatico dos seus tripulantes, às restrições inerentes à politica economicista da empresa (ou não fosse ser low-cost) e, finalmente, sendo este o factor mais importante, a distância a que fica, fisica e temporal, o aeroporto, da minha casa, no coração da cidade. Chegado a Beauvais, apanhei o autocarro rumo a Porte Maillot (1 hora de viagem e 13 Euros) e, depois, o metro (linha 1, com necessidade de mudar para a linha 4 em Chatelet, até Reaumur-Sebastopol).
Bom, o facto é que não vim so. Tenho tido a companhia inigualavel da super-prima (que me perdoem as outras, que também o são) e, desde ha poucas horas atras (2 horas, environ) também, dos meus pais. Todos juntos, preparamo-nos para o verdadeiro réveillon (e aqui posso dizê-lo, em alto e bom som, ao passo que todos aqueles que persistem no nosso carissimo Portugal não! Em Portugal ficam-se pela "passagem de ano", que não é nada mau!).

No proprio dia em que chegamos (perdoem-me a falta de acentos que condiciona um tempo verbal diferente daquele que é o adequado, mas ja vos falei do "clavier" dos connards dos franceses...) fomos dar a "volta dos tristes", que é, ao fim e ao cabo, o "giro" de apresentação das redondezas a quem vem ca a casa pela primeira vez. Saidos de casa, descemos a Rue St Martin, viramos à esquerda no Pompidou, e vamos sempre em frente até à Place des Vosges. Continuamos em frente e viramos à direita ja na Boulevard Beaumarchais até à Place de la Bastille. La, continuamos pela Boulevard Henri IV até à Ile St Louis. Atravessamos a ilha pela sua rua central (Rue St Louis en l'ile) e continuamos pela Ile de la Cité. Chegados a Notre-dame, viramos à esquerda em direcção à margem homonima do rio e passeamo-nos um pouco por St Germain. Depois, é so fazer o trajecto de regresso. Mas os caros leitores desenganem-se se pensam que voltamos exactamente pelo mesmo percurso (que demora cerca de hora e meia a ser feito). Chegados, de novo, à margem direita do Sena, é so subir a Rue St Martin até ao 223.

Contudo, o passseio foi feito com graus negativos, o que obrigou a uma paragem num dos inumeros cafés da Place des Vosges (café Hugo), para um "Vin chaud avec orange et canelle". Foi maneira de aquecer. Não sei se pelo efeito do vinho quente, se pelo calor agradavel que se fazia sentir dentro do estabelecimento...

Segunda feira foi dia de trabalho. Calmo, como se pretende para quem acaba de chegar de férias e sem muitas preocupações. As férias em Portugal foram tranquilas, e é assim que pretendo entrar em 2009: tranquilo e sereno!
Contudo, o dia haveria de acabar em cheio, ja que eu e a prima conseguimos os 2 ULTIMOS BILHETES para o bailado que esta em exibição, até hoje, na Opera Garnier. Por uns "fantabulasticos" 6 euros, ficamos num dos piores lugares da Opera. Contudo, e como quem esta com a prima é como se estivesse com um trevo de 4 folhas ao seu lado, a chinoca (termo carinhoso e não perjurativo) que estava à nossa frente, saiu no segundo acto, e ficamos com uns lugares ligeiramente melhores, que é como quem diz que, inclinando-nos um bocadinho para a frente, conseguiamos ver, por vezes, 3/5 do palco... O bailado (Raymonda), peça coreografada por Rudolf Noureev, representada pela primeira vez em Saint-Petersbourg, em Janeiro de 1898, com musica de Alexandre Glazounov (sua primeira obra), aborda uma intriga amorosa da época medieval. Além de uma musica espectacular, conta com um guarda-roupa exuberante e uns cenarios soberbos.


(Fotografia, como é logico, não tirada pela minha pessoa, mas que figura no site da Opera Garnier. Não que eu não tenha capacidade para o fazer, nada disso! Contudo, pela alta qualidade de imagem - que o meu telemovel, apesar dos seus 5 megapixeis de resolução não permite tirar -, bem como pelo lugar de primazia em que foi tirada, não poderia ser da minha autoria. Além do mais, era proibido fotografar no curso do espectaculo...)

Ora, se a peça teve 3 actos, significa que teve 2 intervalos, cada um de 20 minutos, o que deu para observar bem a arquitectura do edificio. Em qualquer local poder-se-ia pagar os tais 6 euros apenas para apreciar a obra. Deixo-vos com algumas fotografias tiradas a partir do meu telemovel, pelo que a resolução não é a melhor...


(Fotografia do tecto da Opera - Obra de Chagal)


(Fotografia interessando as frisas)


(Pormenor de um dos candeeiros)

Amanhã é o ultimo dia de 2008. Mais um ano se passou, com algumas coisas positivas, outras menos boas, como todos os outros anos que lhe antecederam, tirando aqueles da idade da inocência que, diga-se o que se disser, são os melhores.
Assim, e porque não posso garantir um novo post no "Relier" no decorrer de 2008, desejo aos seguidistas do movimento "Reliista" um EXCELENTE 2009, com a garantia (espero...) da continuação das novidades deste emigrante na Galia!

Bien à vous,
Fil

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL!

Levitando sobre uma multidão de gente, observo atentamente os seus movimentos. Não sei se vêm ou se vão, não sei se sabem quem são ou não. Vejo aquela gente no "automático", de quem sai e entra das lojas, de quem levanta dinheiro uma e outra vez, de quem passa pelo mendigo e lhe atira a esmola, de quem risca mais uma pessoa da lista, de quem espera por melhores dias, de quem julga que os piores já lá vão. Levitando sobre a cidade, vejo os carros "atolhados" uns sobre os outros nas bifurcações das ruas e estradas, quais hemácias e plaquetas a impedirem o extravasamento de sangue das artérias. Vejo os fumos que saem das chaminés e que deixam no ar o cheiro de lareira invernal. Ouço cânticos natalícios misturados com as buzinas dos carros. Ouço o apelo de quem não tem abrigo e a gargalhada de quem o tem.
Contudo, é Natal. É tempo de paz e de serenidade, de estarmos de bem connosco e com os outros. É o tempo de nos reencontrarmos com aqueles que mais amamos, é o tempo de fazermos os outros mais felizes. Porém, devemos fazer com que o espírito que nos invade nesta altura do ano seja aquele que nos acompanha nos restantes 365 dias.
Assim, a todos VÓS, amigos, conhecidos, e todos os outros que, não o sendo, vão acompanhando o "Relier" e, assim, me conhecendo, um FELIZ NATAL, que é como quem diz, façam felizes todos aqueles que puderem.

Bem hajam,
Fil

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Paris parte I - "Le bilan"

60 dias de Paris, 60 dias de pura emoção.
O balanço destes meus ultimos 2 meses na capital francesa, apesar dos contratempos e dos "mal-dizeres" tipicos de quem é português e que, como tal, tem a sua "costela" fatalista, foi positivo, não o posso negar. Quanto mais não seja por habitar nesta cidade cheia de encanto, luz e agitação. Definir Paris é dificil. Ë uma cidade glamorosa, stressada, sumptuosa, desordenada, jactante, miseravel, enfim... é uma cidade de extremos, povoada por gente rica e famosa, toda engalanada, e por gente pobre e miseravel que aproveita, nesta altura de frio cortante, os bueiros do metro que exalam calor, quais sovacos desta cidade, e que ali se aninham, tal como um bebé no seu leito materno. Julgo que tenho aproveitado a cidade e, não havendo possibilidade dela se aproveitar de mim, toma-lhe o lugar, nestas funções, o hospital onde trabalho e as suas gentes.
No hospital tomo, sobretudo, o contacto com uma realidade diferente da nossa, onde o volume de doentes que padecem de doença hepatica é brutal, e o numero de pessoas que lidam com essa doença nos termos do seu acompanhamento e vigilância não é directamente proporcional. Além do facto do numero de pessoas que trabalham no serviço ser reduzido, esse numero revela-se ainda mais pequeno quando cerca de metade não quer trabalhar... Mas bom, vale-me o consolo do feedback positivo da parte dos doentes, pessoal de enfermagem e restantes colegas, sendo que terminei o dia de hoje parabenizado pelo meu director de serviço, com um "bravo, Filipe!". Soube bem, e quase fez esquecer tudo o resto, desde os problemas burocraticos aos inerentes à propria organização do serviço. Contudo, nem me passa pela cabeça massar-vos com tal prosa. Quem ja não se recordar, remeto-vos para os 44 "posts" anteriores que escrevi...

Do que não me posso esquecer é do apoio incontestavel com que conto todos os dias da parte dos meus caros leitores (apesar de saber que alguns deles, não muitos, confesso, uma ou outra vez, por um ou outro motivo, a proposito de uma ou outra palavra... não se identificaram com algumas das mensagens aqui escritas; contudo, o "Relier à Paris" é uma cronica, das minhas aventuras e desventuras neste 1/60 da minha vida e, como tal, expressa o meu modo de ver as coisas; ainda bem que ha opiniões distintas das minhas, caso contrario, tudo isto não faria qualquer sentido; contudo, e em jeito de desabafo, este blogue ja esteve por uma ou duas vezes prestes a entrar de férias... mais cedo, e grandes!), e não so...
Varias foram as visitas que tive nestes 2 meses:

- Mãe: "trouxe-me" ate Paris, e deixou-me com ela. Queria ter a certeza que me deixava bem entregue, que não me perdia pelo caminho e que sabia pôr a maquina da roupa a funcionar. Fez-me bem a mim e a ela. Foi um "recordar" Paris no seu melhor. Dia 30 deste mês ja ca estara outra vez, desta feita, também com o meu pai.

- Mana: Finalmente mais perto! A apenas 300km podemo-nos ver, durante 6 meses, uma vez por mês. Veio ca no final de Outubro, e eu fui até à Bélgica em Novembro. Reencontrar-nos-emos, dentro de 3 dias, em Portugal e, dia 16 de Janeiro ja tenho, de novo, viagem marcada para a Bélgica. A minha irmã é o meu outro eu e, de facto, os nossos cariotipos completam-se quando estamos juntos.

- Cunhado: Meu homonimo em "belguês", quase um "gajo do norte"! Muito boa pessoa, cheio de perspectivas para o futuro. Empreendedor e divertido. Ë sempre um gosto estar com ele.

- Sobrinho: Tal como o rei, com coração de Leão. Ë um orgulho. Corre, salta, nada, toca piano, e ja anda na escola primaria. Um aficionado pela torre Eiffel. Ele não sabe, mas vai receber a Torre Eiffel em Lego pelo seu aniversario (que esta quase). Apesar de ter 3428 peças e ser para maiores de 16 anos, pareceu-me adequado...

- Sobrinha: Uma princesa. Linda. Ë um doce, por vezes com sabor a pimenta. Tel ca um feitio...

