sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Paris parte I - "Le bilan"

60 dias de Paris, 60 dias de pura emoção.
O balanço destes meus ultimos 2 meses na capital francesa, apesar dos contratempos e dos "mal-dizeres" tipicos de quem é português e que, como tal, tem a sua "costela" fatalista, foi positivo, não o posso negar. Quanto mais não seja por habitar nesta cidade cheia de encanto, luz e agitação. Definir Paris é dificil. Ë uma cidade glamorosa, stressada, sumptuosa, desordenada, jactante, miseravel, enfim... é uma cidade de extremos, povoada por gente rica e famosa, toda engalanada, e por gente pobre e miseravel que aproveita, nesta altura de frio cortante, os bueiros do metro que exalam calor, quais sovacos desta cidade, e que ali se aninham, tal como um bebé no seu leito materno. Julgo que tenho aproveitado a cidade e, não havendo possibilidade dela se aproveitar de mim, toma-lhe o lugar, nestas funções, o hospital onde trabalho e as suas gentes.
No hospital tomo, sobretudo, o contacto com uma realidade diferente da nossa, onde o volume de doentes que padecem de doença hepatica é brutal, e o numero de pessoas que lidam com essa doença nos termos do seu acompanhamento e vigilância não é directamente proporcional. Além do facto do numero de pessoas que trabalham no serviço ser reduzido, esse numero revela-se ainda mais pequeno quando cerca de metade não quer trabalhar... Mas bom, vale-me o consolo do feedback positivo da parte dos doentes, pessoal de enfermagem e restantes colegas, sendo que terminei o dia de hoje parabenizado pelo meu director de serviço, com um "bravo, Filipe!". Soube bem, e quase fez esquecer tudo o resto, desde os problemas burocraticos aos inerentes à propria organização do serviço. Contudo, nem me passa pela cabeça massar-vos com tal prosa. Quem ja não se recordar, remeto-vos para os 44 "posts" anteriores que escrevi...

Do que não me posso esquecer é do apoio incontestavel com que conto todos os dias da parte dos meus caros leitores (apesar de saber que alguns deles, não muitos, confesso, uma ou outra vez, por um ou outro motivo, a proposito de uma ou outra palavra... não se identificaram com algumas das mensagens aqui escritas; contudo, o "Relier à Paris" é uma cronica, das minhas aventuras e desventuras neste 1/60 da minha vida e, como tal, expressa o meu modo de ver as coisas; ainda bem que ha opiniões distintas das minhas, caso contrario, tudo isto não faria qualquer sentido; contudo, e em jeito de desabafo, este blogue ja esteve por uma ou duas vezes prestes a entrar de férias... mais cedo, e grandes!), e não so...
Varias foram as visitas que tive nestes 2 meses:

- Mãe: "trouxe-me" ate Paris, e deixou-me com ela. Queria ter a certeza que me deixava bem entregue, que não me perdia pelo caminho e que sabia pôr a maquina da roupa a funcionar. Fez-me bem a mim e a ela. Foi um "recordar" Paris no seu melhor. Dia 30 deste mês ja ca estara outra vez, desta feita, também com o meu pai.

- Mana: Finalmente mais perto! A apenas 300km podemo-nos ver, durante 6 meses, uma vez por mês. Veio ca no final de Outubro, e eu fui até à Bélgica em Novembro. Reencontrar-nos-emos, dentro de 3 dias, em Portugal e, dia 16 de Janeiro ja tenho, de novo, viagem marcada para a Bélgica. A minha irmã é o meu outro eu e, de facto, os nossos cariotipos completam-se quando estamos juntos.

- Cunhado: Meu homonimo em "belguês", quase um "gajo do norte"! Muito boa pessoa, cheio de perspectivas para o futuro. Empreendedor e divertido. Ë sempre um gosto estar com ele.

- Sobrinho: Tal como o rei, com coração de Leão. Ë um orgulho. Corre, salta, nada, toca piano, e ja anda na escola primaria. Um aficionado pela torre Eiffel. Ele não sabe, mas vai receber a Torre Eiffel em Lego pelo seu aniversario (que esta quase). Apesar de ter 3428 peças e ser para maiores de 16 anos, pareceu-me adequado...

- Sobrinha: Uma princesa. Linda. Ë um doce, por vezes com sabor a pimenta. Tel ca um feitio...

- "Futura colega em Paris": Na realidade, é uma colega e amiga do meu Sto Antoninho, mas também vem para Paris trabalhar no inicio de janeiro. Contudo, para outro hospital... Veio-me so fazer uma visita, mas foi quanto bastou para fazer a catarse da semana!

- Peter Pan: Assim designado pela "Futura colega em Paris", sendo a sua cara-metade. Veio ca a casa tomar um cha, no quentinho, apos jantar de crepes na Creperie Beaubourg.

- Atletologa: Grande amiga, que me veio fazer companhia por um dia. Conheço poucas pessoas como ela, perserverantes e dedicadas à causa. Amiga do seu amigo, sem duvida!

- Ex-coach3: A semelhança do robocop 1, 2 e 3, também eu tive 3 treinadores. Grande amigo também, cara-metade da atletologa. Veio, claro esta, junto! Jantamos fora, dormiram ca em casa e, no dia seguinte, foi so passear.

