quinta-feira, 30 de abril de 2009

Adeus... E obrigado Paris!

30 de Abril de 2009

Querido "Relier",

E assim termina mais um capítulo da minha vida, sentado, a escrever sobre a mesa da cozinha do apartamento vazio, mas cheio de histórias e de memórias. Aqui, na "Passage de l'ancre", ancorei a minha vida durante 6 meses. E, comigo, muita gente passou por este porto que, em Paris, contudo, sempre foi um "porto seguro".

Algumas das histórias deixei-as aqui escritas, nas tuas folhas, outras, guardo-as na memória e levo-as comigo.
Foste um ombro amigo quando precisei. Um escape de emoções, uma forma de me exprimir. Quando releio as tuas páginas, sorrio. Constato, mais uma vez, que a minha bipolaridade deixou de ser ficção. É um dado adquirido. Só assim se consegue explicar as minhas flutuações de humor. Contudo, e julgo que concordas comigo que, na maior parte das vezes tive razão.

As dificuldades burocráticas, e a barreira da língua foram, sem dúvida, o grande obstáculo. Não obstante, consegui ultrapassá-las. As pessoas do hospital pareciam camaleões. Não por mudarem de cor constantemente, mas por mudarem a sua forma de estar e de ser, em acordo com as suas necessidades. Julgo não ter sentido na pele a xenofobia e o racismo, mas senti-os à minha volta. Senti a necessidade imperiosa de afirmação dos franceses face ao "ser-se francês". Contudo, pessoalmente, não me posso queixar do acolhimento e da "simpatia" (e reforço, aqui, as aspas) que mostraram ter para comigo. O facto é que trabalhei muito e... bem. Caso contrário, não teria tido as palavras de reforço francamente positivas por parte do director.

Deixando o hospital de lado, o que me segurou, verdadeiramente, em Paris, foi a família e os amigos. Sem eles, não teria sido possível. Voltarei domingo para o meu "porto seguro", para junto dos meus, e são eles, meu caro "Relier", que fazem com que tudo valha a pena.
Lembro-me dos primeiros dias em Paris passados com a minha mãe. São inesquecíveis. Foi um relembrar, por parte dela dos tempos que por aqui também viveu, e foi, para mim, uma forma de me sentir acolhido e aconchegado nesta cidade.
Seguiu-se o acampamento de ciganos, com a minha irmã, cunhado e sobrinhos. Foi a festa. Uma alegria. Ainda me lembro do meu sobrinho a dizer que "afinal a Torre Eiffel não é assim tão grande", num dia invernoso, de chuva, e da minha sobrinha, a chorar, com os pés molhados e frios.
Não vou continuar, aqui, a descrever-te todas as visitas que tive. Todas elas foram importantes e ajudaram-me, não só, a passar melhor o tempo, a fazer com que ele passasse mais rápido como, também, a conhecer melhor Paris. Cada um deles apresentou-me um pormenor diferente da cidade, conduziu-me a um restaurante novo, ou mostrou-me um novo monumento.
Assim, agradeço, e deixo-te, aqui, o nome de todos aqueles que mostraram o seu amor e amizade por mim, num sentimento perfeitamente recíproco, com os seus nomes não encriptados, pois que, neste final do 1/60 da minha vida, todos eles merecem ser reconhecidos pela sua verdadeira identidade:

Mãe (Maria do Carmo), Pai (Pedro Nery), Mana (Márcia), Cunhado (Filip), Sobrinho (Ricardo), Sobrinha (Catarina), Mano (Rui), Sua cara-metade (Elena), Neurocirurgiã de família (Elsa), Dra Cardiológa (Catarina), Prima Nice/ Lamivudina (Eunice), La tante (Mª Fernanda Gayo), Prima Rachel (Raquel), Afilhado (João), Minha advogada/Cris (Cristina), Tatiana, Paulo, Alexandra, Sandra Xará, Tio Alfredo, Tia Nela, Pedro Vita, Susana, Inês, Primo/Tio Xico, Dra. Brandoa (Mariana), Claudia e Peter Pan (Pedro).

Não te poderia deixar de dizer, contudo que tu, meu caro "Relier", nunca estarias completo sem os inúmeros comentários que te foram acrescentando, pelo que agradeço a todas essas pessoas, muitas das quais já supracitadas, o seu carinho e acompanhamento que me foram fazendo ao longo destes 6 meses.

Bom, está na hora de partir, com um certo aperto no coração, e os sentimentos à flor da pele. Vou levar a última mala para casa da Inês e, de seguida, vou ao hospital, nem sei bem porquê... Estava com vontade de aproveitar estas últimas horas em Paris, e de muito sol, para me passear, tal e qual um "faneur", por estas ruas e vielas.

Está na hora de te dizer um último adeus.

Pego na mala, olho à minha volta, dirigo-me à porta da rua, saio, olho mais uma vez e... bato a porta.

Obrigado!

Pequena reportagem fotográfica.


A cozinha da "Passage de L'ancre", nº4, 2º andar. Pequena, luminosa, e aconchegante, apesar de não muito funcional. Tem quase tudo o que é necessário. A mãe e La tante fizeram, aqui, esplendorosas refeições. Foram cozinhadas, neste espaço, muitas sopas instantâneas, e muitos crepes com queijo e fiambre. Cheguei, contudo, a fazer repastos bem mais elaborados, com direito à minha primeira mousse de chocolate, à minha primeira açorda de marisco, enfim... Nunca feito de propósito para mim, mas sim e, com muito gosto, para todos aqueles que me visitaram e que fizeram parte deste meu relier a Paris.



Numa última tentativa de captar e absorver Paris, Paris ofereceu-me esta imagem ao fim da tarde. Não é um pôr-do-sol dos nossos, no mar, mas também não está nada mal...



O passeio nocturno levou-me até ao Louvre e Jardin des Tuileries, onde se encontra este arco. A lua ajuda a completar o cenário.



Depois, foi somente voltar a máquina para o lado oposto e "guardar" uma pequena porção do grande museu do Louvre nuns milhões de megapíxeis.



Finalmente, o Budha Bar, na Concórdia. Ponto memorável para a entrada nos 28 anos da Dra Brandoa. Parabéns!

Até já,
bien à vous,
Fil

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A reunião com o director

Não diria a minha mãe, com toda a certeza, há 30 anos e 11 meses atrás, que o seu filho recém nascido estaria, após todo este tempo, prestes a terminar um super estágio de hepatologia num dos hospitais mais conceituados da Europa na área. Como podem ver ou, melhor, ler, o meu animo é outro, e até já deixo de encontrar defeitos em tudo aquilo que me rodeia no hospital onde tenho andado a "dar o corpinho ao manifesto" nestes últimos 6 meses.

Hoje, resolvi marcar um "rendez-vous" com o meu actual e ainda director de Serviço, reunião essa que demorou, nada mais, nada menos, do que uma hora exacta. O objectivo daquela que eu supunha ser uma "mini-reunião" era, precisamente, o de pedir uma carta de recomendações ou, melhor, uma carta de final de estágio, com a apreciação do director.
Mal entrei no seu gabinete (de fazer inveja a qualquer director de Serviço do meu hospital, tal é o tamanho e... a organização, pelo menos, aparente), cumprimentou-me afavelmente, e ofereceu-me um café. Confesso que devo ter hesitado 2 ou 3 segundos, até porque não me apetecia propriamente tomar café, mas aceitei, pela beleza do gesto.
A conversa começou, precisamente, comigo, a fazer o "bilan" do meu estágio, e a responder à pergunta por ele colocada, se os meus objectivos do estágio tinham sido cumpridos. A conversa continuou, com outra questão, sobre o que eu julgava sobre o funcionamento dos serviços por onde passei. Finalmente chegámos à parte da sua avaliação, e ao meu pedido (objectivo final da reunião) da carta de apreciação. O Prof. D. Valla é, de facto, uma pessoa extremamente válida, como ser humano e como "cientista" e, sem dúvida, só tenho pena de não ter tido mais contacto com ele durante este meu período por Paris.

Paris tem mais duas super-médicas, recém chegadas, e cheias de vontade de trabalhar. São elas a Dra Jnes e a Dra Su. A primeira teve, ainda hoje, o seu primeiro contacto com a realidade Beaujonense. E... podia ter sido melhor! Contudo, deve estar altamente influenciada pela minha pessoa (atendendo a que não tenho tomado os comprimidos da manhã, metade das coisas que digo não devem ser levadas a sério...). A segunda (Dra Su), prepara-se, amanhã, para a sua apresentação, física, no Hospital. Não em Beaujon, mas num outro, para um estágio de 3 meses de genética (no âmbito do seu internato em pediatria).
Vieram as duas e a Dra Brandoa jantar cá em casa, um excelente empadão de atum (até eu fiquei admirado com o resultado final!), acompanhado de um Bordeaux trazido pelas meninas, e rematado com uma deliciosa tarte mil frutas (traduzido literalmente do francês) da pastelaria do Monoprix. Que bem que se esteve!

Bom, vou dormir. Estou já na cama, cheio de sono, e com os olhos a fechar. Contudo, tinha de escrever, ainda hoje, umas palavras no Relier.

Bien à vous,
Fil

domingo, 26 de abril de 2009

Querido diário...

26 de Abril de 2009

Caro Relier,

Faltam apenas 4 dias para acabar aquilo que me propus fazer em Paris: o meu estágio de hepatologia. Contudo, não te vou falar, hoje, sobre esse tema. Este intróito no meu diário de hoje tinha como único objectivo, o de dizer que, dentro de 4 dias escreverei, nestas tuas folhas, o meu último diário, e te fecharei à chave para sempre.

O dia de ontem começou cedo, no hospital. Após o almoço, já em casa, e no meu registo habitual do pão com queijo e fiambre como refeição, resolvi deitar "mãos à obra", e começar a limpar os cantos com 6 meses de pó acumulado. Tarefa árdua e, sobretudo, difícil. É nestas alturas que agradeço a brilhante ideia que tive, há cerca de 1 ano atrás, de ter arranjado alguém para me limpar a casa. Pura e simplesmente não fui talhado para isto. Comecei pela casa-de-banho. Apesar do seu metro quadrado de área útil, ainda perdi uma boa meia-hora para tirar meia dúzia de germes que frequentavam esta divisão da casa. Digo-te uma meia dúzia de germes porque, apesar de tudo, sou um ente limpinho e, como tal, nunca deixei que aquela população de bichos pequenos e invisíveis proliferassem de maneira compulsiva.
Colo, nesta página, duas fotografias que concernem esta área da casa. Assim, ficas, pelo menos, com a noção do tamanho (pequeno), da funcionalidade (grande) e do "décor" (simples e bonito) da casa-de-banho.