- "Futura colega em Paris": Na realidade, é uma colega e amiga do meu Sto Antoninho, mas também vem para Paris trabalhar no inicio de janeiro. Contudo, para outro hospital... Veio-me so fazer uma visita, mas foi quanto bastou para fazer a catarse da semana!

- Peter Pan: Assim designado pela "Futura colega em Paris", sendo a sua cara-metade. Veio ca a casa tomar um cha, no quentinho, apos jantar de crepes na Creperie Beaubourg.

- Atletologa: Grande amiga, que me veio fazer companhia por um dia. Conheço poucas pessoas como ela, perserverantes e dedicadas à causa. Amiga do seu amigo, sem duvida!

- Ex-coach3: A semelhança do robocop 1, 2 e 3, também eu tive 3 treinadores. Grande amigo também, cara-metade da atletologa. Veio, claro esta, junto! Jantamos fora, dormiram ca em casa e, no dia seguinte, foi so passear.

- Mano: Não é biologico porque não calhou de termos o mesmo pai e a mesma mãe. Melhor amigo e confidente. Também tem um blogue mas mais "low profile". Gozou de experiência semelhante à minha, ha uns anos atras, mas em Londres.

- Cara-metade do mano: Juntou-se a nos uns dias mais tarde, ja que se foi passear por Bruxelas (disse-nos ela que foi em congresso...). Divertida e com muito humor. Foi uma optima companhia, também!

- Cardiologa: Chegou no dia da partida do mano e da sua cara-metade. "Geniquenta" como ela ha poucas. Tem ca um gaz... e não é dos que cheiram mal, vos garanto!

- Professor V: Veio a Paris a um congresso, e passou ca por casa. Fomos os 3 (eu, a Cardiologa e o proprio Professor V.) jantar à Bastilha a um Bistrot optimo. Bebeu coca-cola e... não devia! Fiquei a par de todas as novidades do Sto Antonio!

- Médica de familia: Passou a ser assim denominada apos procedimentos cirurgicos nas costas de uma pessoa de quem muito gosto e prepara-se, não tarda nada, para meter a faca nas costas de outro... Assim, designei-a médica de familia. Tive pena de não andar feito galheteiro com as duas (Cardiologa e Médica de familia) mas, infelizmente, tive de trabalhar... Foram, contudo, umas horas muito bem passadas, e espero, sinceramente, pelo regresso de ambas.

Assim, neste 2 meses, os meus 34 metros quadrados de habitação tiveram a oportunidade de dar abrigo, ainda que a uns de forma mais breve do que a outros, a 14 pessoas! Fantastico! Não me posso esquecer, claro esta, da minha propria cirurgiã, com quem estive anteontem, mas que não chegou a vir ao 223 da rue de St Martin.

Bom, vou terminar de fazer a mala. Tenho o transfer para o aeroporto às 6:35 na Porte Maillot.
Espero, muito sinceramente, continuar a contar com os meus caros leitores, nos 4 meses que me restam por Paris, por forma a continuar ligado a Portugal.

Muito obrigado a todos,
até Portugal (dentro de 11 horas la estarei),
bien à vous,
Fil

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

O Opio...

Caros leitores,
boa noite.

Ontem foi mais um dia de convivio, de reencontro. Paris é, de facto, um "centro nevralgico" e serve de mote para reuniões e congressos. Num desses congressos esta a responsavel por ser, neste momento, um "ser avesiculado", e a quem muito tenho de agradecer pelo simples facto de que me é permitido, neste momento, comer de tudo (géneros alimenticios, claro esta!) sem quaiquer restrições, e sem pensar na crise de vesicula que iria ter dali a umas horas e que me iria incomodar nos restantes 3 dias.
Claro esta que, aproveitando o facto dela ca estar, fomos jantar. Não so a propria e eu, como tambem a sua prima, 2 outros colegas da capital (de Portugal, não de França...), e um colega brasileiro que se encontra, tal como eu, desterrado neste pais por um periodo de 1 ano, mas num outro hospital de Paris, também ele dedicado aos transplantes.
Foi um jantar muito agradavel, num sitio igualmente impecavel, onde se falou de muita coisa com muito boa disposição e humor.
Aproveito a deixa para mais um capitulo do...

"O GUIA DAS ESTRELAS NERY PARA OS MORFES"

RESTAURANTE: La Bastide d'Opio
ENDEREÇO: 9, rue Guisarde
AMBIENTE/ DECORAÇÃO: 4,1 - Espaço relativamente pequeno mas aconchegante, com uma mezzanine. Paredes em tom castanho-alaranjado-pastel, com decoração mais rural, mais provençal, a condizer com as origens do restaurante. Sem cheiro a comida apesar da proximidade da cozinha. Sem sumptuosidades, simples e sobrio.

SERVIÇO PRESTADO/ ATENDIMENTO: 4,4 - Rapidos no acolhimento, rapidos a registar os pedidos e relativamente rapidos a servir, mas tal se prende, julgo eu, com o facto de termos pedido, todos nos, um menu com entrada, prato principal e sobremesa, pelo que o(s) cozinheiro(s) poderia ir adiantando o serviço. Simpaticos e prestaveis. Sem cheiro "sui generis" a francês.

COMIDA: 4,6 - Começo, então, pelo inicio, que é sempre um bom sitio para começar, ja la dizia a Julie Andrews no filme "Musica no coração". O aperitivo, um cocktail de pêssego, estava de facto bom, servido com requinte. A entrada, um ravioli com queijo gratinado. Cheguei a ter vontade que aquele fosse o prato principal, claro esta, com uma quantidade um bocadinho maior. Estava, de facto, bom. O "main dish": magret de canard - estava optimo, mas acho que prefiro o confit de canard, pelo facto de ter menos gordura. Foi acompanhado de batatas assadas, pequeninas, também muito boas. A sobremesa, a preferida da Amélie Poulin: creme brulee aromatizado com laranja... sem comentarios! So não dou a nota maxima de 5 valores, pois acho que, até ao final da minha estadia por ca, ainda hei-de comer emm sitios melhores. Ë mais ou menos a logica dos professores: não darem as melhores notas no 1° periodo...

RELAÇÃO SERVIÇO/ PREÇO: 4 - Julgo que este item, por muito bom que seja o serviço e a comida nunca sera muito bem pontuado porque, no final, deixamos, sempre, "pequenos balurdios" no restaurante. Paguei 44 Euros. Não foi um excesso, mas é quase aquilo que eu ganho num fim-de-semana de trabalho por estas bandas (é melhor nem pensar nisso!).

NOTA FINAL: 4,275 - Nota final muito razoável. Ë um restaurante ao qual provavelmente voltarei, se não em breve, numa proxima visita a Paris, em férias...

Bom, valeu, sobretudo, pelo convivio. Hoje, novo convite para jantar fora, mas o facto é que a dor de cabeça que me foi acompanhando ao longo do dia, virtude de dormir pouco, fez com que ficasse por casa, sob efeito de analgesico, e a escrever umas palavras no nosso "Relier à Paris".
Dentro de 40 horas, estarei no Porto.

Ah! Ja me esquecia! Hoje, a salle de garde merecia um lugar no Guia das estrelas Nery para os morfes. A sala vestida para o Natal, com uma mesa grande à entrada com pequenos petiscos e espumante, e um almoço francamente melhorado, com foie gras (dos figados que ja não prestam), lagosta (!) - 1/2 para cada um, codorniz assada, bolinhos individuais de amendoa, laranja, frutos secos e bombons de todos os sabores, feitios e qualidades de chocolate! Excelente!

Bien à vous,
Fil

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Metro (não o meio de transporte, mas o jornal...)

Meus companheiros (companheiras incluidas, claro esta!) de aventuras e desventuras, boa noite!

O tema escolhido para este post é bem actual, e retrata de forma clara e exemplar como é este povo.
Todos nos ja sabemos que França é um pais de tradições, com impacto a nivel mundial, nomeadamente na sua economia (não fosse ter sido um dos fundadores, inicialmente, do G6, continuando a fazer parte do G7 que é, agora, e apos a integração da Russia, o G8), cultura, artes, ciência e o que mais vos vier à cabeça. Contudo, é também um pais que, talvez imbuido pelo espirito napoleonico de grandeza e egocentrismo, faz os teclados "AZERT" sem acentos adequados a todas as linguas (e ja não falo do chinês, daquelas com origem eslava ou arabe...), não falam outra lingua que não aquela que aprenderam a falar desde o seu berço (é um facto que, apesar de terem 7 anos de Inglês na escola são incapazes, a sua maioria, de construir uma frase adequada), e têm o espirito caricaturado dos alentejanos (do quererem trabalhar pouco). E, para provar esta minha ultima afirmação, passo à noticia não do dia, mas talvez dos 2 ultimos meses em que ca estou: o trabalho dominical.
Esta legislado que os franceses so podem ter o comercio aberto durante 5 domingos por ano. Aqui estä a justificação para ter encontrado o Forum des Halles fechado no domingo em que os gnomos atacaram o meu computador portatil, e saido porta fora rumo à fnac para comprar um novo computador. Estão recordados?
Agora, e apos muito debate entre politicos e sindicalistas, estão prestes a chegar a um acordo, e a fazer desse mesmo acordo lei. Assim, passo-vos a citar um excerto de uma noticia do Jornal Metro (esse mesmo, o que também existe em Portugal, com o mesmo logotipo e tudo!), do dia de hoje:

"Dix dimanches au maximum
Parmi les points d'accord, le premier concerne le passage de cinq à dix du nombre de dimanches par an qu'un maire pourra autoriser à travailler dans sa commune."

Vejam so a loucura: Trabalhar 10 domingos por ano! Um excesso! Deviam legislar qualquer coisa como: "Todo o francês tem o direito a trabalhar o numero de horas que quiser por dia, desde que seja inferior a 4, num total maximo de 20 horas semanais, estando expressamente proibido o trabalho aos sabados, domingos, feriados, vésperas de feriado e dia apos feriado, sob pena de prisão perpétua ou tortura com cocegas na narina esquerda com utilização de pena de ganso."; "Esta lei tem efeito vinculativo a todas os métiers (palavra que muito utilizam)/ profissões, desde pilotos de avião, condutores de todos os transportes publicos, lixeiros, até médicos, inclusive."
Contudo, a lei devera prever excepções à regra, nomeadamente nas regiões de fronteira (caso contrario vão os franceses comprar os caramelos a Espanha) e naquelas com mais de 1 milhão de habitantes (pobres das zonas com 999 999 habitantes...).

Uma outra noticia, muito curta, também me chamou a atenção:

"Carla Bruni a demandé 125000 euros de dommages contre une société qui a diffusé à La Réunion un sac reproduisant une photo où elle posait nue dans le cadre d'une campagne contre le sida."

