quinta-feira, 30 de abril de 2009

Adeus... E obrigado Paris!

30 de Abril de 2009

Querido "Relier",

E assim termina mais um capítulo da minha vida, sentado, a escrever sobre a mesa da cozinha do apartamento vazio, mas cheio de histórias e de memórias. Aqui, na "Passage de l'ancre", ancorei a minha vida durante 6 meses. E, comigo, muita gente passou por este porto que, em Paris, contudo, sempre foi um "porto seguro".

Algumas das histórias deixei-as aqui escritas, nas tuas folhas, outras, guardo-as na memória e levo-as comigo.
Foste um ombro amigo quando precisei. Um escape de emoções, uma forma de me exprimir. Quando releio as tuas páginas, sorrio. Constato, mais uma vez, que a minha bipolaridade deixou de ser ficção. É um dado adquirido. Só assim se consegue explicar as minhas flutuações de humor. Contudo, e julgo que concordas comigo que, na maior parte das vezes tive razão.

As dificuldades burocráticas, e a barreira da língua foram, sem dúvida, o grande obstáculo. Não obstante, consegui ultrapassá-las. As pessoas do hospital pareciam camaleões. Não por mudarem de cor constantemente, mas por mudarem a sua forma de estar e de ser, em acordo com as suas necessidades. Julgo não ter sentido na pele a xenofobia e o racismo, mas senti-os à minha volta. Senti a necessidade imperiosa de afirmação dos franceses face ao "ser-se francês". Contudo, pessoalmente, não me posso queixar do acolhimento e da "simpatia" (e reforço, aqui, as aspas) que mostraram ter para comigo. O facto é que trabalhei muito e... bem. Caso contrário, não teria tido as palavras de reforço francamente positivas por parte do director.

Deixando o hospital de lado, o que me segurou, verdadeiramente, em Paris, foi a família e os amigos. Sem eles, não teria sido possível. Voltarei domingo para o meu "porto seguro", para junto dos meus, e são eles, meu caro "Relier", que fazem com que tudo valha a pena.
Lembro-me dos primeiros dias em Paris passados com a minha mãe. São inesquecíveis. Foi um relembrar, por parte dela dos tempos que por aqui também viveu, e foi, para mim, uma forma de me sentir acolhido e aconchegado nesta cidade.
Seguiu-se o acampamento de ciganos, com a minha irmã, cunhado e sobrinhos. Foi a festa. Uma alegria. Ainda me lembro do meu sobrinho a dizer que "afinal a Torre Eiffel não é assim tão grande", num dia invernoso, de chuva, e da minha sobrinha, a chorar, com os pés molhados e frios.
Não vou continuar, aqui, a descrever-te todas as visitas que tive. Todas elas foram importantes e ajudaram-me, não só, a passar melhor o tempo, a fazer com que ele passasse mais rápido como, também, a conhecer melhor Paris. Cada um deles apresentou-me um pormenor diferente da cidade, conduziu-me a um restaurante novo, ou mostrou-me um novo monumento.
Assim, agradeço, e deixo-te, aqui, o nome de todos aqueles que mostraram o seu amor e amizade por mim, num sentimento perfeitamente recíproco, com os seus nomes não encriptados, pois que, neste final do 1/60 da minha vida, todos eles merecem ser reconhecidos pela sua verdadeira identidade:

Mãe (Maria do Carmo), Pai (Pedro Nery), Mana (Márcia), Cunhado (Filip), Sobrinho (Ricardo), Sobrinha (Catarina), Mano (Rui), Sua cara-metade (Elena), Neurocirurgiã de família (Elsa), Dra Cardiológa (Catarina), Prima Nice/ Lamivudina (Eunice), La tante (Mª Fernanda Gayo), Prima Rachel (Raquel), Afilhado (João), Minha advogada/Cris (Cristina), Tatiana, Paulo, Alexandra, Sandra Xará, Tio Alfredo, Tia Nela, Pedro Vita, Susana, Inês, Primo/Tio Xico, Dra. Brandoa (Mariana), Claudia e Peter Pan (Pedro).