Passei, de seguida, à limpeza do quarto. Meu Deus! Tanto pó! E tenho, acima de tudo, a teoria, baseada no convívio diário com os ácaros franceses, que o pó, em França, é francamente "pior" do que em Portugal. Por um lado, é constituído de micropartículas, que mais parecem farinha cinzenta. Por outro lado, julgo que, tal como as teorias anciãs que pretendiam justificar o início da vida (não a da sopa primitiva de Oparin e Haldane) com a geração espontânea, o pó, na minha casa, nasce vindo do nada. Não vou recortar aqui nenhuma fotografia do quarto, pois já a colei numa das páginas anteriores.

Cheguei, finalmente, à sala. Aspirei, limpei o pó e, finalmente, pu-la na disposição tal e qual a encontrei quando cheguei cá a casa pela primeira vez no dia 20 de Outubro. Mostro-te, então, as fotografias que tirei, que já imprimi na impressora, que recortei e que as vou aqui colar neste preciso momento.








As minhas lides domésticas, ontem, ficaram por aqui, pelo que deixarei a cozinha para um outro dia (próximo, é certo).

A Dra Brandoa chegou cá a casa cerca das 19 horas. Foi a minha companhia para o resto do fim-de-semana.
Saímos no imediato para jantar, precisamente onde, dias antes, já tinha estado. O restaurante Julien. Este restaurante fica mesmo perto das grandes boulevards, por trás da porte de Saint-Denis. Trata-se de um restaurante da Belle époque, onde se respiram os ares do século passado, num estilo de arte nova. Verdadeiramente belo. Comemos muito bem, uma entrada de arenque fumado, um prato principal constituído por 3 tipos de peixes diferentes e uma sobremesa leve, muito francesa.
Saímos do restaurante e voltámos a casa só, e apenas, para uma mudança de traje, por parte da amiga Brandoa, para a segunda parte da noite. Fomos a pé pela Rue du Rivoli fora, até chegarmos à praça da Concórdia, directos ao famoso Budha bar. Este bar-restaurante é um dos mais conhecidos de Paris e, realmente, foi uma verdadeira ideotice não ter ido lá mais cedo. Tem um estilo asiático, com música lounge. No andar de baixo, as mesas onde as pessoas jantam. No andar de cima, que não é mais do que uma mezzanine, o local onde se conversa e se "bebe um copo". Bebi um "Sun bay @ Miami", muito pouco alcoólico, e com uma mistura de sabores exóticos. Foi servido num copo de 20cl e custou a módica quantia de 17 euros... Julgo, meu caro "Relier", que vou achar tudo muito barato quando chegar ao Porto.

O dia de hoje começou cedo. Não, não fui trabalhar nem, tão pouco, pus o despertador a tocar. A claridade, que já tantas vezes te falei, estimula a minha produção endógena de cortisol, e faz-me acordar. Assim, aproveitei e fui comprar os elementos que me faltavam para o meu último pequeno almoço de domingo.
Saí do prédio, calcorreei as pedras do caminho até à porta de saída da passagem, virei à direita e desci a Rue St Martin. O dia acordou meio cinzento. Não chovia (nem choveu após), mas as ruas estavam molhadas. Fui respirando fundo pelo caminho fora, como se quisesse sentir e guardar os cheiros desta cidade, mas sem grande sucesso. Ora porque já não me lembro dos cheiros, ora porque, dada a hora, ainda não haviam os odores que lhe são característicos, e que são uma mescla de pão, de pó, de suor e de Channel número 5. Pouca gente havia na rua e, aqueles que se faziam passear, transportavam uma baguete debaixo do braço. Cheguei, finalmente, à padaria. Pedi uma baguete, dois pães com chocolate e duas tartes de maçã. Cheguei a casa, e tomámos o pequeno almoço que nem reis!

Depois, bem... Depois, foi altura de nos passearmos. Fomos para os lados de Marrais, e, como não poderia deixar de ser, da Place des Vosges. Está bem diferente, quando comparada com a última vez que lá estive, despida e fria. Está verde, e bem-disposta. As pessoas passeiam pela praça, as crianças correm e os pombos fazem a corte, com o melhor dos seus fatos, às suas respectivas... pombas!
Vou-te deixar aqui, também, algumas das fotografias que fui tirando ao longo da tarde e, como uma imagem vale mais do que mil palavras, por aqui me fico.











Bien à toi,
Fil

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Um cheirinho de México, em Paris!

O extase de que falei ontem, deu lugar, hoje, ao cansaço. Por vezes acontece, e é directamente proporcional ao número de horas que se trabalha, e ao tempo que se passa no hospital. Hoje cheguei a casa ainda mais tarde do que o habitual.

Não vou ocupar muito do vosso tempo, nem fazer gastar muita tinta à impressora da minha prima. Hoje tenho um objectivo bem concreto, e vou directamente ao assunto:
SALLE DE GARDE, O ALMOÇO MEXICANO!

Ontem foi um dia diferente na Salle de Garde (não, não puseram colher para comer o iogurte), e resolveram fazer um almoço mexicano. Duvido, contudo, que tudo aquilo que lá comi, ontem, fosse típico do México, mas que lá que era bem condimentado, era...

Mal lá chegámos, e no corredor que dá acesso à sala maior, e onde costuma estar o "cobrador" das refeições, deparámo-nos com uma grande mesa com uma série de entradas, salgados, sumos, vinhos e espumantes. Servimo-nos dos aperitivos e por ali ficámos uns 5 minutos.




Seguimos para a sala e sentámo-nos. Estranhamente, e apesar de já passar um quarto de hora das 13 horas, fomos os primeiros a lá chegar e a tomar o lugar. Começaram, então, a servir as entradas: uma salada (com molho francês) e uns crepes com uma massa mais dura do que a habitual, com camarão e um molho picante. No momento em que comíamos, chegaram 3 verdadeiros mexicanos, trajados a rigor, e começaram a cantar músicas da sua terra. A boa disposição, que já existia ainda antes da sua chegada, melhorou ainda mais, e o almoço foi uma animação.





O prato principal voltou a ser uma espécie de crepe mas, desta feita, maior ainda, com carne e... um molho picante!
A sobremesa foi, também ela, diferente da do habitual: umas rodelas de ananás, fritas, que pareciam uns donuts, e umas taças com gelado de caramelo, molho "do mesmo" e chantilly. Muito bom.
Acabámos o almoço com um café e todos bem dispostos para a demi-journée que ainda estava para vir.

Francamente, gostei! Só é pena não fazerem mais vezes isto. Na realidade, e desde que lá estou, terá sido a segunda vez que serviram uma refeição totalmente diferente da do habitual. A outra, foi no Natal, quando serviram lagosta...

Amanhã é dia de trabalho e, depois, fim-de-semana de repouso, o último em Paris desta minha "aventura", e onde irei tentar desfrutar do mau tempo que se prevê fazer sentir, para visitar as exposições que já estavam programadas para o fim-de-semana anterior.

Entretanto, La tante, já está a fazer o caminho de regresso ao nosso Portugal. E eu... estou quase!

Bien à vous,
Fil

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Alguns tópicos de hoje para melhor serem explorados amanhã...

Caros amigos (permitam-me esta proximidade que o tempo de longevidade deste meu "Relier" assim o permite), acabei de chegar a casa de mais um dia com um misto de trabalho e lazer.

Não vos vou fazer uma descrição integral da minha jornada, pois o adiantado da hora assim não o permite. Vou apenas deixar, aqui, uns pequenos pontos para memória futura, e que espero que ainda venham a servir de mote para mais uns "posts".

O dia de trabalho foi em tudo igual aos outros, com as mesmas rotinas e a mesma solidão no tomar de atitudes, à qual já me habituei, e à ausência da qual vou estranhar quando voltar ao meu hospital, no Porto, já dentro de uma semana. Aqui em Beaujon faço tudo o que julgo que devo fazer e, neste momento, sem qualquer vigilância ou presença, seja ela física ou espiritual, de alguém hierarquicamente superior (e lá foi mais um chocolote "Palets d'or" da Bernachon pela guela abaixo). Seja em atitudes pura e simplesmente médicas, ou mais técnicas, como meter catéteres centrais, entubar doentes, colocar drenos torácicos, fazer biópsias, punções lombares, enfim... Seja como for, estou em estado de extase desde que vim do meu fim-de-semana de Páscoa, do Porto, e com uns dias que se têm passado rápido.

A meio da jornada de hoje, que é como quem diz, à hora do almoço, tive (assim como os outros colegas com quem fui almoçar) uma surpresa na Salle de Garde. Deixarei este tema para mais tarde, já que tirei algumas fotografias que merecem o respectivo comentário e uma descrição daquele que foi o almoço melhor, em termos de boa disposição, que alguma vez tive, na Salle de Garde.

O dia terminou com um jantar. La tante vai embora amanhã e, como não poderia deixar de ser, fomos jantar fora, a um restaurante muito giro, que também irei referir mais tarde. Cheguei agora a casa, após uma "soirée" muito bem passada!
Entretanto, já estou sem mais uma mala e a árvore de Natal, além do meu super-computador que já foi "descpachado" há mais tempo.

Por aqui me fico que já é tarde e amanhã é dia de trabalho.

Bien à vous,
Fil

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O post número 100, no meu 6º mesário em Paris!!!

Longe de mim imaginar, há qualquer coisa como 6 meses atrás, que hoje, precisamente na data do meu 6º mesário em Paris, estaria a escrever-vos o post número 100 do "Relier"?!

Pois bem, utilizo a data para, finalmente, vos dar a conhecer, numa série de episódios, o meu palacete de 34 metros quadrados, de que já muito vos tenho falado.
Situa-se bem no centro da cidade, no 3ème arrondissement, muito perto do 4ème. Na realidade, basta atravessar a rua. Sabe, quem já cá esteve, e quem esteve atento ao "Relier" desde o início, que se situa na Passage de l'ancre, que comunica com a Rue de Turbigo nº30 e a Rue de St Martin nº223. Marcando os códigos respectivos da porta da passagem e do "batiment", subindo até ao segundo andar por umas escadas velhas, em madeira, pintadas nos lados de azul cobalto, e das quais se projectam umas varas de ferro pintado a cinza rato para um corrimão, também ele, em madeira, dão, no imediato, com a porta do meu apartamento.
Não, não vou começar pelo início mas sim, como fiz tudo ao contrário, deixarei a entrada da casa para o último dia, fechando a porta e, assim, o "Relier".
Portanto, começo por vos falar do quarto, esse mesmo, o que fica na ala oeste da casa.