Ë caso para dizer:
- Estavas a pedi-las!!!
Contudo, julgo que o dinheiro reverterä a favor da casa Yves Saint Laurent, nomeadamente apos deixa-lo la, em troca de um casaco de peles. No final de contas, a senhora deveria estar com frio, toda nua...

NOTA: Apetecia-me muito deixar a fotografia no blogue, até porque é bonita, mas arrisco-me a pagar uma valente coima, que nem os meus mais intimos amigos advogados, de alto renome e conhecidos na praça, seriam capazes de fazer revogar. Deixo-vos um conselho: façam uma pesquisa no google, nas imagens, utilizando as palavras "carla bruni sida campagne", e imaginem que estão numa extensão do relier à Paris.

Bien à vous,
Fil

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

400 METROS!

Pergunto-me eu onde é que as crianças vão buscar a força e a motivação para desempenharem determinada tarefa. Assim, não poderia deixar passar o dia e a oportunidade, para vos dar, neste meio de bytes, cabos de fibra de optica e de "chips" sofisticados, a noticia do dia: o meu sobrinho, ainda com 6 anos, nadou (e sem parar!) 400m, e tem o diploma que o comprova:



Ainda me recordo do dia em que teve o diploma dos 25 metros, dos 50, dos 100 e dos 200. De acordo com a sua progenitora, tera chegado à piscina e dito qualquer coisa como "hoje vou nadar 400m". Meu dito, meu feito! Pois que aquele metro e vinte de gente, cumpriu o seu objectivo em perto de meia hora. Pois, meus caros amigos, pergunto-vos: quantos de vocês conseguem, na realidade, manter-se em actividade natatoria dentro de agua sem pôr o pezinho no chão da piscina? (esta questão é de retorica e, como tal, escusam de responder...)
Claro esta que a irmã do campeão segue-lhe as mesmas pisadas e, ja com 4 anos, teve o seu diploma de 25 metros.

O dia correu de forma "regular", sem novidades. Fui trabalhar, sai do trabalho, vim para casa no metro, não sem antes passar pelo Monoprix para comprar a ceia.

Assim, se não fosse o meu sobrinho, não haveriam novidades e, sem novidades, não haveria blogue. Parabéns ao jovem!

Bien à vous,
Fil

domingo, 14 de dezembro de 2008

Sem titulo 1

Minhas senhoras e meus senhores: VOLTEI!
14 dias de pura companhia, 14 dias de frio, e alguns dias de desespero foi o que preconizou estas minhas 2 ultimas semanas. Mas so a companhia dos amigos tornou o "fardo" do trabalho menos pesado e, assim, os problemas foram sendo "aligeirados"!

Posso, neste momento, contar tanta coisa que nem sei por onde começar. Contudo, é certo que não voltarei a tocar numa so palavra de trabalho, hospital ou de "gentes" do hospital até ao final do post, até porque a jornada laboral continuou durante o fim-de-semana e so terminou hoje, para recomeçar, de novo, amanhã...

Dia 10 de Dezembro foi dia de "saidas" e de "entradas" ca em casa. Saiu o mano e a sua cara-metade, e entrou a homonima da minha sobrinha. Ë impressionante como as pessoas podem trazer cor às nossas vidas, e tal aconteceu, felizmente, com as pessoas que recentemente por ca passaram. Motivam-nos, dão-nos o ombro (ou os dois), obrigam-nos a sair de casa e a levam-nos para a "la movida". Nunca havia conhecido tantos bares em Paris como nestes ultimos dias!
5a feira, juntou-se a nos um outro amigo, que estava em Paris pela 1a vez, e num congresso. Assim, deu "um tiro" ao jantar oficial do mesmo, e veio jantar connosco a um Bistrot simpatico na Bastilha. Foi giro, esteve-se bem, e o jantar estava optimo.
6a feira chegou a outra peça do galheteiro. Com pena minha, e motivado por aquela-coisa-que-eu-disse-que-não-voltaria-a-falar-no-resto-do-post, não as pude acompanhar em toda a sua jornada, mas foi certo que, ao final do dia, o galheteiro estava completo, e pronto para levar à mesa!
Claro esta que, nos ultimos dias, a "hora da caminha" correspondeu, quase, à hora do despertador, pelo que, a tarde de hoje, foi aproveitada para pôr o sono em dia.
Fomos jantar, na 6a feira, a um restaurante Georgiano perto da église de St Eustache. Excelente! Merece referência e uma boa qualificação no Guia das Estrelas Morfes do Nery. Não escreverei hoje sobre o tema, pois não sei o nome do restaurante. Mas mal o saiba...

Hoje à noite, e ja sem a companhia à qual ja estava habituado, resolvi fazer algo que ja estava para fazer ha muito: fotografar Paris, à noite, vestido para a consoada de Natal...


Fotografia 1 - Vista da Torre Eiffel a partir da Place de la Concorde. Neste momento e, atendendo ao frio, esta um bocado cianosada. Pode ser que, vindo o calor, fique com outras cores...


Fotografia 2 - O "Paris eye". Ë uma réplica do "London's eye" e fica, também, na Place de La Concorde, sendo montado de proposito para esta altura do ano.


Fotografia 3 - A Av. des Champs Elysées. Estä linda e, como podem ver, cheia de trânsito. Se tiver tempo, ainda que seja no inicio do proximo ano, voltarei ao mesmo local, mais tarde, para tirar nova fotografia e, se possivel, com menos carros...


Fotografia 4 - Notre-Dame e o seu sapin de Noël.


Fotografia 5 - Casario da margem esquerda do Sena (fotografia tirada na Pont Neuf). Não resisti. Quando olhei para a fotografia vi aquilo que quase me pareceu ser o nosso Porto...

Uma boa semana a todos,
bien à vous,
Fil

PS: Hoje resolvi, e à semelhança dos grandes mestres das artes, dar o titulo ao blogue "Sem titulo 1". Pode ser que venha a ser o 1° de varios...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Sem palavras...

Cheguei a casa, pousei a pasta, liguei o computador, dirigi-me à casa de banho, voltei da mesma, digitei a palavra-passe sobre este teclado construido pelos connards dos franceses, abri o blogue e aqui estou eu para vos dizer:
desesperado, enfadado, desmotivado, cansado, débordé, enfim..., e tudo o mais que me vai na alma e que ja me falta vocabulario português para me expressar devidamente.
Mais um dia se passou e, sobretudo, menos um dia que falta para voltar à minha rotina portuguesa e ao Hospital Sto Antonio.
Meus caros, tirando a hora do almoço e quando me vinham pedir alguma coisa, NÃO VI UM ESPECIALISTA no meu serviço! Hoje, os beaujonenses, os pobres-coitados dos cirroticos, os mal-amados dos doentes que, infelizmente, padecem de maus figados, viram-se a braços com o médico Tuga que vai dando o ar da sua graça. Inadmissivel, incompreensivel, enfim...
Não tenho, de facto, palavras para descrever os meus sentimentos do dia de hoje. Por isso, fico-me por aqui, esperando que amanhã seja um dia melhor.

Bien à vous,
Fil

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Curto... muito curto...



"Après avoir entendu le roi, ils partirent. Et voici, l'étoile qu'ils avaient vue à l'Orient marcha devant eux jusq'à ce qu'arrivée au-dessus du lieu où se trouvait l'enfant, elle s'arrêta. Quand ils aperçurent l'étoile, ils furent saisis d'une grande joie; ils entrèrent dans la maison et trouvèrent l'enfant avec Marie, sa mère. Ils se prosternèrent et l'adorèrent, puis ils ouvrirent leurs trésors et lui offrirent de l'or, de l'encens et de la myrrhe".

Eis um pequeno excerto do Oratorio de Noël de Jean Sébastien Bach que vi anteontem, e que achei por bem aqui colocar pela beleza do gesto. Não do meu, claro esta, mas dos reis magos, ja que personifica o que o Natal, na realidade, deve ser.

As novidades de hoje são praticamente nulas, resultado de mais um dia de trabalho, perfeitamente igual aos outros.

Bien à vous,
Fil

domingo, 7 de dezembro de 2008

4, 5 e 6... Em suma!

Caros leitores, amigos... Escrevo-vos com o barulho da maquina de lavar e com um borburinho espanhol que é dificil de desvendar a uma distância de apenas 7-8 metros, sinal de que estou acompanhado por bons amigos. Os ultimos dias foram dedicados à ciência, ao culto da magia do Natal, ao passeio e à cultura. Como resumir, com a minha ja conhecida falta de capacidade de sintese, as minhas ultimas 72 horas?

Dia 4.12.2008 - 17 horas (environ)
Apos 1 hora e 20 minutos de viagem de avião, eis-me chegado a Hamburgo. Cidade dificil de descrever, dada a escuridão que esta altura do ano teima em trazer a uma hora ainda tão "après-midi", mas engalanada para o Natal, isso é certo, desde a saida do aeroporto até à chegada ao Hotel, no centro da cidade, entre dois dos varios canais que a banham. Decoração de Natal simples e sobria, quase "rigida", a traduzir a alma daquele povo, e que so se mostrou diferente no mercado de Natal que mais adiante vos descreverei. O hotel... que dizer do hotel: 5 estrelas! Desde o quarto (um conforto), passando pelos espaços comuns, o pequeno almoço, o spa... Deste ultimo, aproveitei a piscina, e uns 10 minutos de sauna. Não foi nada mau ja que, não nos podemos esquecer, o objectivo principal da minha ida a Halburgo era: ciência, ciência e ciência!


Imagem 1 - Quarto do Hotel


Imagem 2 - A piscina do Spa

Ainda no 1° dia de Hamburgo, aproveitei a noite para dar um passeio pelo centro, perto do Hotel. Deparei-me, ai, com o mercado de Natal mais bonito que tive alguma vez na minha vida oportunidade de visitar (não que tivesse ido a muitos mercados de Natal...). As luzes, o frio e a neve que caïa, misturada com uma chuva miudinha, os cânticos de Natal e as pessoas que por ali se amontoavam; as varias bancas que não eram mais do que postos de venda de artigos de artesanato, velas, bolas de Natal, goluseimas, e os pequenos bares e tasquinhas (que vendiam os enchidos, o vinho quente e os crepes) completavam o quadro. Comi o melhor crepe de sempre, quentinho, com banana e chocolate. Bem sei que este meu sentimento deve estar sobrevalorizado dado o contexto e o espirito natalicios, mas que soube bem, soube...


Imagem 3 - Mercado de Natal Hamburgo

Dia 5.12.2008
Este dia foi dedicado, quase na sua totalidade, à ciência. Muita palestra sobre figado e investigação de ciência basica. Não foi facil... Muita molecula, muita experiência com ratinhos, muitos modelos animais para investigação, enfim... No final, e com pena minha, com pouca praticabilidade, de momento, no dia-a-dia de quem exerce medicina e não trabalha em laboratorio. Contudo foi, sem duvida, o melhor congresso a que fui em termos de organização (suiça e não alemã). La afixei o meu poster, recebi a bolsa que me deram, aguardei pelas questões (que foram inexistentes) e... pronto! Trabalho concluido.