- Mano: Não é biologico porque não calhou de termos o mesmo pai e a mesma mãe. Melhor amigo e confidente. Também tem um blogue mas mais "low profile". Gozou de experiência semelhante à minha, ha uns anos atras, mas em Londres.

- Cara-metade do mano: Juntou-se a nos uns dias mais tarde, ja que se foi passear por Bruxelas (disse-nos ela que foi em congresso...). Divertida e com muito humor. Foi uma optima companhia, também!

- Cardiologa: Chegou no dia da partida do mano e da sua cara-metade. "Geniquenta" como ela ha poucas. Tem ca um gaz... e não é dos que cheiram mal, vos garanto!

- Professor V: Veio a Paris a um congresso, e passou ca por casa. Fomos os 3 (eu, a Cardiologa e o proprio Professor V.) jantar à Bastilha a um Bistrot optimo. Bebeu coca-cola e... não devia! Fiquei a par de todas as novidades do Sto Antonio!

- Médica de familia: Passou a ser assim denominada apos procedimentos cirurgicos nas costas de uma pessoa de quem muito gosto e prepara-se, não tarda nada, para meter a faca nas costas de outro... Assim, designei-a médica de familia. Tive pena de não andar feito galheteiro com as duas (Cardiologa e Médica de familia) mas, infelizmente, tive de trabalhar... Foram, contudo, umas horas muito bem passadas, e espero, sinceramente, pelo regresso de ambas.

Assim, neste 2 meses, os meus 34 metros quadrados de habitação tiveram a oportunidade de dar abrigo, ainda que a uns de forma mais breve do que a outros, a 14 pessoas! Fantastico! Não me posso esquecer, claro esta, da minha propria cirurgiã, com quem estive anteontem, mas que não chegou a vir ao 223 da rue de St Martin.

Bom, vou terminar de fazer a mala. Tenho o transfer para o aeroporto às 6:35 na Porte Maillot.
Espero, muito sinceramente, continuar a contar com os meus caros leitores, nos 4 meses que me restam por Paris, por forma a continuar ligado a Portugal.

Muito obrigado a todos,
até Portugal (dentro de 11 horas la estarei),
bien à vous,
Fil

6 comentários:

Anónimo disse...

Compte-rendu comme il faut! Balanço de 60 dias, primeira parte (quase) ininterrupta de estada na Gália. Nada mau! Não tiveste tempo para saudades. Foi bom! As fúrias e as raivas passaram com o "Bravo Filipe!" Quantos vezes é que por cá elogiam um colega de trabalho de forma tão explícita?
Que mais poderemos dizer? Sê bem-vindo a casa, à periferia da Europa, à civilização ibérica da maledicência e da inveja, mas também dos afectos, das ternuras e carinhos familiares, da extroversão despreocupada, do Sol, da comida boa, da caminha que reconhece a envolve o corpo que nela procura retemperar forças e energias quando o cansaço ataca, da crise, etc., etc.
Até já.
Beijos

Anónimo disse...

De facto com tanta movimentação não há muito espaço para a saudade e, ainda bem!
Pois eu por cá sinto-a.
Não posso negar que fico feliz por te seber já ao pé de mim(físicamente, claro!).BEM VINDO!
Elogiar-te não é nem será difícil, mas vindo de 1 chefe francês é sublime! MUITOS P A R A B É N S !!!
BEIJO DOCE
E

Unknown disse...

Neryyyyyyyyyy!
Ja deves estar cá em Portugal. Eu estou a fazer horas interminaveis na UCIP até ao Natal, mas depois tenho uma semana interirinha para tratar de Paris.
Dia 2, no início da tarde, já aí estou. Começo dia 5. Sei que vais ter a tua falmega a acampar nos teus 34m2 (nem quero imaginar como...), mas eu desenrasco-me sozinha. A não ser que tenha algum soussi (é assim que se escreve?) e, se tal acontecer, chateio-te.
Um excelente Natal e recupera forças. 2009 vai ser em grande para nós...
Mariana

Unknown disse...

Ah! Esqueci-me de comentar o "Bravo, filipe!"
Estás a dar uma coça aos franceses!!!!;P

Anónimo disse...

Aportei na Mouraria, regressada de terras que deram o nome a Portugal, olhei-te, abracei-te, assasinámos as saudades conversando e usufruimos das nossas presenças e companhias. Agora só desejo, e é este o objectivo principal da minha intromissão neste blog (tão bem posto no seu merecido sossego...) ao bloger e aos bloguistas (talvez devesse dizer ÀS BLOGUISTAS - são a maioria, mas as sociedades machistas impõem-nos estas particularidades linguísticas) umas excelentes Festas, pelo corpo todo, de preferência (como dizia uma saudosa amiga que , neste fatídico 2008, resolveu deixar-me(nos) sem sequer se despedir - isso não lhe perdoo!).
FESTAS FESTIVAMENTE FELIZES!
Até já.
Beijos

Filipe Nery disse...

Como tinha saber a tua amiga! As pessoas vivem nas nossas memórias, e só isso é que faz que nos perpetuemos no tempo. Foi isso que fizeste agora, dar-lhe vida! De onde ela estiver, ela e todos os outros que nos deixaram, a mensagem chegará. Feliz Natal a todos nós, aqui, acolá e acoli!