O quarto é espaçoso, com a parede de fundo pintada de um lilás repousante (já estava assim pintado quando cá cheguei, não tenho culpa...). A servir de cabeceira da cama, uma projecção da parede, em pladour, que serve, também, como mesinha de cabeceira. Neste momento tem os elementos que tinha no início, quando cá cheguei (livros sobre a cidade de Paris, dicionários inglês-francês-inglês, e dois candeeiros Ikea - sendo que cada um deles já teve de levar lâmpadas novas desde que cá estou) e, ainda, umas fotografias da família que trouxe de Portugal para "matar saudades". A cama, essa, também ela, com toda a certeza, da marca sueca, confortável, que o diga quem por já cá dormiu. Do lado direito, uma porta: a casa de banho. Do lado esquerdo, duas janelas que teimam em deixar entrar a luz bem cedo, pela manhã, sinal de que o Verão está aí a chegar e que o sol sucede à lua todos os dias. O pormenor do tecto irão vê-lo quando vos apresentar a sala, mas vos adianto que, além do pladour, fazem parte do décor, umas traves de madeira, completamente toscas e todas perfuradas como se tivesse tido uma praga de térmitas no passado.
Foi neste quarto que tive o meu super-computador (aquele que tinha um super-gnomos), e foi ele que me serviu de janela para o resto do mundo, nomeadamente para Portugal, atendendo às inúmeras chamadas, diárias, feitas pelo Skype.

Deixo-vos, então, com uma fotografia do quarto.



Hoje o dia foi sendo bem passado, sem intercorrências em particular. Continuo dono e senhor dos intensivos, sendo que tenho que aguentar com todo o trabalho e todos os doentes, dado que a outra interna foi de férias. Nâo é exagero quando vos digo que vi a especialista de manhã, à hora do "staff" conjunto com o outro serviço de cuidados intensivos de cirurgia, e à hora do almoço, na salle de garde. Pas mal, pas mal...

La tante chegou! Chegou ontem a Paris, vinda de uma passagem por Lyon onde visitou uns amigos. Está por cá, bem pertinho de minha casa mas, desta vez, não ficou por cá. Jantei com ela ontem e jantarei também amanhã. Hoje, devido a compromissos profissionais, no sentido em que tenho que terminar um artigo, não pude estar com ela.

Assim termino,
bien à vous,
Fil

sábado, 18 de abril de 2009

A avó!

Lá fora a chuva cai, e a nostalgia volta a rodear-me como uma manta de malha feita pela avó, que aconchega, mas deixa passar algum do frio que entra pela janela aberta da cozinha, através dos inúmeros pequenos buracos desenhados por um dos mil pontos que ela tão bem sabia fazer.

A minha avó era uma pessoa especial, pelo menos para mim, enquanto neto. Fecho os olhos, e sou perfeitamente capaz de vislumbrar, ao pormenor, o papel de parede de cornucópias castanhas num fundo beje, as mesinhas de cabeceira, uma delas, a do lado esquerdo, na primeira gaveta, cheia de fotografias, umas a preto e branco, outras a sépia, e poucas a cores. Da outra mesinha de cabeceira lembro-me do chá de limão pousado quando a minha avó vinha para a cama dormir. Lembro-me de dormir com a minha avó e de me saber bem. Recordo-me da perseana entreaberta que me fazia despertar ligeiramente mais cedo.

A casa da minha avó era um porto-seguro, onde as pessoas se sentiam bem. Durante muitos e bons anos, teimava em fazer o almoço para os filhos e netos que lá quisessem ir e recordo-me, com saudade, do almoço de sexta-feira. Era certo e sabido que, se algum dos meninos não quisesse o menu principal, tinha direito, sempre, a um bife com batatas fritas e um "ovo a cavalo". Que bom!

Lembro-me dos encontros entre as irmãs (a minha avó e as suas duas irmãs) lá em casa: "as chazadas"!. E lá dizia a minha avó "nunca menos de 3, nem mais de 7". Isto é, quem bebe chá nunca deve beber menos de 3 chávenas, nem mais de 7. Não me perguntem porquê. Era um dogma e continua a sê-lo, até que algum cientista resolva fazer um estudo duplamente cego, randomizado, aleatório que venha dizer o contrário.

Recordo-me de fazer um presépio, em barro, para a minha avó. E de ela me ensinar muitas coisas, nomeadamente na arte de bem fazer doces. Se numa receita de um bolo qualquer estiver explícita a utilização de 4 ovos, devemos utilizar 5. Nunca se deve mexer o bolo para um dos lados e depois para o outro, caso contrário, o bolo, "desanda" (não me perguntem o que é que isso significa, pois não sei mas, por receio que o bolo "desandasse", nunca o fiz). O "creme brülé" que faço segue as regras do da minha avó, que são, basicamente, nenhumas, e que fica sempre bem.
Agora, vejo a minha mãe a fazer o mesmo aos seus netos.

São estas coisas que nos ficam na memória. E, no final de contas, avó é sempre avó desde que, naturalmente, se tenha portado como tal!

Não sei porque é que resolvi tocar no assunto. Não era meu fito fazê-lo, pois nem tinha pensado no tema para o "post" de hoje.
Acho que, de vez em quando, fazemos planos e depois, por qualquer motivo, deixam de fazer sentido ou, pura e simplesmente, caem por terra, tal é a força da gravidade...

Já não sei o que digo.

Apesar da chuva vou sair, apanhar ar e comprar um filme a uma das banquinhas das inúmeras lojas em frente ao Georges Pompidou.

Bien à vous,
Fil

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Tudo fica bem quando acaba bem!

Já de banho tomado, pijama vestido e sentado na cama, vos escrevo, desta feita no meu "velhinho" computador, de teclado QWERT, o qual nunca deveria ter abandonado, dada a dificuldade que agora encontro para não me enganar nas teclas e, pasmem-se, nos acentos.

Este fim de dia foi, sem sombra de dúvidas, uma surpresa. Na realidade, já se vislumbrava algo de diferente, dado o convite feito por uma "externe" (que é como quem diz, uma aluna), endereçado a mim e à minha colega Búlgara, para irmos todos jantar a um restaurante Tailandês. Este convite já havia sido feito há muito tempo mas, confesso, a vontade não era muita. Assim, e pela falta de dias para combinar esse mesmo jantar antes do meu regresso a Portugal, decidimos fazer o jantar hoje. Ponto de encontro: 20h na estação de metro de Etienne Marcel (aqui bem pertinho de casa).

Contudo, ao sair do hospital, resolvi ligar à minha irmã, nessa altura, em viagem, saída de Portugal e rumo à Bélgica. Bendita a hora em que o fiz, pois combinámos, quase no imediato, um rendez-vous para jantar em Paris. Claro está que a opção foi pelo jantar familiar, tendo eu enviado uma mensagem à minha colega a dizer o seguinte: "Désolé une autre fois, mais ma soeur vien diner avec moi à Paris! Génial! Elle vien de m'appeler. Bisous et à demain!". Claro está que a parte do "Désolé une autre fois" deve-se ao facto deste jantar ainda não se ter feito antes, também porque, nesse dia, já havia marcado um "rendez-vous" com a Dra Brandoa.

Cerca das 20 horas e 30 minutos, recebi uma chamada da minha irmã, com uma voz que expressava um misto de cansaço, desilusão, frustração e raiva. Estavam eles a estacionar o carro (que vem, nestas alturas de grandes viagens, de mala no tejadilho) no parque, quando verificaram que a viatura estava demasiado alta para entrar na garagem. O problema colocou-se quando o meu cunhado teve de fazer "marcha-atrás" com o carro já no final da rampa, com uma inclinação francamente acentuada e estando, o carro, com uma tara elevada. O carro aqueceu, aqueceu, aqueceu e a embraiagem cedeu no final da manobra. Conseguiu estacionar o carro num lugar no exterior do parque, sempre em primeira velocidade, e com um odor a queimado que nem o tradicional "créme brülé" consegue exceder. O guardar o carro na garagem propocionava duas coisas distintas: a primeira, um lugar seguro para estacionar o carro, no sentido em que o mesmo estava cheio de haveres, a segunda, a possibilidade de pernoitarem na minha humilde casa, e prosseguirem viagem amanhã de manhã rumo ao seu domicílio.

Fui ter com os quatro viajantes ao largo onde estacionaram o carro e vi as suas caras cansadas, com uns olhos extenuados de quem estava em viagem desde as 4 horas da manhã.
Contudo, fomos jantar a St Germain, respirar um bocadinho a brisa desta cidade e quase "saborear" o ar a férias, quanto mais não seja, das férias dos outros!

Regressados à Passagem, foi o tempo de empacotar o computador no seu grande recéptaculo de cartão, arranjar um espaço na mala do carro da minha irmã, e despedir-me.
Despedir-me destas pessoas que me são tão queridas, dizendo um até breve já que, de amanhã a 15 dias lá estarei eu, na Bélgica, a preparar o meu regresso a Portugal.

Ficaram-me, no ouvido, as palavras dos meus sobrinhos, na hora do adeus: "Gosto muito de ti, tio!".

Digam lá se não merecem tudo!
Neste momento, ainda estão em viagem.

Bien à vous,
o vosso,
Fil

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Adivinhem quem vem jantar...

... A mana!!! Acompanhada, claro esta, do seu companheiro deste ultimo terço da sua vida e das suas duas crias.
Saiu de Portugal de madrugada e, a caminho de sua casa na Bélgica, resolveu (e bem!!!) passar por Paris. Assim, aguardo-a ansiosamente.

Vou arrumar a casa e fazer a minha primeira mala.

Ja so faltam 12 dias de trabalho... 12 dias...

Bien à vous,
Fil

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Como usufruir dos jardins desta cidade...