Imagem 4 - Poster

Contudo, o dia não foi so isto... Ä noite, esperava-me o jantar oficial do congresso. Um jantar volante, com muita gente, mas sem portugueses (alias, dos 4 que supostamente la deviamos estar, so vi 2 e... por pouco tempo!). Assim, cheguei-me a uma mesa, perguntei se podia ficar por la, e rapidamente se seguiu a conversa, e bem agradavel por sinal. O grupo era constituido por italianos e italianas (uma delas a trabalhar em Berna) e um Sirio, cirurgião, que fez os seus estudos em Italia e que trabalha, actualmente no King's college em Londres. Depois do jantar, acabamos por sair do hotel e aproveitar a noite sem chuva para nos passearmos um pouco. Julgando nos que iriamos parar a um sitio com um bocado mais de animação, resolvemos apanhar o metro e sair 5 paragens à frente. Ai, meus caros, é que foi a verdadeira apresentação daquele povo germanico, autoritario e com a mania do poder. Ä saida do metro, estava um cordão policial que nos pediu os bilhetes. Eis a surpresa da noite, dita por um deles, no seu alemão mais perfeito (imaginem as seguintes palavras bem arranhadas, com muitos "Rs" à mistura): "Estes bilhetes não são validos para a viagem que fizeram. Deveriam ter comprado um bilhete de 1.65E e não de 1.35E. Assim, vão ter de pagar uma multa de 15E." COMO?!?!?! Dissemos nos em unissono face a tamanha ideotice! O facto, e passo a explicar, é que os bilhetes do metro so podem ser adquiridos, pelo menos na estação de onde partimos, numa maquina que, gentilmente, nos da a possibilidade de efectuarmos a compra em Ingles, mas num Inglês completamente "arranhado", que é como quem diz, à Alemão! Contudo, não nos explica qual o bilhete que devemos comprar de acordo com a zona para onde vamos, pelo que, como bons sul-europeus, resolvemos comprar o 1° que aparecia no monitor. Estivemos uns bons 10 minutos a discutir com os Alemães, a dizer que nem em Portugal, nem em Italia e, para ficarem com verdadeira pena de nos, nem em Paris, nem em Londres, tal aconteceria, pois as coisas estão devidamente explicadas. Bom, apos termos desperdiçado umas boas palavras germânicas e latinas, la pagamos os 15E, o que significa que o estado arrecadou, naquele curto espaço de tempo, com os estrangeiros, 95E! Nada mau! E ainda nos queixamos de Portugal? Viva nos!

Dia 6.12.2008
Em suma... Congresso, almoço, congresso, taxi, avião, comboio, metro e... Aiii! São 20:30 e é a hora do Oratorio de Noel na Eglise de St Eustache. Gostei muito, apesar do som não ter sido o mehor. Deixo-vos, aqui, 11 segundos de filme.



Amanhã espero escrever mais umas palavras neste meu diario.
Bien à vous, Fil

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Faculdade de Medicina em... Paris!

Caros leitores, como poderia eu deixar de passar um dia tão importante da minha vida como este em que me voltei a tornar estudante?
Pois é, estou oficialmente inscrito na Faculdade de Medicina de Pierre e Marie Curie em Paris. Chique, heim? E, para fazer prova, aqui vos deixo o meu cartão de estudante.



Garanto-vos, meus caros, que vou espremer estes franceses até ao tutano, que é como quem diz, hei-de tirar, deste cartão, a sua total rentabilidade, e visitar museus e aproveitar os descontos a que um estudante tem direito. Mesmo no nosso IRS hei-de aproveitar a deixa, e o meu super-computador, assim como livros e afins que até à data não me eram permitidos incorporar na minha declaração de imposto, hão-de ser declarados e, de alguma forma, reembolsados. Claro que tudo isto é um pouco fantasioso, mas porque não fazermos proveito daquilo que nos pode dar algum lucro? Ao fim e ao cabo, bem feitas as contas, somos sempre nos que ficamos a perder... seja na taxa Euribor (que, apesar de ter descido, e muito, ainda fez com que, este mês, tivesse pago mais qualquer coisa como 40 euros na prestação mensal da minha casa de Portugal), seja nos impostos, nos descontos para a caixa geral de aposentações (sera que o dinheiro que agora desconto me vai valer de alguma coisa no futuro?), ...
Bom, aquilo que interessa é que o problema esta resolvido. Contudo, desengane-se quem pense que o processo foi facil. Alias, se estiveram atentos aos varios "posts" do blogue, tiveram a oportunidade de constatar que o termo "facilidade" nunca foi um termo que estes connards dos franceses gostassem de utilizar. Assim, e apesar de ter os documentos necessarios à efectivação da inscrição, mais um problema se colocou aquando do pagamento da mesma. Uma colega, que se inscreveu ha pouco tempo disse-me que podia pagar com o cartão bacario e eu, fiado nesse facto concreto, e pela facilidade inerente ao acto de "sacar" da carteira o cartão, faze-lo passar pela maquina e assim ter o problema resolvido, achei que seria a melhor forma de pagamento. Eis que, quando se aproximou a hora do pagamento eu, no meu melhor, propus o pagamento com o cartão multibanco desta terra, o que me foi recusado porque... a pessoa que esta autorizada a fazer os pagamentos com cartão bancario não estava a trabalhar (ca nesta terra, quando um francês esta de férias, não ha ninguém capaz de o substituir). Assim, a unica forma de pagamento possivel era mesmo o... cheque! Nem dinheiro "vivo" aceitavam. Contudo, havia deixado os cheques em casa. Assim, a solução passou por ir até ao posto dos correios, fazer uma espécie de vale, e voltar à faculdade para proceder a pagamento e, assim, concluir o processo de inscrição. Por Deus! Em que terra é que uma secretaria onde lidam com "dinheiros" não aceita outra forma de pagamento que não o cheque? E ainda dizem que Portugal é terceiro mundo... Primeiro, meus caros leitores, primeirissimo!!!
Bom, devo-vos informar, também, que nos proximos dias estarei, provavelmente (digo eu), incapacitado para escrever, dada a minha viagem, amanhã, até Hamburgo, onde estarei até sabado, num congresso sobre doenças hepaticas e auto-imunidade. Contudo, e caso o dito hotel o permita, tentarei deixar um ou outro "post" para me exercitar o neuronio e para vos encher a alma.

Bien à vous,
até ao meu regresso,
Fil

domingo, 30 de novembro de 2008

Nas margens do Sena...

Misturado com a brisa fresca que acompanhava a corrente do rio, ouvi os risos de uma criança. Brincava, dava de comer às gaivotas, aos cisnes e às pombas que pairavam sobre a margem. Feliz, num puro acto de filantropia e de comunhão com a natureza, num momento raro de beleza e ternura, numa mescla de regozijo e de medo pela proximidade pouco habitual das aves ao pequeno ser humano. O pai, embevecido, contemplava o filho e, assim, partilhavam de um momento que, com uma grande probabilidade, nem um nem o outro se recordarão de futuro. Imortalizei esse momento num ficheiro de 3264x2448 pixeis que aqui vos deixo.

Bien à vous,
Fil

sábado, 29 de novembro de 2008

O espirito de Natal!

O espirito natalicio chegou, finalmente, a Paris, e atingiu-me em cheio!
Finalmente, e aproveitando a estadia (ainda que breve) de uns amigos, sai à rua, respirei o cheiro da cidade e voltei a cumprimentar Paris. Que beleza de sitio! Não fiz nenhum percurso novo nem conheci, na essência, novos lugares (talvez uma ou outra rua). Saimos de casa, passamos pelo Forum des Halles, seguimos em direcção à Place des Vosges e la nos demoramos um pouco. Prosseguimos em direcção à Ile de St Louis, atravessamos para a margem esquerda do Sena, entramos pelo Quartier Latin, fomos até St. Germain-des-Prés e, finalmente, retornamos a casa.
Agora, estou de novo so, mas de alma cheia.
Paris esta festivo e o rebuliço das pessoas ja faz notar a quadra que se aproxima. A brisa gelada que nos bate na cara também não nos faz esquecer que o Natal esta à porta.
Assim, não vos vou falar da cidade ou dos locais por onde passamos (remeto-vos para posts anteriores) mas sim das decorações de Natal que Paris nos tem para mostrar.

Começo, precisamente, pelo Forum des Halles:



O Forum des Halles, contruido em 1979, mostra-se aos seus visitantes como um conjunto de galerias envidraçadas que circundam um patio no seu interior, e foi construido no local onde antigamente se realizava o mercado de frutas e verduras. La, podemos encontrar quase de tudo: desde géneros alimenticios, no seu supermercado, passando por todo o material informatico e tecnologico (como na fnac e afins), até lojas de roupa e artigos para a casa. Na realidade, é um espaço luminoso pelo facto de ser envidraçado e, no decorrer de todas as galerias, podemos ver a decoração de Natal conforme expresso na fotografia acima. Não aprecio, em particular, a cor que utilizaram, sobretudo, pelo seu excesso.

Contudo, o cor-de-rosa/ fushia/ como lhe quiserem chamar, esta espalhado um pouco por toda a cidade, desde laçarotes em vitrinas de lojas, a bolas penduradas em arvores, enfim... inclusive, na Place des Vosges, também encontrei o mesmo tipo de decoração que no Forum des Halles. Sera a moda?



As proprias montras das lojas tentam mostrar o seu melhor, e cativar, dessa forma, o mero transeunte para uma viagem ao mundo do cartão VISA e, assim, deixar uns euros nos bolsos dos seus proprietarios. Apesar de não terem sido as montras mais bonitas que encontrei, foram aquelas que fotografei, e ambas na Ile de St. Louis. A primeira, uma loja de brinquedos, dos verdadeiros, dos classicos, daqueles que fazem parte da nossa memoria e que nos fazem viajar ao periodo em que tinhamos 7 anos. A segunda, não é mais do que uma montra de uma loja de chocolates. Nem parece...
Aproveito para dizer que, na Ile de St Louis, e conforme ja vos havia dito em posts anteriores, se encontra uma das gelatarias mais conhecidas de Paris - Berthillon. Apesar do frio, comi um gelado de maracuja. Pura polpa...





E, assim, imbuido de espirito natalicio resolvi, então, comprar o meu sapin de Noël. Apos ponderar se queria um pinheiro natural (e os daqui são bem bonitos), ou artifical, acabei, no final, por não comprar nem um nem outro, mas sim uma "espécie" de pinheiro que podera ser facilmente transportado para Portugal e, assim, ajudar a recordar, para o resto dos meus dias (salvo quando as luzes fundirem mas, ai, é outra historia...), o 1/60avos da minha vida que passei nesta cidade.