Não te poderia deixar de dizer, contudo que tu, meu caro "Relier", nunca estarias completo sem os inúmeros comentários que te foram acrescentando, pelo que agradeço a todas essas pessoas, muitas das quais já supracitadas, o seu carinho e acompanhamento que me foram fazendo ao longo destes 6 meses.

Bom, está na hora de partir, com um certo aperto no coração, e os sentimentos à flor da pele. Vou levar a última mala para casa da Inês e, de seguida, vou ao hospital, nem sei bem porquê... Estava com vontade de aproveitar estas últimas horas em Paris, e de muito sol, para me passear, tal e qual um "faneur", por estas ruas e vielas.

Está na hora de te dizer um último adeus.

Pego na mala, olho à minha volta, dirigo-me à porta da rua, saio, olho mais uma vez e... bato a porta.

Obrigado!

7 comentários:

la tante disse...

VLAM! Comment peut-on encore écrire alors que la porte se ferme... et, comme dit la chanson, CE N'EST QU'UN AU REVOIR!

"En te perdant (Paris) je sens que je t'aimais. Pas de pleurs, pas de plainte vaine.
Je (TU)sais respecter l'avenir" et je (TU) sais que je reviendrai (REVIENDRAS)...
(retirado de um poema de Alfred Musset - espero que, onde quer que ele esteja, me perdoe o truncamento).

Cris disse...

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis

Porque tu és assim, um grande, grande beijo, e aquele abraço. E o meu muito obrigada, por tudo. Pela partilha, pela confiança, pela disponibilidade e generosidade que sempre tens e, sobretudo, pela amizade, com tudo o que ela implica...
Os teus 6 meses em Paris foram especias e absolutamente únicos para ti. Mas podes ter a certeza que também o foram para nós, todos nós que diariamente partilhamos a tua experiência e que, dessa forma, também estivemos sempre contigo.
Adeus "Relier à Paris" e, até amanhã querido Fil, e...obrigada!

Duas notas: o meu nº de visita foi o 4444, achei engraçado e a palavra de verificação genese...( a cabala deve explicar isto, com toda a certeza!!!)

Beijo,
Tua Cris

chefe disse...

Então, acaba por aqui o diário. Tenho a dizer-te que se por um lado tenho alguma pena, porque era com alguma ansiedade que o abria, para saber das novidades e do teu estado de espírito, por outro, estás a chegar.... Vai ser bom ter-te de volta. Vamos, com certeza, ter muito para falar e muitas horinhas para o fazer. Parabéns pela postura nestes 6 meses e... porque não escreves nada mal.Esta sim foi a surpresa, o resto já era esperado. Beijos

RuiM disse...

2
Acordei também com os pássaros
E estudei a posição em que os bordava
Nos seus vestidos
E disse: para que lhes espetas a agulha no coração
E ela respondeu: para que aprendam a direcção do voo

(Daniel Faria)

Para que te não esqueças do caminho de volta e sobretudo para que te não esqueças

RuiM

A mana disse...

OOOOOOOOOOOH...não me faças chorar!
Beijo
Márcia

1/2 disse...

Estou arrepiada e não é frio...
Habituaste-me mal ... vou sentir a falta do RELIER, mas compensa bem o ter-te ao pé de mim.
O mais importante é o facto de seres Bloguista, ter suavizado a tua passagem pela cidade luz!
Positivo para ti e encantadoramente Maravilhoso para mim ( nós).
Agradeço cada palavra,cada foto, cada dia, cada partilha e o mimo!
A surpresa foi de facto verificar o magnífico escritor que és, quanto a todo o resto, de todo não é novidade para quem te conhece!

"A palavra escrita é um elemento cultural, a falada apenas social."
Ferenando Pessoa, A Língua Portuguesa

Por favor meu primo , nunca digas "adeus".
Até sempre
MIL BEIJOS em TI
E

P.S- Cris, p.f. explica o significado da minha verificação de palavras ter sido "PERIER" !!!!
Beijos ;)

Filipe Nery disse...

Obrigado a todos.
Paris é sempre Paris e, com toda a certeza que lá voltarei com muitos de vocês.

À bientôt,
bien à vous,
Fil