Ha quase duas semanas atras, como ja havia aqui deixado o relato, recebi, pela segunda vez em minha casa, a minha prima Rachel (re-incidente por estas paragens), assim como o seu filho, que por acaso também é meu primo e acumula com as funções de afilhado.
Num dos passeios que fizémos, durante o fim-de-semana, a Montmartre, ao Sacré-coeur, parämos uma boa hora nos jardins que lhe estão imediatamente à frente. Naquele manto verde não estävamos so nos, como seria de esperar, como, também, uma multidão como so se vê em alturas de grande afluência de povo (e "pova", pois que não devemos nunca excluir o elemento feminino!), coadjuvado pelo bom tempo que se fazia sentir.
O meu afilhadote aproveitou a deixa, assim como a motivação cedida por todos os pintores das pequenas praças por onde ja havia passado, para tirar do seu "sac a dos" um pequeno caderno que ja o tem acompanhado em viagens ao estrangeiro, para, deitado na relva, e em decübito ventral, desenhar a paisagem que tinha pela frente, nomeadamente o monumento ja supracitado.
Enquanto que o jovem, na frescura e ingenuidade dos seus 8 anos, desenhava, compenetradissimo o sacré-coeur, o seu padrinho e mãe vislumbravam as paisagens e as "gentes". Sobretudo... as "gentes". Nomeadamente um casal de jovens que estavam imediatamente ao nosso lado esquerdo. Ela parecia mais velha, e deveria ter uns 14 anitos. Ele, mais novo, a rondar os 13. Ela, que de inicio se encontrava do seu lado esquerdo foi, lentamente, escalando (palavra perfeitamente oportuna e bem aplicada, no sentido em que ela parecia utilizar as suas mãos para "trepar") pelo seu hemicorpo esquerdo acima. Finda meia hora de escalada ja tinha a jovem subido ao "monte branco" e estava meio mundo a apreciar o espectaculo.
Tirei uma fotografia para recordação, que aqui vos deixo. Note-se que não fui o unico a fotografar tão célebre casal, e que fique aqui bem frisado que o unico objectivo de registar nuns quantos megapixeis tal momento, foi para vos mostrar TUDO aquilo que esta cidade tem para vos oferecer, nem que seja na base do "voyerismo".



Bien à vous,
Fil

terça-feira, 14 de abril de 2009

Regressado na carreira das 15:40

Voltei!
Voltei ao diärio da minha "Paris", e voltei a Paris na carreira das 15:40. Bem chegado, muito obrigado, assim como as outras pessoas lä da terra que, como eu, foram passar a Päscoa ao nosso cantinho lusitano.
Para os mais desavisados, estive em Portugal, onde passei o fim-de-semana da Päscoa, aproveitando a benevolência destes meus actuais empregadores, assim como o seu feriado nacional a 13 de Abril.

Foi bom, foi muito bom.
Dormi descansado até às horas que quis, sem o incömodo da luz a entrar no quarto, no momento em que o sol resolve acordar. E, como o sol anda cada vez mais madrugador, este vosso relator, por simpatia, também! Assim, com as persianas todas corridas no meu quarto em Portugal, não corri esse risco.
Estive por casa a aproveitar os bons e cada vez mais raros momentos em familia, ja que a minha irmã, seus filhotes e marido também passaram (e ainda passam) uns dias em Portugal.

Agora, regressado a Paris, restam-me 16 dias nesta cidade, 14 dos quais... a trabalhar. Conto cada dia, cada hora, minuto e segundo, e mais me apercebi, nesta minha visita relâmpago, como amo Portugal, o nosso ar, os cães vadios que povoam a travessa da casa dos meus pais, o falar português, assim como as nossas complicações e fatalidades portuguesas!

Jä sei qual sera o meu "plano de festas" em termos de trabalho, urgências, dialise e etc para os meses de Maio e Junho, e anseio por esses momentos. Estou ansioso por voltar ao Sto Antonio e visitar o pessoal das varias enfermarias, dos varios serviços, da microbiologia e da anatomia patologica. Regressarei a Portugal dia 3 de Maio, dia da mãe, e começarei a trabalhar no dia seguinte.
Anseio pelos momentos de plena "rotidão" em que vou dizer mal da minha vida, e tentarei recordar o que foram os 6 meses passados no estrangeiro. Se a memöria me atraiçoar, terei sempre o suporte papel deste meu "Relier" para me lembrar, pois que, ainda que lhe dê o "bicho", e o "bug" informätico me leve para todo o sempre os milhares de bytes que ja introduzi na world wild web, terei as dezenas de folhas que a minha prima ja imprimiu, desde o primeiro "post" aqui introduzido.

Vamos, então, para a recta final, esperando que o treino que fiz nestes ultimos meses, me dê a serenidade para concluir a prova com honras de lugar no podio!

Bien à vous,
Fil

sábado, 4 de abril de 2009

Os blogues dos mais pequenos.

O meu sobrinho, de 7 anos, ja ha muito que queria um "website" feito à sua imagem e medida. Apos tanto chatear o seu pai, la conseguiu os seus objectivos.
Agora, o meu sobrinho, vai, todos os dias, visitar o seu blogue. Não com o objectivo de ver quantos visitantes teve naquele dia ou no anterior, ou para ver os comentarios que lhe escrevem (pois são nenhuns) mas sim para pura e simplesmente, regalar-se com a sua "obra" e usufruir dela o mais possivel.
Deixo aqui o endereço aos meus caros leitores. Quem sabe se aquele blogue não passarä a ser, também, um dos vossos favoritos, nos tempos livres...

Ja tem um cliente, nada mais nada menos do que o seu primo, que ronda a mesma idade.

Bien à vous,
até breve,
Fil

Endereço do blogue:
www.123-ricardo.blogspot.com

terça-feira, 31 de março de 2009

Et donc, voilà: a rotina - que bem que sabe!

Caros leitores,

apos este desalinhamento astral que condicionou as adversidades na minha vida no decorrer da semana passada, das quais vos tive ao corrente, eis que chega o momento da bonança, com tudo a "entrar nos eixos" e, nomeadamente, na rotina diaria de: casa - hospital - casa.
Contudo, os dias estão maiores e o sol brilha. De manhã ainda faz algum frio (qualquer coisa como 3°C esta manhã), sendo que, no "après-midi" fica mais quente, qualquer coisa como 15°C: é a loucura, é o Verão!

Nos intensivos de hepatologia, onde amanhã começarei o meu ultimo mês de trabalho, estamos a "meio-gaz". E porquê? Devido às infecções nosocomiais. Primeiro, ha cerca de uma semana e meia atras, o Estafilococos aureus meticilino resistente. Depois, e desde ha uma semana, o célebre Acynetobacter baumanni, que ja matou uma doente... No total de 16 doentes (8 camas de intensivos de hepatologia e 8 camas de intensivos de cirurgia digestiva) 4, estão infectados com este bicho que, além de ser meio ruim, é resistente a todos os mata-bichos que temos ao dispôr. Assim sendo, e por forma a evitar a contaminação de uns pacientes para os outros, tomou-se a precaução de fechar alguns dos quartos, pelo que dos 8 doentes que normalmente temos a nosso cargo cuidamos, de momento, de apenas 6. So admitimos hepatites agudas fulminantes vindas de outros hospitais e doentes para transplante hepatico. Segundo me apecebi, estamos a um doente para fechar a unidade. Ja pensei em passar as mãos por um dos contaminados, não as lavar e ir, de seguida, observar um outro doente... Je rigole!!!
(Mas la que ja me passou pela cabeça, ja!)
Seja como for, e como ando bem disposto, trabalho bem, sem quaisquer problemas.

Na semana passada tive mais duas visitas ca por casa: a visita numero 246 e numero 247 respectivamente, sendo que a numero 246 veio até Paris para, além de gastar um dinheiro monumental em compras, para passar o seu aniversario.
Fui um mau anfitrião e pouco lhes fiz companhia. Chegaram no domingo passado, e fizemos um grande passeio, como de costume. Desta fez foi maior ainda pois, além de termos ido por Marrais fora até à Bastille e depois Ille St Louis, Cité e St Germain, prolongämos o passeio até à Torre Eiffel, sendo que acabämos por voltar de metro, de novo, até St Germain, para comer num restaurante Mexicano que tem uma brasileira à porta, à qual ja tinha prometido voltar, de uma das vezes que passei naquela viela. Não, não pensem os meus queridos leitores que frequento zonas estranhas com ambientes menos proprios. Trata-se de uma das inumeras pequenas ruelas em St Germain, repletas de restaurantes de todas as nacionalidades e mais alguma, sendo que numa das minhas ultimas incursões àquela zona, onde fui jantar com a minha mãe, fomos interpelados pela tal brasileira que falava francês e trabalhava num restaurante mexicano. Enfim... é a torre de Babel!
Segunda feira, mal cheguei do hospital saimos para jantar fora e, Terça-feira, nem cheguei a voltar do hospital...
Assim, deixei as minhas convidadas sozinhas, a aproveitarem Paris e o meu super-espaço de 34 metros quadrados. Quando voltei, 5a feira à noite, ja era tarde. Foi o tempo de cantar os parabéns à meia noite e ir para a caminha.
6a feira, depois do jantar, mais uma jantarada, desta feita, na casa mais velha de Paris, a casa de Nicolas Flamell, o famoso alquimista, que fica aqui mesmo ao virar da esquina, e que recomendo vivamente. Farä parte do "Guia das estrelas morfes do Nery" dentro em breve. Depois do jantar, gentilmente oferecido pela aniversariante (finalmente que alguém me oferece o jantar!!!), fomos a um bar de jazz, também ele perto de casa, onde se esteve francamente bem.
Säbado de manhã, levantei-me, fui comprar croissants simples, com chocolate e torsades para todo o mundo (a Dra Brandoa também dormiu ca em casa), e fugi para a Bélgica.
O resto, ja vocês sabem.

Bonne soirée à tous,
Fil

segunda-feira, 30 de março de 2009

Curto e grosso!

Boa noite.

Hoje serei breve nas minhas palavras, pelo simples facto de que não me apetece escrever (por vezes, tal acontece, também, aos maiores escritores), mas devo fazê-lo para manter os meus caros leitores a par das novidades. Sobretudo se são boas.

A minha mãe teve alta do hospital. Claro esta que ainda sob antibioterapia, precisamente aquela que havia começado antes de ser internada, e encontra-se mais bem disposta. Espero que seja um ponto final nesta "intercorrência" das férias dela e da minha estadia por Paris.

Hoje o dia no hospital correu aparentemente mais rapido do que o habitual, e saï pela primeira vez, em plena luz do dia, fruto da mudança horaria. Viva o Verão que se aproxima!

Em breve escreverei mais qualquer coisa. Vou ver o "Conta-me como foi", que ja leva 2 semanas de atraso no seu visionamento.

Bien à vous,
Fil

sábado, 28 de março de 2009

As novidades da mãe

Caros leitores (e amigos),
aproveito o momento em que Portugal procura marcar golo frente à Suécia, para vos escrever mais umas linhas neste "Relier" conturbado e intermitente.

Eis mais uma semana que agora finda, repleta de sentimentos e emoções, dentro das quais a ansiedade, que acabou por pautar estes dias e limitar, de alguma forma, o meu normal funcionamento mental, laboral, pessoal, etecetera e tal!