Deixo-vos, agora, com uma das mais bonitas fotografias que tirei em Paris, sobre a "Pont Notre Dame", com vista para a Ile de la Cité.



Bien à vous,
Fil

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Cartões e dinheiro...



Bonito, não?
Hoje recebi o meu cartão de identificação do hospital. Apesar de ser, na realidade, um pedaço de papel impresso numa impressora banal e inserido num envolucro de plastico, vale como um cartão como o de todos os outros, e da sempre aquele ar de "individuo" totalmente inserido no meio, ao fim e ao cabo, como se fosse mais um dos connards dos franceses. Mas, caros leitores, desenganem-se, pois que, de connard, não tenho nada!
Mais uma boa noticia, e mais uma prova de que afinal este povo é amistoso e que me recebe de braços abertos (não! Não fumei drogas nem consumi cogumelos magicos...): Recebi o meu primeiro salario como médico em França: um acontecimento! Contudo, desenganem-se, mais uma vez, se julgam que foi um ordenado chorudo. Recebi tal e qual, quase ao cêntimo, aquilo que recebo em Portugal de salario base, com a agravante de ter sido... sem subsidio de Natal!
De resto, não tenho mais noticias para vos dar.
Amanha voltarei a ter companhia ca em casa, e assim sera ate meados do mês de Dezembro.
Prometo, em breve, deixar-vos imagens deste Paris "anatalado", ja que conto dedicar-me, no proximo fim de semana, ao passeio, e às fotografias nocturnas desta cidade, assim o tempo o permita. Quero, também, aproveitar para comprar o meu "sapin de Noël": pequenino, às dimensões do apartamento, mas bonito...

Bien à vous,
Fil

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Não ha nada como um dia apos o outro...

Ë verdade, meus amigos: não ha nada como um dia apos o outro. Que o diga S. Pedro que faz com que nuns dias chova e noutros faça sol (ha quem diga que tem a ver com os centros de baixas pressões mas eu não acredito... so podemos justificar a chuva que por vezes é suja, outras vezes acida, outras vezes forte e outras vezes granizo, com a diurese do santo que tem a chave do céu, pois caso contrario vejam: a chuva acida é a infecção urinaria, a chuva forte, é quando tem a bexiga cheia, o granizo é quando expulsa os seus calculos urinarios...).
Digo isto porque, apos dias a lamentar-me e, convenhamos, que com razão, sobre a nuvem negra que pairava sobre a minha cabeça em Beaujon, hoje, as nuvens começaram a dissipar-se e a deixar uma réstia de esperança. De facto, e apos conversa com a Antonella (a senior mais junior), os "trucs" mudaram, pois ela falou directamente com o chefe de ala, referindo o meu desconsolo/ desagrado/ desânimo (enfim, chamem-lhe o que quiserem que, com toda a certeza, sera adequado) face ao meu estagio no Hospital, e o meu actual "mentor" vai delinear uma estratégia de intervenção que, apos ter falado comigo me parece ser, de momento, a mais adequada.
Hoje, recebi, também, o meu diploma e a sua respectiva tradução, pelo que julgo ter, agora, os documentos todos necessarios para voltar à faculdade...
Vamos então ver se, apos um mês de estagio, o jogo mude a meu favor.

Hoje, também, tive a primeira visita no meu domicilio, de Portugal, que não familia. Assim, fui jantar com uma colega de profissão e amiga e a sua cara-metade, à creperie Beaubourg, ao lado do centro Pompidou (no caminho em direcção ao Pompidou, dei comigo a pensar que ja não passava por ali ha quase 15 dias, o que é resultado da minha vida casa-hospital-casa).
Apos o repasto que, saliente-se, me foi oferecido pelo amavel casal (desde ja agradeço, e faço votos para que voltem e, sobretudo, que todos aqueles que me venham visitar tomem esta atitude como modelo, como um bom exemplo, ...), viemos ao meu fantastico apartamento de 34m2. Esteve-se bem, e fez-se a catarse. A partir de Janeiro, verei a Mariana com mais frequência, ja que se ira juntar a mim nesta cidade, também para um estagio, mas não no meu hospital. Enfim... vivemos na verdadeira aldeia global!

Bom, minha boa gente, a inspiração não é muita e o cansaço apodera-se de mim, dando ordens ao cérebro para me enfiar na cama e repousar nos braços de Morfeu. E ainda por cima amanhã tenho de acordar 5 minutos mais cedo para desfazer a barba...

Assim, tiro como conclusões deste meu post:
a) tudo na vida é passageiro, como sejam os maus momentos (o que é bom), ou os bons (o que é mau);
b) que "a arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte" - frase que não é da minha autoria, captada no meu consciente (e subconsciente também, porque não?) por interposta pessoa (ha muitos anos atras): a "mana".Não so é uma frase bonita, como também serve para nos lembrarmos que, para vivermos a vida com gosto e conforme queremos que ela seja vivida, é preciso não so querer, como também fazer por isso!
c) que o melhor da vida são a familia, os amigos, e que os momentos memoraveis que vamos passando são, a maioria, passados com eles. Claro esta que todos temos os nossos momentos introspectivos, de solidão "necessaria", onde nos reafirmamos como pessoa e consolidamos o nosso caracter...
d) que este meu blogue, seja nos meus "posts", seja nos vossos comentarios, ficara para sempre na minha memoria (pensada e escrita) e, seguramente, na vossa também.

Assim,
bien à vous,
o vosso,
Fil

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

De mau humor!

Caros leitores, desculpem.
Desculpem pela escrita quase "hebdomadaire", desculpem pelo mau feitio que as minhas palavras possam expressar nestes proximos minutos de prosa mas, o facto, é que o meu estado de espirito não é, de forma alguma, dos melhores. Este estado de espirito, que me aflige de vez em quando, justifica-se pela conjuntura astral, dado o facto de ser do signo Gémeos. So isso pode justificar a minha alternância do bom e do mau humor. Isso, ou uma psicose maniaco-depressiva. Em todo o caso, julgo preferir a primeira.
Pois o meu estado de espirito não é devido à saudade, ou à "nostalgia" como estes idiotas dos franceses gostam de dizer (é o melhor termo que conseguem arranjar para descrever a palavra e o estado de espirito que é saudade, tão tipico do ser português; não nego, contudo, que me falta, por vezes, a familia, as gentes conhecidas, vocês, o meu carro, o meu hospital, os meus doentes, os meus colegas de trabalho - não imaginam como é agradavel ligar, quando estou a trabalhar no Porto a um outro Serviço para fazer um pedido ou seja la o que for, e ouvir do outro lado "Ah Filipe, és tu! Como estas?!...), não é devido ao tempo invernal que, tão ajustado a esta época do ano ja se faz sentir, não é devido à cidade que, na realidade, não tenho tido a oportunidade para a conhecer, não é devido à apresentação de 6a feira que, alias, correu muito bem.
O facto, é que vim para um centro europeu de referência de doenças hepaticas e, aquilo que constato, é que não são melhores do que nos em nada: são desorganizados (o numero de processos que se perdem, os relatorios que ninguém sabe onde estão, ...), as instalações são mas (com acento) e, além do mais, estou num regime do verdadeiro "desenmerdanço" (esta palavra existe, la tante?)... Dou-vos, como exemplo, o meu ultimo fim-de-semana de "Astreints", em que era suposto ter uma especialista a trabalhar comigo quer no sabado quer no domingo. O facto é que, sabado esteve no hospital das 10:30 as 13 horas, amavelmente deixou-me o seu numero de telemovel, para o caso de eu ter "qualquer problema" e foi-se embora. Não me perguntem onde é que a senhora estava no domingo, pois também não sei, mas enquanto que o escravo trabalhava a ganhar uns miseros 60 euros pelo fim-de-semana total (!?), imagino que sua excelência se encontrasse no vale dos lençois, sabe Deus a fazer o quê. E ainda falam que os médicos em Portugal não trabalham? Juizo!... Pois é, o balanço do meu quase 1° mês de trabalho não é positivo, de forma alguma. O unico momento que se demonstrou verdadeiramente formativo, até à data, foi a apresentação de 6a feira, pois tal obrigou-me a estudar. Ai, na apresentação, estavam la todos, para fazer perguntas... O meu ultimo slide, apresento-vos mais abaixo. Um conjunto de fotografias do meu Sto Antoninho. Diz quem la estava, que eu olhava para aquele slide com um verdadeiro facies de nostalgia. Ai sim, a palavra foi bem aplicada.

Bien à vous,
Fil





PS: apesar disto, e porque "life goes on", fui jantar, sabado à noite, ao Zanzibar. Um restaurante perto da républica, africano, do qual gostei em particular, pelo espaço fisico e pela companhia que foi excelente (uma quantidade de pessoal italiano, amigo da Antonella, a minha colega sénior, mas junior...). Em breve, quando estiver mais bem disposto, deixar-vos-ei as minhas referências para o "guia das estrelas morfes do Nery".
PS2: Também vou, a partir desta semana, e até ao dia 14 de Dezembro, ter gente a visitar-me. Vai ser bom, também, para me obrigar a sair da rotina!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O Metro

O metro é uma lombriga que percorre os intestinos desta cidade a uma velocidade estonteante. Velocidade da maquina em si e dos elementos que a vão parasitando em cada minuto.
No metro entra gente e sai gente. No metro vêem-se pessoas bonitas, pessoas feias, muitas pessoas muito feias e poucas pessoas muito bonitas. Vêem-se brancos, pretos, amarelos, gente que gostava de ter outras cores. Gente com mamas, sem mamas, gente que gostava de as ter e gente que gostaria de ter nascido sem elas. Gente nauseabunda, gente Channel N°5. Gente com écharpe ao pescoço, com a écharpe na cabeça, écharpe à cinta e sem écharpe. Mulheres giras e sofisticadas. Mulheres mal tratadas e mal amadas. Vêem-se crianças de todas as idades, o futuro deste pais. Gente com piercing, gente sem piercing, gente com piercing e com piercing e com piercing... Gente que sai e que entra. Executivos, doutores, vendedores, ladrões, professores, gestores, ladrões, bancarios, logistas, ja vos falei dos ladrões? Gente feliz, contente, gente deprimida, ausente... Gente que acabou de receber a melhor noticia do mundo, gente que acabou de receber a pior noticia da sua vida. Gente que entra e que sai. Uma paragem, duas paragens, três paragens, ... "pardon, pardon, PARDON!" ..., quatro paragens, cinco paragens... Gente que sai e que entra.
E assim vai fucionando o metro, dia apos dia, nas entranhas profundas da cidade, sem ver a luz do dia. A melhor, e a pior das invenções!
Assim é o metro de Paris.

