sábado, 18 de abril de 2009

A avó!

Lá fora a chuva cai, e a nostalgia volta a rodear-me como uma manta de malha feita pela avó, que aconchega, mas deixa passar algum do frio que entra pela janela aberta da cozinha, através dos inúmeros pequenos buracos desenhados por um dos mil pontos que ela tão bem sabia fazer.

A minha avó era uma pessoa especial, pelo menos para mim, enquanto neto. Fecho os olhos, e sou perfeitamente capaz de vislumbrar, ao pormenor, o papel de parede de cornucópias castanhas num fundo beje, as mesinhas de cabeceira, uma delas, a do lado esquerdo, na primeira gaveta, cheia de fotografias, umas a preto e branco, outras a sépia, e poucas a cores. Da outra mesinha de cabeceira lembro-me do chá de limão pousado quando a minha avó vinha para a cama dormir. Lembro-me de dormir com a minha avó e de me saber bem. Recordo-me da perseana entreaberta que me fazia despertar ligeiramente mais cedo.

A casa da minha avó era um porto-seguro, onde as pessoas se sentiam bem. Durante muitos e bons anos, teimava em fazer o almoço para os filhos e netos que lá quisessem ir e recordo-me, com saudade, do almoço de sexta-feira. Era certo e sabido que, se algum dos meninos não quisesse o menu principal, tinha direito, sempre, a um bife com batatas fritas e um "ovo a cavalo". Que bom!

Lembro-me dos encontros entre as irmãs (a minha avó e as suas duas irmãs) lá em casa: "as chazadas"!. E lá dizia a minha avó "nunca menos de 3, nem mais de 7". Isto é, quem bebe chá nunca deve beber menos de 3 chávenas, nem mais de 7. Não me perguntem porquê. Era um dogma e continua a sê-lo, até que algum cientista resolva fazer um estudo duplamente cego, randomizado, aleatório que venha dizer o contrário.

Recordo-me de fazer um presépio, em barro, para a minha avó. E de ela me ensinar muitas coisas, nomeadamente na arte de bem fazer doces. Se numa receita de um bolo qualquer estiver explícita a utilização de 4 ovos, devemos utilizar 5. Nunca se deve mexer o bolo para um dos lados e depois para o outro, caso contrário, o bolo, "desanda" (não me perguntem o que é que isso significa, pois não sei mas, por receio que o bolo "desandasse", nunca o fiz). O "creme brülé" que faço segue as regras do da minha avó, que são, basicamente, nenhumas, e que fica sempre bem.
Agora, vejo a minha mãe a fazer o mesmo aos seus netos.

São estas coisas que nos ficam na memória. E, no final de contas, avó é sempre avó desde que, naturalmente, se tenha portado como tal!

Não sei porque é que resolvi tocar no assunto. Não era meu fito fazê-lo, pois nem tinha pensado no tema para o "post" de hoje.
Acho que, de vez em quando, fazemos planos e depois, por qualquer motivo, deixam de fazer sentido ou, pura e simplesmente, caem por terra, tal é a força da gravidade...

Já não sei o que digo.

Apesar da chuva vou sair, apanhar ar e comprar um filme a uma das banquinhas das inúmeras lojas em frente ao Georges Pompidou.

Bien à vous,
Fil

2 comentários:

A mana disse...

E que saudades da Avó, dos seus maravilhosos bolinhos e do chá com bolachas antes da caminha (e depois nem lavávamos os dentes)!
Beijo grande já com saudades!

1/2 disse...

Não há tratamento que resista ao Encantador Post de hoje.
Partilho e comungo de todas essa ilimitadas memórias.
Crecemos com ela e, assim nos tornamos membros de um espacial Clã, onde gravitamos em torno de um núcleo -A Família.
Sem dúvida alguma, à Avó devo muito do que hoje sou,certamente é a melhor das heranças.
A Saudade é que cada vez maior.
Um beio em ti meu "piqueno".