Comecemos pela minha mãe. Longe de mim (e dela também), imagina-la internada num Serviço de Medicina Interna (!), e ainda por cima num hospital no estrangeiro (pelo menos reconheço-lhe a noção de chique: sempre que a minha mãe faz alguma coisa tem que ser em grande, e ha-de ter pensado que, para ser internada, mais valia ser num hospital que não em Portugal...)!
Contei-vos a fase inicial da epopeia, da minha vinda à Bélgica, e do inicio da terapêutica antibiotica, na 3a feira à tarde. 4a feira continuou francamente combalida, e estive sempre numa amalgama de sentimentos no sentido da decisão de a levar, ou não, à urgência. Se o diagnostico me parecia o correcto e a terapêutica adequada, faltavam-me outros dados, que são sempre indicador da gravidade da situação, e que so podem ser vistos no hospital, como uma mera saturação de oxigénio ou, até, uma medição simples de pressão arterial. Recorria-me à frequência cardiaca e respiratoria, e esta ultima nunca me deixou propriamente muito descansado... 5a feira de manhã, e virtude da minha mãe continuar febril, resolvi, finalmente, leva-la ao serviço de urgência.
Aqui, a logistica funciona de forma ligeiramente diferente do que em Portugal. O meu cunhado ligou primeiro ao médico de familia (o tal...) que, por sua vez, ligou ao hospital e estabeleceu o contacto. Passados 5 minutos, o meu cunhado voltou a ligar ao médico que lhe deu o nome da médica de referência.
Fomos ao hospital, enträmos no serviço de urgência e... mais parecia uma clinica privada! Não se via, quase, viva alma. Não havia gente nos corredores, aos berros, maquinas a apitar ou cheiros nauseabundos no ar. Fomos gentilmente recebidos, e a minha mãe entrou directamente para um bom consultorio. Deram-lhe uma camisa do hospital e, logo a seguir, e sem antes ser observada pelo médico, a enfermeira fez-lhe um ECG, registou parâmetros vitais (fiquei logo mais descansado por ver uma TA=110/80mmHg, uma FC=86bpm (apesar dos 39°C de temperatura) e uma SO2=95% a ar ambiente), colheu sangue (nomeadamente hemoculturas), pôs-lhe o célebre "sorinho" a correr e, logo de seguida, um paracetamol IV. Dali a 5 minutos chegou o médico, caro colega com ar de interno. Simpatico e meio intimidado pois, naquela altura, e sem eu ter dito nada ja todo o mundo sabia que eu era médico, internista (!) e a trabalhar num hospital em Paris (chique, heim?). Fez-lhe o exame fisico, gasimetria de sangue arterial (fiquei ainda mais descansado depois de ver que não tinha insuficiência respiratoria, apenas uma hipoxemia ligeira), saiu do consultorio e não disse nada. Logo a seguir vieram buscar a paciente para fazer o Rx de torax.
Passados 10 minutos, uma enfermeira veio perguntar se queriamos um quarto individual, para 2 ou 4 pessoas. Claro esta que nos apercebemos, naquele momento, que iria ficar internada. Fui falar com o médico, que me mostrou o Rx, e la estava a dita cuja da penumonia lobar inferior direita, muito intersticial, sem derrame pleural. Não soube, nem sei, os resultados das colheitas de sangue.
O médico disse que iria continuar a fazer o antibiotico (Augmentin), mas por via endovenosa. Falei-lhe do motivo pelo qual tinha associado a claritromicina ao Augmentin, e pela suspeita de agente atipico. Literalmente não me ligou bolha. Perguntei se não iam fazer pesquisa do antigénio da Legionella na urina. Fugiu à resposta.
A minha mãe la subiu para o internamento, onde ficou num quarto com uma outra senhora octagenaria, com muito ar de doença pulmonar cronica e... caso social (também os ha na Bélgica!!!)! Simplesmente porque não tem ninguém para tomar conta dela, ja que mora(va) sozinha (ca como la...).
Entretanto passei o resto do dia à espera da dita médica que era suposto ter observado a minha mãe. Ja tinha, inclusive, vindo buscar, a casa da minha irmã, o outro antibiotico para a minha mãe o continuar a tomar, nem que fosse às escondidas! Ao final da tarde, fui, com a minha irmã, à procura da médica. La a enconträmos, e la veio ela observar a minha mãe. Esperämos fora do quarto. Saiu do quarto com o estetoscopio sobre os ombros, e a dizer "pois... é uma pneumonia!" Et, donc, voila! Como se ja eu não soubesse aos dias... Depois veio a parte de a tentar convencer a fazer cobertura para os atipicos. Finalmente consegui levar a agua ao moinho, e não foi preciso a minha mãe tomar o antibiotico às escondidas, esta a fazê-lo mesmo às claras!
Ë de esperar uma defervescência da febre, numa pneumonia não complicada, nas primeiras 48-72 horas apos o inicio da toma do antibiotico. Claro esta que ontem, no dia imediatamente a seguir ao seu internamento, ja se encontrava melhor, pois ja era o terceiro dia de terapêutica.
5a feira à noite voltei a Paris. A minha mãe estava "entregue", e eu podia sossegar um bocadinho mais. Apesar de ter perdido o TGV das 20 horas por 1-2 minutos, e ter de esperar 2 horas pelo seguinte, cheguei são e salvo a casa (Paris), por volta da meia-noite. Ontem trabalhei, com a cabeça longe, bem longe...
Hoje voltei à Bélgica. Estive com a minha mãe, e constatei melhorias. Esta com outra "cara", mais bem disposta e faladora. A médica diz que o estudo analitico esta melhor e, como não poderia deixar de ser, auscultei a minha mãe. Apesar de ainda ter sinais de condensação pulmonar, esta melhor.
E bom, foi esta a peripécia da semana. Amanhã ao final do dia voltarei para o meu canto de 34 metros quadrados em Paris, e irei encontrar, com toda a certeza, a minha "Passagem" muito bem decorada, cheia de flores e vasos novos (era o trabalho que iam ter durante o fim-de-semana).
Seja como for, ainda tenho para vos contar a noite de ontem, de aniversario da minha ultima hospede em Paris (não fui um grande anfitrião, desta vez, é um facto...). Fica para a proxima.
Hoje muda a hora. Sorte do colega que faz urgência à noite: vai trabalhar menos uma hora, e vai ganhar como se a tivesse feito!

Bien à vous,
Fil

PS: Sempre que os meus caros leitores resolvam fazer uma viagem ao estrangeiro passem, antes, pela loja do cidadão, e peçam o cartão internacional de utente. A minha mãe fez isso e olhem o jeito que deu...

quarta-feira, 25 de março de 2009

A mãe...

Caros leitores, o "Relier" mudou de destino.

Não de endereço web ou para um pais exotico, mas para a Bélgica, onde me encontro desde ontem ao fim da tarde, apos um "apelo" e uma necessidade de ver a minha mãe que por aqui ainda se encontra, e que teria a sua viagem de regresso planeada para o Porto hoje mesmo.
Passo a explicar.
O destino, seja la o que isso for ou a definição que encontrarem na "wikipédia", é algo de estranho e contra o qual pouco podemos fazer, ja que ele nos "da as voltas" com uma capacidade estranha e fora do normal. Assim, estava predestinado, ha cerca de 2 meses, uma passagem, da minha mãe, de uma semana por Paris e de outra semana pela Bélgica. Fizemos reserva da viagem de 10 a 25 de Março. A primeira data foi mudada por um feliz acaso do destino, ja que, como aqui deixei referido, a minha mãe veio 15 dias mais cedo para a Bélgica para tomar conta dos netos, fruto de uma viagem da minha irmã e cunhado à América (o que gosto desta palavra...). E assim foi: passou os primeiros 15 dias em Marialoop e, de seguida, tomou rumo à capital mais visitada do mundo, para passar uns dias com o seu filho. Na 5a feira passada voltou à Bélgica, onde contaria passar um bom bocado extra, e "descansar" das caminhadas que deu por Paris, até ao dia de hoje, em que voltaria para o nosso cantinho à beira mar plantado, e para junto do meu pai.
Se a primeira viagem foi trocada por um evento que apenas traduzia felicidade e bem-estar, a viagem de hoje foi adiada por motivos nada agradaveis, e que me conduziram, ontem, até paragens Belgas.
Desde ha uns tempos que a minha mãe andava com tosse, sintomas respiratorios altos, mas bem disposta. Andou bem por Paris. 6a feira passada, começa a "crise": febre e mialgias, muitas mialgias e, apesar de tudo, uma ligeira melhoria da tosse, assim como uma quebra do estado geral importante.
Se a minha mãe estivesse em Portugal ou até em Paris, saberia o que haveria de fazer. Na Bélgica, tornou-se um bocadinho mais complicado. Domingo pedi à minha irmã para arranjar um antibiotico que cobrisse agentes "atipicos". Como é logico, a minha irmã não consegue, do "pé para a mão", arranjar medicamentos sem receita médica. A minha mãe ajudou à festa, desvalorizando os sintomas e dizendo "isto não é nada, é uma gripe...". Segunda feira veio o médico a casa. Ë o médico de familia, aparentemente muito simpatico. Viu a minha mãe, auscultou-a, fez exame ao "xixi" e, no final disse: "Ë virico" - claro esta que disse isto em Neerlandês, sendo que sou incapaz de o escrever naquele idioma. Receitou-lhe Aspegic, e disse que demorava uns dias a passar.
Ontem de manhã, em Paris, e acometido por um impulso, e antes de sair de casa, pensei: vou levar os antibioticos que tenho na minha pasta. E assim foi.
Cerca do meio-dia liguei à minha mãe. Estava combalida, com uma voz doente.
Foi ai que decidi, vou à Bélgica.
Disse no hospital que tinha que sair e expliquei os motivos. Claro esta que ninguém disse que não.
Fui directo à Gare du Nord, tinha TGV dali a 20 minutos, e la vim para a Bélgica. Ë, de facto, a grande vantagem de se estar num local central como Paris.
Cheguei ca a casa com um presente para a minha mãe, que comprei em Lille enquanto esperava pelo meu cunhado. Lembro-me bem de estar doente, quando era pequenino, e a minha mãe, de cada vez que saia à rua, voltava com algum brinquedo novo, ou uma guloseima. Sabia bem, e fazia melhor do que qualquuer medicamento.
Vi a minha mãe, e examinei-a, quando parei na auscultação pulmonar e ouvi crepitações medio-basais direitas. Conclusão: a minha mãe estä com uma pneumonia. Resolvemos não ir ao hospital (o que me aperta o coração, ja que estou habituado a socorrer-me de todos os exames e mais alguns) dado o adiantado da hora, e pelo facto do meu cunhado dizer que, àquela hora não lhe iriam fazer nada, nem sequer um Rx de torax, e que ficaria internada à espera do dia de hoje. Assim, comecei de imediato os antibioticos, para cobrir agentes tipicos e atipicos (viagens de avião, aeroportos, ares condicionados, enfim...). Agora, aguardamos que o "mata-bicho" faça efeito.