Bien à vous,
Fil

Abaixo: Fotografia de 1945 de Robert Doisneau - Le Métro


quarta-feira, 19 de novembro de 2008

INFORMACAO

Caros leitores,
o gestor deste blogue (vulgo eu proprio), informa vossas excelências de que não estara disponivel para qualquer relato mais ou menos mirabolante desta vida nada pacata de trabalhador parisiense nos proximos 2 dias. Tal, deve-se a uma apresentação no Serviço dentro de "environ" 36 horas e, para a qual, este vosso humilde anfitreão tem de estudar para não fazer ma figura.

Sem mais de momento,
com a mais elevada estima ou, como nos gostamos de dizer, no final de um relatorio médico para um colega, "Je vous prie de croire, Cher Confrère, en l'assurance de mes salutations les meilleures, ..."

Bien à vous, até breve,
Fil

domingo, 16 de novembro de 2008

O fim-de-semana na Bélgica

Bonsoir, mes amis!
Eis-me voltado de um fim-de-semana familiar, a uns 300km de Paris.
A proximidade da cidade-luz de outras regiões de interesse fazem com que, como os franceses também gostam de dizer com regularidade "en fait", as deslocações a outros locais sejam rapidas e, sobretudo, tentadoras...
Assim, fui passar o fim-de-semana até a Bélgica, a residência da minha irmã, onde fiquei perto de 48horas... Ë sempre bom o aconchego do lar familiar. Assim, deu para "matar" saudades (que ainda eram poucas, dado ter estado com esta parte da familia ha cerca de 15 dias), ver um jogo de voleibol da minha irmã, "curtir" a noite de ontem numa festa em prol de Burkina Faso em Passandale, almoçar em familia (tal como se pretende no dia do Senhor) e, finalmente, retornar aquela que é a minha residência actual, por mais 5 meses e meio.
Quanto a festa de ontem a noite, ja estava agendada, e teve lugar no centro paroquial da Vila que supracitei. Curioso foi ver, logo na porta (por cima) da entrada do centro, uma caixa iluminada, com os seus 80x60cm, com duas linhas, a inferior, onde podiamos ler (em flamengo, claro esta!) "Centro Paroquial" e, a de cima, o reclame da Jupiler (a cerveja), tal como a imagem acima. Ë bonito de se ver: um centro paroquial patrocinado por uma marca de cerveja. Imagino as "raves" que por la não se fazem... O facto é que, na festa, todas as bebidas eram gratuitas, o que, como os caros leitores devem imaginar, levou a excessos e, a "paginas tantas", estavamos a admirar as figuras que os participantes de tal acto de altruismo a favor de Burkina Faso, faziam...
Seja como for, foi uma noite muito bem passada, com a irmã, cunhado e amigos de ambos. Pena, no final, o cheiro a tabaco que, inevitavelmente se infiltra nos tecidos das nossas roupas.

Amanha começa uma nova semana de trabalho, para mim, e para todos aqueles que estão no activo. Para todos os outros, desejo uma boa semana de descanso, de fisioterapia, de leitura, de passeio, de cinema, de diversão, enfim: de boa disposição pois, no fim de contas, é aquilo que se leva desta vida!

Bien à vous,
Fil

sábado, 15 de novembro de 2008

A luz ao fundo do túnel!

Caros leitores, bom dia!
Como o tempo passa rápido... Estou há quase 1 mês fora de Portugal e não parece, na realidade, que tenha sido há tanto tempo assim! O facto, é que das 24 semanas que terei de estágio, 2 já passaram, apesar de algumas adversidades que os meus caros têm a oportunidade de ir conhecendo.
Esta última semana, apesar de tudo, foi mais ligeirinha, pelo simples facto de, em França, a 11 de Novembro ser feriado (dia do Armistício). Quanto ao trabalho, começa a ser pautado pela rotina...
Também, nesta última semana, o português esteve bem presente no meu dia-dia, pois não houve um único dia em que a nossa língua-mãe não fosse falada no hospital. Eles são Portugueses, Angolanos, Cabo-verdianos, enfim...
Estes últimos dias também têm sido dias de resolução dos problemas borucráticos (só me falta, basicamente, o certificado de curso e a respectiva tradução certificada, para o processo estar (espero), regularizado). Recebi a minha certidão de nascimento, fui buscar os outros documentos que tinha deixado a traduzir e... abri conta no banco.
Contudo, mais uma vez, deparei-me com dificuldades e com as burocracias do sistema francês. Na 2a feira fui ao banco e estava fechado... na 3a feira foi feriado, na 4a feira, por motivos inerentes ao serviço não pude ir e, na 5a feira, lá consegui sair do hospital por breves instantes após o almoço e ir ao banco. Quando lá cheguei, não havia clientes, mas sim uns 4 ou 5 funcionários ao balcão que, como devem imaginar, estavam todos altamente atarefados. Toda a conversa seguinte foi passada, naturalmente, em francês, mas deixo-a aqui traduzida:
FILIPE: "Bom dia!"
SENHOR DO BANCO: "Bom dia!"
F: "Gostava de abrir uma conta bancária, por favor..."
SDB: "Marcou um rendez-vous?" (Esta palavra, tão tipicamente francesa vou deixá-la, propositadamente assim, conforme o original)
F: "Rendez-vous? Não, não marquei... Mas a que propósito? Vim apenas abrir uma conta."
SDB: "Pois... mas sem rendez-vous não é possível atende-lo, pois não está ninguém disponível!"
(Filipe olha à volta, vê vários funcionários, nenhum cliente e, imbuído de cólera, e num tom elevado de voz, como é característico do povo de Viriato, e a sacudir violentamente o passaporte que tem na mão esquerda)
F: "Não acredito! Os franceses são loucos, este país é inacreditável! Desde que cá cheguei que só tenho tido entraves... São papéis, documentos que não têm cabimento de ser, rendez-vous a torto e a direito, quase que é necessário marcar um rendez-vous com a senhora da padaria para ir comprar uma baguete... Vou voltar para o meu país! Vocês são doidos!"
SDB: "Bom, tenho um rendez-vous marcado com um cliente daqui a 15 minutos... Venha comigo por favor..."
F: (vendo a luz ao fundo do túnel, e entrando no gabinete do SDB) "Peço desculpa, mas desde que cheguei só tenho tido dissabores com o sistema francês..."
SDB: "Pois... é sempre complicado para quem vem de fora..."
(Entretanto, Filipe entrega os documentos necessários - passaporte, certificado de residência, comprovativo do estágio - e olha atentamente para a secretária do SDB: Várias fotografias do SDB de férias na India, Brasil, Portugal, ... e uma placa com a identificação do próprio: GEORGES FERREIRA)
F: (ainda em francês) "Desculpe, mas... é Português?"
SDB: (já em português com sotaque...) "Sou filho de portugueses... e atendi-o porque vi o seu passaporte português na mão, e sei o quão difícil é, para quem chega, integrar-se, ou estar familiarizado com o sistema."
A partir desse momento, tudo correu bem: Já tenho conta no banco, cartão visa, livro de cheque, enfim... Viva Portugal e os nossos emigrantes que por aí andam!

Hoje acordei fantasticamente tarde, acordado por um beijo da princesa Catarina.
Prevê-se uma noite longa, de pura farra!

Bien à vous,
Fil

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

á, é, í, ó, ú!

á, é, í, ó, ú!!!!!
Acento GRAVE!!!!!!
Contudo, tal estado de euforia é apenas do momento pois, apesar de estar a escrever num teclado AZERT, é um teclado AZERT belga... Pois é, caros leitores, a proximidade da cidade-luz com o resto da Europa, fez com que viesse passar o fim-de-semana à Bélgica. Nada como um TGV (e a sua 1a classe... que conforto!) para nos deslocarmos a uma velocidade quase, quase, equiparável à da luz.
Tenho mais algumas histórias para contar, que foram acontecendo ao longo da semana, mas fica para amanhã.
Vou aproveitar o conforto do lar familiar, e desfrutar...

Bien a vous,
Fil

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Portugais?

"Qui est cinglé, lui ou vous? Un fou nous fait la morale... Francisco est fou, parano, schizo, mytho, portugais... Pourtant il ne s'agrafe pas les testicules sur une porte comme Jackass, il ne se crucifie pas sur une croix tel des fanatiques Philippins, il n'écoute pas Grégory Lemarchal... Par contre, il mange des oeufs. Porquoi?"

Este foi o "mote" para ir, ontem, até ao Theatre de la main d'or, na Bastilha. Peça escrita e interpretada por um Português (Francisco E. Cunha), e aconselhada pela "la tante", fazia prever um serão bem passado.
Começo por descrever o espaço. Uma sala grande, multicolor, com cadeiras e mesas todas diferentes e uns sofas feitos de "desperdicios", acolhe os espectadores que vão chegando ao local, antes de começar o espectaculo. Um cheiro entranhado a tabaco, exala dos poros das madeiras, e a luz dos focos não é suficiente para iluminar, de forma uniforme, toda a sala.
Cerca de 20 minutos apos a hora prevista, as portas pretas que dão acesso à sala de espectaculos abriram-se finalmente, e la entramos. Devo dizer, antes de continuar, que ha 2 tipos de espectadores: aqueles que pagam o bilhete à entrada (foi o meu caso, 8€) e aqueles que são denominados "clientes chapéu", que não pagam nada pelo bilhete e que, no final, caso assim o entendam, e de acordo com o seu agrado (ou desagrado) face à prestação do artista, deixam, à saida, o montante que bem entenderem, dentro de um chapéu estrategicamente colocado.
A sala de espectaculos, não sendo grande, permite, bem aconchegadinhos, albergar aquilo que eles dizem, 120 pessoas. Tem uma disposição em anfiteatro, com uma espécie de tabuas a fazer de bancos e umas almofadas vermelhas aveludadas onde podemos sentar o traseiro.
O espectaculo escrito e interpretado pelo nosso amigo tuga não foi propriamente apreciado por este vosso cicerone. Não sei se por estar imbuido (eu proprio) de um espirito lusitano que não o sabia assim tão vincado, mas o facto é que o nosso comediante acabou por fazer uma parodia aos portugueses o que, se fosse em Portugal, até teria a sua piada, mas não em terras de Marie Currie. Achei que a propria palavra "portugais", expressa varias vezes pelos espectadores franceses, foi dita sempre com "ar de deboche". Portanto, quase tudo aquilo que era suposto ter piada (e que se calhar até tinha) não me fez "rigoler". Contudo, a questão "Par contre, il mange des oeufs. Pourquoi?" é uma pergunta que nos faz pensar e, não sendo necessario grande contexto (a não ser que o artista deixou bem claro e aconselhou toda a plateia a fazê-lo, varias vezes por dia, todos os dias do ano...), deixo-a aqui no ar e, dando um ar de interactividade ao blogue, espero pelas respostas dos meus caros leitores, sendo que a resposta da mana não vale, pois ela ja sabe qual é...

