domingo, 4 de janeiro de 2009

Se pretender activar o controlo parental, ligue para o 696969!

Como fazer aumentar as audiências da televisão? Ë simples: basta, no dia anterior, publicitar a passagem de um filme, ou série, ou coisa-que-o-valha que fale de sexo ou, pelo menos, de sexualidade... pois bem, o "Relier", hoje, resolveu apresentar uma parte um bocadinho mais picante desta cidade (que sal, vocês ja sabem que tem!). Não, não vos vou falar do theatre Chochotte (em St André des Arts), das montras da Rue St Denis ou dos bordeis de Clichy. Vou-vos falar, novamente, da Salle de Garde!!! Local onde todos os dias da semana vou almoçar, no hospital. Eu, e um grupo perfeitamente restrito de médicos e farmacêuticos, não havendo lugar para mais nenhum "grupo operario" do hospital. Segregacionista, não?
Ja vos falei dos rituais diarios das pancadinhas nas costas, do facto de não se poder falar outra lingua que não o francês, de não se poder atender os telemoveis à mesa, de não haver guardanapos (a consequência é ter de limpar os "beiços" à toalha de mesa), ou colher de sobremesa (o que implica comer o iogurte com o cabo do garfo - ja tentei comer com o cabo da faca mas é mais estreito, pelo que menor quantidade de iogurte acomoda, pelo que se demora mais tempo a comer e, consequentemente, a fazer a figura triste que é a de comer o iogurte com o cabo de qualquer coisa que não o talher devidamente inventado para desempenhar tamanha função).
Contudo, e apesar disto tudo, a Salle de Garde do Hôpital de Beaujon é tida como aquela em que melhor se come. Não tendo eu outra Salle de Garde para comparar, posso-vos assegurar que a comida é de facto bem confeccionada, o que faz com que seja, normalmente, a minha melhor e mais completa refeição do dia (à noite, ja em casa, fico-me por crepes pré-confeccionados, com queijo e fiambre, aquecidos no micro-ondas e uma fabulosa sopa Royco, por exemplo "Velouté de Légumes", que so demora um minuto e meio a fazer, e que tem as proteinas, glucidos, lipidos, fibras, sodio e vitamina C adequados às minhas actuais necessidades).

Agora, a parte picante... Crianças, desliguem o computador... Pais activem o controlo parental!

A Salle de Garde, no passado (aparentemente ja não se faz, pelo menos com a assiduidade adequada que permita o meu visionamento e participação, in loco, durante a minha estadia de 6 meses), foi alvo de inumeras festas, reuniões de afabilidade e troca de carinhos, enfim, quase (ou mesmo!) puras orgias (ou como diria um concorrente do Big Brother que ja não me recordo o nome, "orgias", mas com acento que este computador não me permite por)!
Claro esta que essas manifestações de carinho e partilha eram fomentadas, incendiadas, aumentadas ou qualquer outro adjectivo que implique "aumento de", pelos proprios murais pintados nas varias paredes da Salle de Garde.

São estes murais que vos passo a mostrar, ja de seguida, e que convivem comigo diariamente naquele hospital...



Este primeiro mural retrata, como os meus caros leitores podem observar, a ultima ceia, talvez aquela que ocorreu antes da ultima manifestação de luxuria na Salle de Garde, ou da ultima intoxicação alimentar... Reparem como Leonardo da Vinci tinha razão ao pintar, à direita de Cristo (no seu quadro original), uma mulher... Reparem, também, na manifestação de voloptuosidade que a mulher que esta a direita da imagem demonstra, ao oferecer os seus seios ao senhor que esta ao seu lado esquerdo. Reparem nas manifestações falicas que vão havendo em toda a composição. Todas as faces são representativas de alguma figura conhecida daquele hospital.



Este segundo mural é, julgo eu, uma homenagem ao asterix e obélix e aos festins que realizavam no final das suas aventuras, naquela pequenina aldeia resistente, na Galia, ou não fosse ser, o javali, o repasto preferido daquela população (que eu saiba, nunca me foi servido tal bicho nestes 2 meses e qualquer coisa). Esta composição é, apesar de tudo, um bocado mais explicita do que a anterior, no sentido em que o seu autor despiu os seus protagonistas das suas vestes...



Este fresco é, sem duvida, o mais "avant garde" de todos eles. Não comento posições, posturas, ou ordem natural das coisas.

E assim é, meus caros, a Salle de Garde de Beaujon.

Agora, vou almoçar à Place des Vosges e, a seguir, dar uma volta pelas exposições do Pompidou, aproveitando o facto de hoje ser o primeiro domingo do mês e, como tal, ser gratuito. Não usufruirei da companhia da prima e pai que partiram hoje cedo, muito cedo... Mas sim da mãe, que ainda fica ca mais uns dias, e da amiga que se resolveu aventurar 6 meses em Paris, num outro hospital, numa outra area, numa outra Salle de Garde...

Bien à vous,
Fil

4 comentários:

Anónimo disse...

Muito hedonistas! Os teus confrères não são nem hipócritas, nem descuram os prazeres
da(s) carne(s)! Gostava de ver essa mistura de profano e religioso por estas bandas... Já tinha sido notícia, de certeza, em todos os canais TV, e não só! Que não te fiques pela teoria, nem pela observação...
Sortudo, sempre acompanhado!
Gros bisou et à bientôt.

RuiM disse...

Concordo! Que não te fiques pela teoria, nem pela observação: começa hoje mesmo a pintar paredes! Não podes dizer que não tens jeito para pintar frescos até tentares. Força aí nessa mão!!!

Abraço

Anónimo disse...

Mesmo com falta de apetite, depois de uma manhã de intenso trabalho hospitalar, o 'decor' bem que os abre todos !!!
Esperamos com surpresa, admirar mais um dos teus dotes artísticos e aguardemos pelas ilustrações, quem sabe em que suporte???!!!

Mil beijos em ti (já da merdaleja)
E

Anónimo disse...

Fiquei chocada!!!!