Ficarei aqui, pelo menos, até amanhã, na esperança que rapidamente veja melhoras no estado da minha mãe.

Rapidas melhoras, mãe.
Beijo, com amor,
do teu filho,
Fil

domingo, 22 de março de 2009

Domingo de manhã.

22 de Março de 2009:

Segundo dia de Primavera e, não estando a chover nem com aspecto de que tal venha a acontecer no decorrer do dia, estä cinzento. Talvez um pouco menos fresco do que nos dias anteriores (com minimas de 1 e 2°C), o que, apesar da falta do astro-rei a brilhar nos céus e a morenar a minha careca, torna este segundo dia de Primavera num dia propicio para o passeio.

Assim, acordei cedo (com despertador...) e... Não, não fui passear, mas sim cultivar-me um pouco mais neste mundo de ciência que é a hepatologia. Passo a explicar. Desde 5a feira que decorre, no Palacio de congressos de Porte Maillot, um congresso, de seu nome "Journées Francophones d'Hépato-gastroentérologie et d'Oncologie Digestive", e que termina no dia de hoje. Fui apenas na 6a feira ao final do dia assistir a uma meia duzia de palestras e hoje de manhã, ja que, como espero novas visitas (que deverão chegar a qualquer momento), tive de sair um pouco mais cedo do que o desejavel. Contudo, assisti ao que pretendia, nada mais nada menos do que uma palestra magistral dada pelo meu actual director de Serviço. O senhor tem, de facto, o dom da palavra, e faz parecer que tudo afinal é simples e de facil compreensão. O tema visado foi "Tumores benignos do figado - hiperplasia nodular focal e adenomas" sendo que, ha outros, mas que não eram tema na apresentação.
Assim, ja tive a minha "banhada" de ciência matinal, mas que até soube bem.

Agora, espero a proxima "leva" de visitas, a chegar dentro de minutos. Acabei de receber uma chamada a dizer que ja estavam a caminho de casa, no RER linha B. Julgo que hoje sera o dia da "volta dos tristes", mas que é a volta que mais gosto de fazer, em que passamos por quatro cartiers diferentes, e caminhamos, caminhamos e... caminhamos.

Dentro em breve uma amiga parte para Barcelona, cheia de expectativas, rumo a um estagio de meio ano, também ele na area da hepatologia. Esta ansiosa por partir e deixar os problemas santo antoninos para tras. So espero que não encontre problemas barçolonenses pela frente...

Vou sair.
Bien à vous,
Fil

sexta-feira, 20 de março de 2009

O post hebdomadaire

São dois, e apenas dois, os grandes motivos que podem levar esta espécie de escrivão a não cumprir as suas "obrigações" quase diarias, de deixar, para a posteridade, as suas memorias durante a estadia em Paris (e ja la vão uns longos cinco meses), bem como de manter os meus atentos e persistentes leitores a par do que se vai passando pela cidade-luz.
Um dos motivos, é a depressão profunda em que de vez em quando caio devido ao trabalho ou, melhor, à forma de trabalhar (é sempre bom dar um toque de exagero...) destes meus anfitriões; o segundo motivo, prende-se, naturalmente, com os convidados, visitas, ou aquilo que lhes queiram chamar (menos nomes feios, ja que se tratam de familiares e amigos) que me fazem companhia quase diariamente em minha casa. No final da minha estadia por Paris, ainda hei-de fazer o "bilan", no sentido de saber, na realidade, quantos foram os dias em que fiquei realmente sozinho.
Assim, o motivo pelo qual não vos escrevi durante toda a semana, foi um pouco da combinação dos dois.
Por um lado, a visita da minha progenitora, que merece cada uma das letras da palavra mãe. Por outro lado, uma semana perfeitamente absurda em termos de trabalho no hospital. Quanto à segunda parte da questão, prefiro ja nem falar dela. Apenas asseguro a todos os meus leitores, que se trabalha, de facto, muito bem em Portugal (pode-se publicar menos, é um facto, pelo facto de se trabalhar mais no terreno...) e que, não aconselho ninguém que tenha um qualquer problema de saude, nem que seja uma unha encravada do 5° dedo do pé esquerdo, a vir trata-la a um hospital Francês. Ainda vos calha um hepatologista no Serviço de Urgência, e é uma chatice... Seja como for, e como diz a minha advogada, "so neste pais é que poderiam deixar morrer a princesa Diana!".
Assim, aproveito para relatar um pouco os eventos da semana, na companhia da minha mãe.
Os dias, passou-os ela na sua comunhão com Paris, a desfrutar do inicio da Primavera, das manhãs ainda bem frescas e dos dias mais solarengos. Passeou-se por estas ruas da cidade, viajou numa das "Vedettes du Pont Neuf" pelo Sena, fez compras, e desfrutou daquela que é uma das cidades da sua memoria e da qual tanto gosta. Julgo que, no total destes meus 5 meses de estadia em Paris, a minha mãe deve-me ter feito companhia durante cerca de 1 mês (deve ter passado um outro mês por terras de Marialoop - Bélgica, e os restantes 3 meses em Portugal). Como podem ver, é a grande vantagem que a reforma traz às pessoas e, o essencial, é as pessoas saberem goza-la da melhor maneira, fazendo as coisas que lhes dêem mais prazer.
Ontem, num dos seus passeios, e aqui bem perto de casa, presenciou uma grande manifestação a proposito da greve geral que teve lugar em França - a segunda desde que ca estou. Meteu conversa com os manifestantes e tudo, e ainda ouviu dizer da voz de professores universitarios, que em Portugal esta tudo bem melhor do que em França... Depois, e nunca deixando de me surpreender (depois de ter conduzido sozinha o carro da minha irmã, na Bélgica, por ruas e cidades nunca antes por ela atravessadas, tudo é possivel!), tirou umas fotografias bem engraçadas com a maquina que lhe pus à disposição, e que deixo aqui no blogue, para a posteridade, e com a sua autorização.






As noites estavam por nossa conta. Noite sim, noite não, iamos comer fora. Claro estä que, quando comiamos em casa, a comidinha era caseira, e confeccionada pela propria mestre de culinaria. Ainda sou capaz de me recordar do cheirinho a "Lapin au vin rouge" que cozinhou no segundo dia em que ca esteve, quando abri a porta da rua, vindo do hospital... Se eu fosse cão, e de Pavlov, começava a salivar. Alias, apesar de não ser nem uma coisa nem outra, julgo que ja o estou a fazer!
Assim, fomos jantar ao "Le Procope", um restaurante que estä nos guias de Paris, e que fica numa rua perpendicular à Rue St André des Arts, fomos ao Georges (não poderia deixar de passar a ocasião para levar a minha mãe a tal "fantabulastico" restaurante), a um restaurante Italiano e a um outro tipo Bistrot, para os lados de St Germain.
Fiquei a conhecer, no domingo passado, La Défense - cidade futurista que nada tem a ver com o resto da cidade de Paris, contruida como se de um grande escritorio se tratasse, e com os restaurantes e respectivo shopping a servirem de apoio ao grande escritorio, como se de uma cantina para milhares de funcionarios se tratasse. Ë um espaço interessante, apenas e so tomando em conta a diferença arquitectonica, e como forma de comparação com resto da cidade de Paris. E, depois, o pior. Parece, como um cancro com alto poder de invasão, que se alastra lentamente para as areas circunjacentes, pelo que se vê uma série de prédios, grandes edificios envidraçados a tomar o lugar de casa mais antigas e baixas que ocupavam recentemente os "arredores" de La défense.
De La Défense, não tirei fotografias, porque não levei maquina. Contudo, vou deixar aqui uma ou outra fotografia tirada pela prima que, por terem sido tiradas também, com a minha maquina, têm os seus direitos de autor repartidos com a minha pessoa.
Como os meus caros leitores ja repararam, quem me visita tem direito não so a um tecto, como também a agua, comida, roupa lavada e, também, a maquina fotografica.





Pois bem, a minha mãe foi-se embora hoje, não para Portugal, mas para a Bélgica, o que deixou o meu sobrinho deveras confuso. Para ele, apos a permanência de quase 15 dias da avo no seu domicilio a fazer de babysitter, com a passagem à posteriori por Paris para visitar o tio, não fazia qualquer sentido a sua segunda mãe passar de novo pela Bélgica.

Em breve terei mais gente em casa, em breve deixarei de as ter, em breve estarei no Porto, e em breve terei o "Relier" para recordar.

Bien à vous,
o vosso, o mesmo, o de sempre,
Fil

sábado, 14 de março de 2009

O post que ficou por escrever e a Funny

Salut!

Finalmente um fim-de-semana por minha conta, e qual seria a melhor maneira de o começar, que não aqui, sentado ao computador, a escrever umas linhas no "Relier" que, coitadinho, ja esta a ficar cansado e velhinho? Ja pensei, no final, em imprimi-lo, ir nadar para a praia de Miramar com ele na mão, fingir-me afogar et... donc, voilà! Lusiadas parte II um best-seller garantido para os proximos 5 séculos!

Bom, começo por vos falar do domingo da semana passada. Em virtude do adiantado da hora da saïda do bar da Bastilha no sabado à noite, a Dra Brandoa ficou ca em casa a dormir. Assim sendo, domingo de manhã, saï à rua para comprar "pain aux chocolat" para 3 pessoas. Ë algo que faço quando tenho gente em casa aos fins-de-semana e que me sabe, como a minha avö diria, "pela vida"!
Deixämos a Dra Brandoa na estação do metro, e eu e a Dra mioleira prosseguimos caminho por Paris fora. Louvre, Jardin des Tuilleries, e Rivoli, muito Rivoli. No regresso a casa, ja pela Rue St Honoré, passämos por um restaurante que nos pareceu interessante, pelo que decidimos voltar, mais à noitinha, para um repasto, repasto esse que terä lugar aqui, em mais uma rubrica:

"O GUIA DAS ESTRELAS NERY PARA OS MORFES"

RESTAURANTE: Livingstone
ENDEREÇO: 106, Rue Saint Honoré, 75001 Paris
AMBIENTE/ DECORAÇÃO: 4,7 - Completamente diferente da decoração do Kong, ao qual atribui a mesma pontuação. Decorado com tons escuros, muito preto, castanho e prateado, combina padrões diferentes, com "ares" de selva. Neste restaurante, são capazes de combinar o padrão de zebra, com o de leopardo e o de tigre, na maior das harmonias, assim como "armaduras", e verdadeiras, de diferentes animais. O chão é de alcatifa escura, e existem dois tipos de mesas: baixas e quadradas e altas e redondas. O espaço é pequeno e muito acolhedor, com uma luz "baixa", mas perfeitamente suficiente. O restaurante é tailandês, ou pretende sê-lo, no espirito, mas em pouco se repercute no ambiente. Apela aos 5 sentidos, tal como esta bem representado no seu sitio na internet.