Hoje o dia no hospital foi diferente. Começou pela boa disposição matinal com que acordei, o que fez com que o dia fosse pautado pelas minhas "graçolas" multilingues: em Francês, Português, Italiano, Inglês, gestual, enfim... Onde a vossa imaginação vos levar!
Foi diferente, também, pelo facto de ter tido 3 doentes cuja lingua-mãe era o Português, que é como quem diz um par de conterrâneos e um Angolano que, curiosamente, não falava Francês, pelo que servi como intérprete e tudo. Curioso foi, quando um outro doente, de nacionalidade francesa, apercebendo-se que eu era Português, também começou a falar comigo na lingua de Camões. E porquê? Porque foi emigrante durante 8 anos no Brasil...
O dia terminou, com uma das especialistas a dizer que eu me "débrouille" muito bem!

Assim, estou com o meu espirito de português levado ao rubro! Viva Portugal!

Bien a vous,
Fil

PS: Peço desculpa, mais uma vez, pela falta de acentos. Ainda hoje perguntei ao pessoal do hospital se o "clavier AZERT" em França não tem o acento grave, ou o "é" maiusculo, sendo que a resposta, pelo aspecto do meu mail, ja sabem qual foi...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Gnomo morto, gnomo posto!

Caros leitores,
os gnomos, esses pequenos seres de que ja vos tenho falado em "posts" anteriores, assemelham-se a qualquer ser humano no sentido em que ha os maus, os bonzinhos e os muito bons. Infelizmente, tal como os seres humanos, os gnomos maus, quando atacam, destroem tudo aquilo que lhes passa pela frente, ao passo que os seres humanos muito bons, pela sua raridade, pouco se fazem sobressair. Seja como for, e tal como "a mana" disse (e muito bem), ontem, o meu computador portatil que me vem fazendo companhia ja la vao uns bons quase 3 anos, crashou. Claro esta, que a culpa foi do conjunto de gnomos que vieram dentro do cavalo de Troia. Os gnomos bonzinhos ainda tentaram avisar (coitados, são simpaticos, mas pouco podem contra os gnomos maus), lançando caixas de textos sucessivas a dizer que o meu computador estava a ser alvo de um ataque. Contudo, os gnomos bonzinhos, algo lorpas, por sinal (dai o diminutivo), nao me deram uma opção valida, ja que a mensagem assemelhava-se ao seguinte: "o seu computador - são, apesar de tudo, educados, não me tratam por tu, apesar do relacionamento ja duradouro - esta a ser alvo de um ataque de virus troianos. O que pretende fazer? Aconselhamos a reparar o seu ficheiro, contudo, caso o faça, tal atitude pode tornar o computador instavel ou, inclusive, suspender funções (que é como quem diz, crashar!)".
Ora bolas, perante tamanha mensagem que diz, à bom Português "isto esta mau, muito mau e vai continuar mau independentemente do que faça", o que fazer? Assim, a minha 1a atitude e, julgo eu, a mais sensata, foi pegar na minha pendrive de 4Gb e passar todos os documentos importantes para la. Meu dito meu feito! Finda tamanha operaçao, os gnomos maus libertaram-se de dentro do cavalo e, numa luta desigual, acabaram com os bonzinhos, os muito bons e... com a minha conta bancaria!!!
Pois é, meus caros leitores... Não estão, vossas excelências, a imaginar que poderia deixar de escrever as minhas notas quase diarias! Assim, hoje mesmo, dirigi-me à fnac do Forum Les Halles e... comprei um ordinateur que... so fala francês! Neste momento, tenho uns super-gnomos a trabalhar para mim, num fantastico processador Intel Core 2 Duo E8400, com uma "vitesse du processeur" de 3GHz, tudo isto num monitor de 24'' WUXGA (1920x1200) X-black LCD com dupla lâmpada (estou maravilhado!) DDR2 SDRAM de 4Go (2x2 Go)(800MHz), com um disco duro de 500Go (!!!! = colossal!!!), leitor E GRAVADOR Blue-ray, Tv e sei-la-bem-que-mais!
Claro esta que os "cons" destes franceses tinham de AINDA usar um teclado AZERT e... não encontro o acento agudo! O que, naturalmente, é grave! (O acento agudo do "é" é uma excepção, pois ja existe uma tecla com essa funcionalidade!)

Portanto, desculpem-me pela falta de acentos que, em determinados momentos, pode parecer dar outro sentido às palavras e, consequentemente, às frases... Vou-me debruçar um bocadinho mais sobre o assunto, que é como quem diz, sobre o teclado, à procura do dito acento.
Entretanto, deixo-vos com uma fotografia da minha nova maquina.



Assim, desejo felicidades para os meus novos gnomos, na certeza de que, caso algum deles se decida a "armar em esperto" e dar-me cabo da maquineta, nao voltarei a comprar outro computador...

Bien a vous,
Fil

domingo, 9 de novembro de 2008

crash ordinateur stop

Caros leitores stop hoje o computador crashou stop escrevo do telemovel stop parabens pelos 40 anos de vida em conjunto dos pais stop bom s martinho stop bien a vous stop fil fim de mensagem stop

sábado, 8 de novembro de 2008

Apesar de tudo, Paris é sempre Paris!

Caros leitores,
Paris continua a ser Paris, apesar dos "cons" que por cá habitam e das suas borucracias.
Assim, pelo fresco da manhã, e aproveitando uma aberta por entre as núvens, pus-me a caminho de um dos locais por onde passo quase todas as noites à vinda do trabalho: Jardin des fleurs e Église Saint Eustache.
Que beleza de igreja! Neste momento, uma das minhas favoritas e quase, diria eu, A favorita. É de estilo gótico mas, como qualquer igreja de Paris, dado ter levado cerca de 1 século a ser construída, tem uns laivos de renascença. Tem uns pilares e colunas enormes, uma luminosidade extraordinária e um órgão magnífico. Foram lá baptizados o cardeal Richelieu, Molière e Mme de Pompadour, sendo que Luís XIV fez lá a sua primeira comunhão (vou propôr que o meu sobrinho também a faça lá... ele havia de gostar!). Dia 6 de Dezembro há um "Oratorio de Noël", de Bach, com 130 músicos, às 20h30. Chego, nesse dia, de Hamburgo, às 19:20, mas acho que vou arriscar e comprar o bilhete...
O Jardin de Fleurs, que fica imediatamente à frente desta igreja é amplo e bonito, com várias fontes. Fica mesmo ao lado do Forum Les Halles e vale a pena passearmo-nos por lá em dias soalheiros. Acabei por ir andando por essas ruas fora, e fui mesmo ter a St Germain, à Gilbert Jaune. Entretanto vim para casa, introduzi uns dados no computador, fui fazer as compras da semana ao Monoprix, e cá estou eu, de momento, a escrever umas linhas. Deixo-vos com as fotografias da Église Saint Eustache que é, a meu ver, um dos pontos a não perder numa vinda a Paris!

Bien à vous,
Fil

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

ESTES GAULESES SÃO DOIDOS!

As coisas nem sempre correm como gostaríamos. Condição sine qua non que nos acompanha ao longo da vida.
O meu gosto pela hepatologia, como parte integrante da Medicina Interna vem desde há muito tempo. Virtude do grande número de doentes que temos nas urgências, nas consultas, no internamento, virtude do desafio do diagnóstico aquando da sua apresentação como forma aguda e grave que motiva intervenção atempada e que pode culminar no transplante hepático, virtude do gosto especial que temos pelas coisas sem as conseguirmos explicar muito bem (porque é que uns gostam mais do preto e outros do branco?), enfim, virtude do doente ser um todo, e o fígado uma das suas partes constituintes.
Foi este gosto pela hepatologia que me levou, já há mais de um ano, a propor-me a um estágio nesta área da Medicina no meu hospital, dado ser um dos 3 centros em Portugal de referenciação de doentes com doença hepática, pelo simples facto de lá fazermos transplantação de fígado. Nessa altura, e por indicação de uma colega que intervém nesta área, propus-me a fazer esse mesmo estágio num local de referenciação Europeu, que é o Hôpital Beaujon. Vim, então, a Paris, falei com o director de serviço de cá, "acertámos" agulhas, e iniciei o processo para que tal estágio se viesse a concretizar.
Devo-vos dizer que um dos papéis tem 5 (!) assinaturas diferentes, e que as burocracias, ainda em Portugal, foram muitas. É necessário um papel a propormo-nos para fazer o estágio, o papel com as assinaturas de Y + B + Z + X + A..., o papel para a equiparação a bolseiro (que demorou eternidades para ser assinado), o papel que vai para a ordem dos médicos, o papel que segue para o Colégio da especialidade, o papel que vai para o Ministro, enfim... Tudo parecia, no final, bem, para que, após a aprovação do meu estágio e o reconhecimento da sua idoneidade, pudesse vir, em paz e sossego trabalhar para terras de vocês já sabem quem: Carla Bruni-Sarkozy.
Claro está que já imaginava serem necessários outros papéis para apresentar aqui no hospital, apesar de nunca me terem sido formalmente pedidos quer pelo secretariado do Serviço quer pela Instituição em si.
Quando fui à secção de pessoal do Hôpital Beaujon (doravante denominado como HB) foi como uma banhada de água fria (a 1ª), já que me disseram que, para ter equivalência a FFI (qualquer coisa como, traduzindo, "Fazendo Função de Interno), necessitava, e passo a citar, e em Francês que é para ser mais concreto:

PIECES A FOURNIR POUR ETRE FAISANT FONCTION D'INTERNE

1. Lettre de proposition de candidature du chef de service (ok, este ítem está resolvido, porque já a tenho e, graças a Deus, em Francês pois, caso contrário, eram mais 45 Euros para traduzir cada página...);

2. ORIGINAL (e está assim com letras bem gordas) du diplôme de Docteur (chique, heim?!) en médecine et sa traduction par un traducteur assermenté (arranjei um tradutor, que me vai traduzir, para 2ª feira, os 2 documentos originais que trouxe: um deles, é um papel, azul, 25 linhas, da Ordem do Médicos, a dizer como sou "Docteur" e estou inscrito na ordem; o outro, passado pelo Hosp. Sto António, a dizer que concluí o internato geral com aproveitamento - como podem ver, nenhum dos dois é o "diplôme de Docteur" mas, digo eu, se tenho os dois em meu poder, significa que já sou "Docteur", ou será que não? - Seja como for, desembolsei apenas 90 Euros para a sua tradução...)

3. Le passeport et la carte de séjour en cours de validité (tenho as duas, ufa!)

4. Autorisation provisoire de travail en cours de validité pour les étudiants ayant déjà effectué un ou plusieurs de semestres (não tenho nada disto, mas o pessoal da secretaria disse para não me preocupar...)

5. Un extrait du casier judiciaire Nº2 datant de moins de trois mois. (Acho que nas 3 semanas em que estou em Paris ainda não cometi qualquer infracção - grave - à lei... já tenho o papel, mas tenho que o preencher. Seja como for, seria sempre possível requisitá-lo pela net. Ítem à partida com luz verde, apenas dependente de não fazer asneiras nos próximos dias...)

6. Le livret de famile ou un extrait d'acte de naissance (si vous êtes célibataire) (Ora, os franceses têm um hábito incrível, que é o de por, não como as galinhas, ovos, mas sim, em qualquer papel que se peça em qualquer sítio, se somos "célibataire" - palavra feia para "solteiro" e, se não o formos, temos uma quantidade de ítems a preencher, portanto, mais vale continuar "célibataire". Este ponto também já está com luz verde, já que o pai deste escritor se desenvencilhou, em Portugal, para obter o "extrait d'acte de naissance" que, neste momento, deve estar a meio caminho entre Portugal e França).

7. Un curriculum vitae détaillé à partir du début des études médicales (références, attestations de stage, spécialit, exposés titres et travaux) (Como devem imaginar, vai ser um dos meus trabalhos do fim-de-semana - traduzir o meu curriculum... fico na dúvida se devo, ou não introduzir a minha experiência nas artes nocturnas da cidade do Porto, se é que me faço entender...)

8. Un certificat de vaccinations mis à jour (Hépatite B, diphtérie, tétanos, poliomyélite) (Haja Deus e a mãezinha que disse "Meu rico filho, olha que é melhor levares o boletim de vacinas, nunca se sabe..." O que vale é que não mo pedem traduzido pois, caso contrário, a 45 euros a folha, ficar-me-ia um pequeno balúrdio!)

9. La carte d'assuré sociale (disseram para não me preocupar, pois a entidade patronal tratará do assunto. Assim o espero!)

10. Attestation de domicile, contrat de bail (já há! - luz verde!)

11. Un relevé d'indentité Bancaire (ainda não tenho nenhuma conta bancária, mas hei-de ter; julgo não ser o passo limitante...)

12. 4 photos d'identité noires et blaches (já me estou a imaginar, qual Amélie Poulin, a brincar no Photomaton!)

13. Une enveloppe timbrée (tarif normal) à vos noms et adresses (se dependesse de "la tante", já estava cheio de envelopes timbrados, de correio azul, verde, vermelho, das cores que quisessem! Aproveito para deixar aqui uma homenagem a "la tante", por tudo...)

E agora, caros leitores, a VERDADEIRA PALHAÇADA E O PASSO LIMITANTE:

14. La carte d'étudiant en cours de validité faisant ressortir l'UFR et le diplôme (AFS ou AFSA) (bom, neste país, os internos têm de estar inscritos na faculdade... isto é, eu terei de estar inscrito na faculdade, naquilo que estes idiotas chamam de "le troisième cycle"! Barafustei, resmunguei, disse que já era médico, que não era estudante, que essa bela fase da minha vida já tinha passado e que agora, além de médico, também era professor na faculdade - dá sempre outro impacto... - admito que as senhoras da secretaria - que entretanto já eram duas - ficaram um bocadinho incomodadas, pois não sabiam o que dizer!)

Bom, este 14º passo levou-me, hoje, até ao número 15 da Rue de l'école de Medicine, para saber o que tinha de fazer para me inscrever na dita Faculdade de Medicina. Admito que fui mal recebido, e que me passaram um "papelete" - isso mesmo, um "papelete", um pequenino papel, mal amanhado, com uns dizeres em francês e um endereço da internet, para o qual vos remeto: http://www.fmpmc.upmc.fr lá, no site, deverão ir a "Formations" e, depois, "Le troisième cycle". Aí, vêem a variedade de coisas nas quais me posso inscrever mas, aquela que julgo ser a pertinente, é a AFS. Claro está que me pedem outra quantidade enorme de coisas e, no fim... O PAGAMENTO DE UMA PROPINA DE QUATROCENTOS E CINQUENTA E TAL EUROS!!!!!
ESTES GAULESES ESTÃO LOUCOS!!!!
Claro está que devem imaginar o meu espírito, não?! Este sim, é o verdadeiro passo-limitante! Portanto, caros leitores, devo-vos dizer que este humilde companheiro de "quase todos os dias" voltou à escolinha... (ou vai voltar, assim o espero!) Claro está que também espero, com isto, ter benefícios fiscais no próximo ano, e descontos para estudante no acesso aos museus e tudo! Até já estou a pensar tirar o cartão de amigo de Serralves de estudante, vejam só!

Bom, como devem estar a ver, parte do meu fim-de-semana vai ser passado a "curricular". Contudo, além das compras que tenho de fazer para a casa (já não tenho mais mercearia...), quero ver se me vou "promenar" por Paris.

Bien à vous,
Fil

PS: Agradeço os votos de coragem. Mas o facto é que, se já no nosso país as burocracias são o que são, tratar das mesmas coisas num país diferente, numa língua diferente não é, de forma alguma, uma boa maneira de se dar as boas-vindas!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Núvem negra sobre Paris...

Caros leitores, amigos, companheiros desta "aventura", a minha ausência de palavras nos dias anteriores, o meu silêncio, deveu-se, não só, ao cansaço que vai sendo algum (e que serve de justificação para hoje escrever apenas meia dúzia de linhas) como, também, ao meu espírito/ estado de alma que não tem sido dos melhores.
Tal, deve-se a vários factores, tão e somente relacionados com a minha vida no hospital. Não pelas pessoas, que são o que de lá há de melhor, mas com o "sistema" (afinal não é sempre assim?). Com o facto de ter descoberto a necessidade de um bem maior número de papéis do que aqueles que julgava serem necessários para ser um "médico europeu", com o facto de achar, neste momento, que no nosso cantinho à "beira-mar plantado" fazemos as coisas tão ou melhor do que cá, com o facto de existir a franca possibilidade de ter de fazer urgência geral (garanto-vos, meus amigos que, nesse momento, pego nas minhas malinhas e vou fazer as MINHAS URGÊNCIAS, no MEU HOSPITAL), e com outros factos que não me apetece aqui relatar, e que deixo para confidências familiares "skypianas" que servem de catarse ao final do dia.
Desculpem a brevidade da mensagem, e o facto de não vos enviar fotografias bonitas, sítios giros para visitar, factos da vida real engraçados mas, infelizmente, nem tudo nesta vida são rosas, e os momentos piores também fazem parte dela, ajudando-nos a valorizar os bons. Contudo, sempre há-de ter a sua graça, uns meses mais tarde, reler estes meus "laivos" de mau humor.

Bien à vous e, já agora, a moi também (hoje preciso),
Fil

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A Salle de Garde

Bonsoir à tous!

Hoje comi o iogurte não com o cabo do garfo mas com o quê? Com o cabo da faca... que a colega do lado não utilizou. Devo-vos dizer, em primeiro lugar, para experimentarem com um ou com o outro utensílio e, em segundo lugar, que prefiro o garfo à faca: o cabo é mais largo e funciona melhor como "colher". Reparei hoje, também, e na ausência de guardanapo, que o bordo da toalha de mesa funciona como tal!
Bom, hoje o dia foi semelhante ao de ontem, talvez menos confuso. Como é lógico, este não é o local para vos falar de medicina ou do meu trabalho em si, das indicações para biópsia hepática, das complicações inerentes àquele procedimento, das hepatites B, C, das cirroses de etiologia multivariada, etc, etc, etc... Contudo, é o local para vos falar das logísticas e dos "truc" engraçados que vão decorrendo ao longo da minha estadia por terras de Proust.
Assim, hoje, vou-me dedicar à "Salle de Garde".
A "Salle de Garde" é, na realidade, um conjunto de salas que formam, no seu todo, o 2º piso de um edifício satélite, relativamente grande, ao hospital propriamente dito. É lá que funciona a cantina (ou espécie de...) e onde existem várias outras pequenas salas, todas contíguas umas às outras, onde os médicos não fazem mais do que... pura tertúlia! E que bonito é de ver! Hoje pareceu-me, de facto, um regresso à faculdade.
Todos os internos e séniores mais júniores (não sei se me faço entender... sobretudo para os não médicos passo a explicar: há os muito séniores, os séniores, os séniores júniores - aqueles que já são especialistas mas desde há pouco tempo e que trabalham, ao fim e ao cabo, tanto quanto os internos - os internos complementares, aqui em França não há internos gerais, e aquilo a que chamam "externos" que são os alunos; na realidade, esta hierarquia funciona um bocadinho como as prateleiras: quando mais altas, menos úteis...) de todas as salas do Serviço de hepatologia foram almoçar às 13h (incluíndo eu, claro está!). Chegámos mais cedo do que ontem, pelo que ficámos na sala com as mesas em "U", e só tive de bater em meia dúzia de costas...
O almoço foi divertido, e fiquei a conhecer as regras da "Salle de Garde", além da que já vos havia referido relativamente à distribuição da comida, e que se confirma ser mesmo assim. Assim, a partir do momento em que nos sentamos, não nos podemos levantar a não ser no final da refeição (isto é, não há lugar a evacuar águas estagnadas ou resíduos sólidos); não podemos atender telemóveis, apenas o "bip" (quando o "bip" toca podemo-nos levantar para ligar para o número marcado - acho que no Sto António estamos tecnologicamente mais evoluídos, pois já entramos na era das radiações auriculares, vulgo, telemóvel); NÃO É PERMITIDO FALAR DE MEDICINA À MESA! É verdade! Ao contrário do que se passa no meu hospital de origem, que estamos sempre a falar dos doentes, dos serviços ou mal uns dos outros, aqui não há nada disso!
Estas são algumas das regras. As paredes têm verdadeiros "murais" pintados de "arte" afrodisíaco-pornográfica. Tentarei, em dias ulteriores, tirar uma fotografia (sem ninguém dar conta) a tais obras de arte!
Depois do almoço, é hora do café. Assim, um de nós (em regime rotativo), vai buscar cafés de máquina (e à borla!) para todos, enquanto que o resto da trupe se instala confortavelmente nos enúmeros sofás, ou na sala com cadeiras e matrecos. Muito bom! Muito saudável! E o facto é que, passando todos os dias pelo menos 10 horas no hospital, aquela hora do almoço é, garanto-vos, uma hora bem passada.
Hoje tive a oportunidade de conhecer mais 3 "entes" que falam português. Estes, com sotaque, já que são, vejam só, Brasileiros, e também acabadinhos de chegar, para estágios em várias áreas.

Bom, por aqui me fico, vou descansar. Acho que vou deixar a cozinha para arrumar amanhã. Afinal de contas, hoje, não conto com visitas!

Bien à vous,
Fil