SERVIÇO PRESTADO/ ATENDIMENTO: 4,5 - Não foi necessaria reserva, mas às 20h em ponto estavamos a entrar no restaurante (hora de abertura) e, aparentemente, so teriam 3 mesas não reservadas. A funcionäria que nos atendeu, muito simpatica, mais parecia ser a dona "do pedaço", como diriam os brasileiros. Alta, loira e gira, falou num inglês impecävel com a Dra mioleira, o que não é nada habitual por estas terras. Um serviço eficiente, em que não esperämos tempo em demasia entre os pratos, atendidos com simplicidade e boa disposição.

COMIDA: 4,85 - Começa a ser complicado dar notas mais baixas, nomeadamente porque dei notas demasiado altas anteriormente, a outros restaurantes e, por exemplo, comparando com o Benoit, julgo o Livingstone melhor, mas comparando com o Georges julgo-o quase (e veja-se bem o "quase") ao mesmo nivel, o que faz com que comece a dar pontos com casas centesimais.
Começämos por um aperitivo, Martini Rouge para o monsieur e Martini Blanc pour la damme. Eu comi, de entrada, uma "Soupe de Crevettes" que estava espectacular. Seguiu-se um "Pad See Yew", que não era mais do que uns "noodles" com camarão, muito bem confeccionado, tendo terminado com un "Carpaccio d'ananas Frais". Toda a comida tinha uma apresentação excelente e sabores exoticos, com condimentos muitos orientais. O vinho, "Leopards Leap" era tinto e igualmente bom. A Dra mioleira ja esta, no Porto, e com os seus conhecimentos vastos, no mundo da beberagem, a fazer inspecção de mercado, no sentido de encontrar o paradeiro do Leopardo por terras Lusitanas. Vamos la a ver se o encontra...

RELAÇÃO SERVIÇO/ PREÇO: 4 - Um bom serviço, uma boa comida, e um preço idêntico a todos os outros: 63,5 Euros. Até vou achar estranho, quando voltar ao Porto, e atenção que ja não falta muito, pagar metade (e ja vou achar que é um roubo - ?! -), e as doses servirem para 2 pessoas!

Total:4,51. Passou à frente do Kong, e ocupa, neste momento, o 2° lugar do ranking de "O GUIA DAS ESTRELAS NERY PARA OS MORFES". Relativamente ao Kong, prima por um melhor serviço e atendimento, o que faz, no imediato, que tenha mais pontos em dois dos itens a pontuar.

Entretanto a Dra mioleira foi embora, e estive por minha conta e risco durante dois dias, até chegar a minha mãe, na 4a feira passada. Ë sempre uma extraordinaria companhia. Claro estä, que veio para Paris, literalmente, passar férias, e porquê? Porque esteve, na semana anterior, na Bélgica, a fazer de babysiter aos seus netos, enquanto a minha irmã e cunhado foram passear para os Estados-Unidos. Diz ele que foi em congresso e eu... finjo acreditar! Entretanto, o meu pai, tirou também um mês de férias da familia, e ficou a tratar da cadelinha que, velhinha (tem 16 anos), precisa de quem a leve 4 vezes à rua por dia, ja que a sua capacidade de retenção vesical não lhe permite aguentar as ditas àguas por muito tempo...

A nossa cadela (Funny, de seu nome) fez, no passado dia 15 de Fevereiro, 16 anos. Recordo-me perfeitamente de chegar eu e a minha irmã a casa, apos um treino, numa 4a feira, e vermos aquela miniatura de ser vivo a fazer uma festa enorme àqueles desconhecidos, e que iriam ser a sua companhia durante uns anos largos. A Funny esteve sempre presente nos melhores e piores momentos da familia, entre sorrisos, risos e choradeiras, sempre soube estar caladinha e guardar os maiores segredos. Sempre soube dar a "lambidela" na altura certa e abanar a cauda quando tal era esperado.
Nos seus primeiros anos de vida, e quando chegava o Inverno, instintivamente indicava, com a sua cabecita, o rumo da "ala" dos quartos, e la ficava a dormir. No seu primeiro (e não me recordo se no seu segundo) ano de vida, dormia comigo na cama (eu, que sempre fui alérgico a tudo, fiz, naquele momento, a minha dessensibilização). A partir dali, e dado o facto de ocupar mais espaço na cama do que eu, passou a dormir no meu quarto, mas na sua caminha. Desde ha uns anos a esta parte que a Funny dorme na cozinha, sendo que no Inverno temos o devido cuidado de a cobrir com cobertores, não va o pobre do bichinho ter frio à noite. Claro esta que a minha mãe é que sempre foi sofrendo com o facto, pois era queixa quase diäria, a quantidade de pêlo que a Funny deixava pelas carpetes e por tudo quanto era lado.
A Funny esteve presente na minha entrada e saïda da faculdade. A Funny passou férias em Espanha, no Algarve, na Bélgica e em inumeros turismos de habitação por esse Portugal fora. A Funny viajou de avião e não gostou, apesar de ir ao nosso lado (vantagem de so pesar 3 kg).
A Funny tirou não uma, nem duas, nem três, mas 5 mamas, em 3 cirurgias diferentes. No ano passado, a Funny esteve mal, muito doente. Tinha um abcesso uterino. Foi operada, mais uma vez, esteve internada, fez antibioticos e ficou bem.
Agora, a Funny esta velhinha. Não ouve, e ninguém da por ela durante o dia, a não ser à hora da refeição, o seu momento alto do dia, em que ladra, ladra e ladra como se descarregasse, naquele momento, toda a tensão acumulada ao longo do dia.
Até da Funny tenho saudades! Deixo-vos, aqui, uma fotografia do dia em que fui Campeão Nacional de Juniores de Triplo-Salto, em 1997 (ainda tinha cabelo) e a Funny, como não poderia deixar de ser... estava la!
Fica aqui a minha homenagem à Funny, que sempre esteve la quando foi preciso...




Bien à vous,
Fil

terça-feira, 10 de março de 2009

Je suis epuisé...

Saï do hospital ja tarde, bem tarde. Meti-me no metro, saï do metro, subi a escadaria e entrei no supermercado. Corri pelas escadas fora e subi até ao primeiro andar. Peguei em 2 sumos de fruta, numa pizza para micro-ondas, e numa sobremesa doce para o jantar. Paguei. Desci à rua e andei num passo ligeiro rumo à viela onde habito.
Marquei um codigo, dois codigos. Abri a caixa do correio, e voltei-a a fechar no mesmo instante. Os panfletos de publicidade teimam em empilhar-se uns sobre os outros, e eu, na minha teimosia geminiana, deixo-os la ficar, dia apos dia.
Subo as escadas ao 2° andar, e faço o ritual que ja aqui deixei descrito. Complementei a pizza com o resto do queijo ralado que ainda tinha em casa, e deixei-a cozinhar 3 minutos no micro-ondas. Comi. Falei com a mãe, e não falei com o pai pois ja não estava "online". Vi os mails, tomei banho, deitei-me na cama e vi o "Conta-me como foi" de ha 15 dias aträs.
Ja com pouca vontade, decidi vir ao "Relier" descrever estes meus ultimos passos do dia antes de me deitar e esperar por Morfeu.

Je suis epuisé...

Bien à vous,
com saudade,
Fil

segunda-feira, 9 de março de 2009

Sexta-feira e sabado, o resumo.

Caros leitores,

Escrevo-vos a ouvir um CD de musica que a minha prima "Nice" me trouxe de Portugal: "Deolinda - canção ao lado", e logo apos ter recebido uma mensagem da ultima hospede da "Pensão - Casa da mãe Joana" a dizer que chegou sã e salva, a porto seguro.

Não ha nada como ter gente em casa para desanuviar a cabeça, pensar em coisas triviais e conhecer um bocadinho mais de Paris, quanto mais não seja, de um ou outro "boteco" onde se possa comer e gastar mais uns euros da minha ja desfalcada conta bancaria.

Comecemos pelo incio, que é sempre um bom sitio para começar...

6a Feira
Ja sabem que tive a minha terceira (e espero que ultima) apresentação no Serviço. Na realidade, de todos os internos, fui eu quem apresentou, até ao momento, mais vezes, os casos clinicos e a respectiva discussão. Vou à frente com 3 apresentações, seguido de perto pelas colegas Bulgara e Tunisina com 2 apresentações cada uma e, no final da corrida, os colegas Senegalês e Francesa.
Correu bem a apresentação do caso, bem como a sua discussão e respostas às questões colocadas.

A minha ansiedade pelo terminus do dia, residia no facto de que a minha proxima hospede, ja em Paris desde as 12 horas, fazia-se passear pelas ruas desta cidade com a sua malinha de viagem vermelha (mas porque é que toda a gente que vem ca a casa vem de mala vermelha?). Teve de esperar até perto das 20 horas para que alguém, neste caso, o vosso proprio narrador, lhe abrisse as portas de casa.
Deparou-se com uma casa caotica, com o estendal e respectiva roupa no meio da sala, cozinha meia arrumada, cama por fazer, enfim... Valha-nos o facto de ter tido a dignidade de dar uma limpeza rapida (mas eficaz) na casa de banho, e agradeço a todas as alminhas o facto de ter escolhido uma casa com um wc com uma area util de deslocação de 30 cm quadrados... Contudo, em 5 minutos, arrumei o estendal, atirei a roupa para dentro do armario e puxei o edredão para cima. Et donc, voilà! Uma casa "impec"!
Claro estä que tinhamos de sair, e assim foi: fomos dar uma volta pelos caminhos desta cidade, e jantämos fora (estou ha 5 minutos a tentar lembrar-me onde, e sou incapaz!!!)

Säbado
8:45 - 13:45 Hôpital de Beaujon, Serviço Réa hépato. 8 doentes para mim. A especialista chegou pouco passava das 10 horas, deu-me uns "bons dias" - em Francês, claro estä! - com o seu ar mais repousado possivel de quem dormiu 10 horas seguidas, e perguntou-me se eu precisava de alguma coisa. Obviamente que lhe respondi: "Por aqui?! Não estava a contar contigo! Obrigado, não preciso de nada!". Assim sendo, e dada a minha resposta tão concreta, a gentil dama sentou-se frente ao computador a ver locais para uma futura viagem. Ao meio-dia e pouco, ligou-me do seu gabinete a perguntar se eu precisava de alguma coisa (mais uma vez foi gentil). Ao que lhe voltei a responder que não, muito obrigado, e acrescentei "Quando quiseres podes ir embora!". Naturalmente que ela não disse que não, e não lhe pus mais vezes os olhos em cima. Pouco passava das 13h quando chegou o colega de "garde". Foi o tempo de lhe fazer a "transmissão de testemunho", que é como quem diz, dos doentes, e vir-me embora. Ë, de facto, extraordinario como fica um interno responsavel por uma unidade de cuidados intensivos...

14:20 - Monoprix. Passei pelo ja conhecido supermercado dos meus caros leitores antes de chegar a casa, pois precisava de géneros fundamentais, não de sobrevivência no sentido da compra de combustivel para vivermos, vulgo, comida, mas sim para não cheirar mal, que é como quem diz: papel-higiénico, pasta dos dentes e outra-coisa-qualquer-da-qual-ja-não-me-recordo. Contudo, maldita a hora em que passei por uns morangos transgénicos e baratos: 500mg de morangos=1,99Euros! Eram grandes e, um deles, parecia um grande nariz enrugado e idoso. Pensei eu: "Que ricos morangos! Isto ia mesmo bem com um chocolate quente!" Vai dai, do chocolate quente à mousse de chocolate é um instantinho. E, se se vai fazer a sobremesa, porque não fazer a refeição por inteiro?
E assim foi. Acabei por comprar os ingredientes necessarios para fazer o prato principal e a respectiva sobremesa que tinha dado o mote para a realização de tão elaborada refeição!

Chegado a casa, liguei à Dra Brandoa a perguntar se não se queria juntar a nos, em Montmarte e, depois, para um jantar caseirinho na "Pensão - casa da mãe Joana". Claro estä que a resposta nunca poderia ser negativa!


Fotografia 1 - Escada do calvärio - Subida ingreme de acesso ao Sacré-coeur.


Eu e a Dra mioleira fomos a pé por esses caminhos fora até Montmarte, não sem antes pararmos para almoçar, às 16h, um croque monsieur (pour la dame), e um croque madame (pour le monsieur). Continuamos caminho, e la nos encontämos com a Dra Brandoa no alto de Montmarte, em frente ao Sacré-coeur. Ainda nos demorämos um pouco na escadaria a ouvir um guitarrista a cantar (e a tocar, claro estä), acompanhado pela não menos vistosa mulher d'azul que, sem nos parecer fazer parte do grupo em questão, incorporou o espirito da mãe de santo e entrou em transe...


Fotografia 2 - A figurinha que o "povo", neste caso, a "pova", faz!


No regresso a casa, pela Boulevard Montmartre fora, ainda propus jantärmos no "Chez Chartier" (um dos primeiros que foi aqui referenciado no blogue no guia das estrelas morfes do Nery). A proposta não foi bem aceite, com a desculpa de ser muito cedo... Muito cedo... Muito cedo neste fuso horario, pois que, se fosse do outro lado do mundo, ja seria muito tarde!
A caminho de casa, ja na Rue St Martin, deparämo-nos com uma manisfestação. De um dos lados da rua, os manifestantes: gente aos berros, com cartazes, a trajar umas T-shirts mal amanhadas e com uns escritos a corresponder às suas frases de apelo: "Gautier Assassin!"
Do outro lado da rua, gente muito chique, muito fashion e fashionable, a trajar uns trapos de marca e, se possivel, com muitas peles à mistura, contudo, também observämos pessoas que, a julgar pela falta de pano que levavam, devem de estar, neste momento, internadas num qualquer hospital de Paris, num qualquer Serviço de cuidados intensivos, tratados por um qualquer interno estrangeiro, a padecer da pneumonia qua apanharam naquele dia!
Deixo-vos uma fotografia do cenärio.


Fotografia 3 - Do lado direito, os manifestantes "anti-fur". Do lado esquerdo, os manifestantes Gaultierianos "Pro-fur": A prova provada de que este mundo é feito de contrastes!

Chegados a casa, mãos na massa:
Tabelete de chocolate, manteiga, ovos e açucar. Resultado: a minha primeira mousse de chocolate feita alguma vez na vida (ja havia visto a minha mãe a fazê-la, é um facto) e, provavelmente (sorte de principiante), a melhor que alguma vez farei!
Quanto ao prato principal: Azeite de Portugal gentilmente cedido pela casa "Vilanova" (aproveito para fazer publicidade ao site: www.vilanova.be), 1 caldo Knorr (ptuah! Dirä a minha prima "Nice"), cebola congelada, uma lata de legumes pre-cozinhados e uma lata de cogumelos. Deixar cozinhar 5 minutos e juntar o frango. Aguardar mais um pouco (o tempo de falar com o colega/amigo cardiologo Toulousense no skype), juntar agua, deixar ferver, juntar massa, e deixar cozer.
Et donc, voilà! Prato principal e sobremesa feitos!

De seguida, tempo para lavar os pratos. Claro esta que rapidamente me "esquivei" à tarefa!
Apos as lides pos-prandiais, tempo de marchar até à Bastilha, para aproveitar o resto da noite num bar Cubano em Paris.

Bom, o resto, deixo para escrever amanhã!

Bien à vous,
Fil

sábado, 7 de março de 2009

O verdadeiro poder de sintese!

Apos um dia de trabalho, de passeio em Montmarte e de mousse caseira com morangos, preparo-me para sair para a noite parisiense na Bastilha.

Viva Paris e as pessoas que me visitam para abrilhantar esta minha estadia!

Até amanhã, com a promessa de uma escrita mais completa,

Bien à vous,
Fil

sexta-feira, 6 de março de 2009

3000!

O visitante numero 3000 do "Relier", que se acuse!

pode ser que venha a ter uma surpresa... Quem sabe uma vinda a Paris, heim?

Bien à vous pela segunda vez esta madrugada,
Fil

Epilogo

Não poderia deixar de registar aqui, no "Relier", o momento do términus da preparação da apresentação para amanhã.
Começo a não saber fazer ou pensar noutra coisa que não seja "figado" pois que, esta semana, além das 11 horas diarias enfiado no hospital, ainda chego a casa, como pão que compro a caminho de casa, no Monoprix, junto-lhe o queijo e fiambre que a minha irmã gentilmente deixou ca em casa na sua ultima vinda a Paris ha cerca de 15 dias (ainda estão dentro do prazo de validade), faço umas sandes com batatas fritas springles e aï vai desta: degluto tudo em 5 minutos, faço as chamadas da praxe: pai em Portugal, mãe na Bélgica e irmã nos Estados Unidos (estä neste momento a fazer o seu voo de regresso para a Bélgica), e deito mãos à obra. Quanto mais se lê, mais parece que menos se sabe, tantos são os artigos e as novidades que surgem a proposito do tema que abordei.

Enfim... vou para a cama que ja é tarde.
Tenho a minha casa de 34 metros quadrados um caos, com o estendal aberto na sala cheio de roupa em cima, papeis por todo o lado, e visitas que chegam amanhã. Que se lixe! Ë a lei da entropia! Amigos que são amigos também o são para as ocasiões, pelo que ja avisei a minha proxima locataria que vai ter paciência, mas vai pegar no esfregão e vai ter de limpar o chão!

Com esta me fico,
bien à vous,
Fil

PS: Amanhã tenho mesmo que ir às compras: ja nem pacotes de sopa instantânea tenho!!!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Fechado para obras!

Meus caros leitores,
encontro-me, de momento, conforme a imagem assim o descreve.



Na proxima 6a feira terei mais uma apresentação na reunião de Serviço e, desta vez, sobre colangite esclerosante primaria, cancro da vesicula e excepções ao MELD. Podem consultar a internet e tirar as vossas proprias conclusões. Não vos desejo nem uma coisa nem a outra!
Assim, e apos os 2 minutos de pesquisa da imagem (naturalmente plagiada de um outro blogue que, por sua vez, plagiou de outro blogue e por ai adiante) mais os 3 minutos de escrita deste "post", volto ao estudo.

Bien à vous,
até breve,
Fil

domingo, 1 de março de 2009

A resenha semanal, feita com fotografias!

Meus caros leitores, as minhas saudações!

Mais um fim-de-semana que se passou, mais um mês que agora começa, e entro oficialmente no meu quinto e penultimo mês de estagio naquele hospital que se assemelha a qualquer coisa como "Bolhão", claro esta, com o devido sotaque tripeiro, que defendo com unhas e dentes!

O fim-de-semana foi revigorante, em familia, na Bélgica (eis uma das grandes vantagens de estar em Paris).
Dou aqui os meus parabéns à minha mãe, publicamente, pela sua destreza na condução de veiculos no estrangeiro, ja que calcorreia as ruas da Flandres como se la tivesse nascido. Dou também os parabéns ao inventor do sistema GPS - o Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América - que permitiu que a minha mãe conseguisse, sem quaisquer dificuldades, e apesar da barreira linguistica (garanto-vos que não é facil compreender o neerlandês, apesar de que termos como, por exemplo, "rotunda", se assemelharem ao nosso português), deslocar-se de casa da minha irmã a Kortrijk e vice-versa, não uma, mas duas vezes!

Deixo-vos, hoje, com algumas fotografias que documentam a minha estadia no "estrangeiro", nestes ultimos 7 dias:


Fotografia 1 - A entrada para o elevador do restaurante "Georges", ja aqui abordado varias vezes no "Relier"



Fotografia 2 - A Torre Eiffel ao domingo de manhã: longe, longe, mas sempre à vista!



Fotografia 3 - E porque Carnaval que é Carnaval tem de ter cheirinho a Brasil... Nem Paris escapa!



Fotografia 4 - A magnifica Notre-Dame de Paris dä a possibilidade de fazer magnificas fotografias, ainda que o fotografo seja amador...



Fotografia 5 - E Deus disse: "Façam de Paris uma revolução, mas inventem uma coisa, vulgo "truc", de novo, que não revolução estudantil ou manifestações por tudo e por nada!". E assim foi: Os parisienses fizeram a reforma agraria!!!
Não ha nada como ter sempre à mão um telemovel com câmara incorporada, para fotografar um momento de pura beleza natural como este, em plenas terras de Marialoop. So é pena não terem a oportunidade de cheirar, também, o odor da natureza... Do mais puro estrume de vaca!

Desejo-vos a todos uma optima semana. A minha vai ser a trabalhar, e a preparar a apresentação para o "staff" de 6a feira, pelo que vos peço desculpa se o "Relier" voltar a ibernar por uns dias. Seja como for, tentarei escrever "un mot" de vez em quando!

Bien à vous,
Fil