sábado, 31 de janeiro de 2009

A meio caminho da meta: O "Bilan"!

Caros leitores,

qual seria a melhor forma de comemorar o ultimo dia dos meus primeiros 3 meses passados aqui, em Beaujon, do que no proprio hospital? Contudo, e como "amor com amor se paga", aproveito a internet desta instituição, e o momento livre "après-midi", para vos escrever umas palavras e fazer o "bilan" destes 3 meses (metade) de estagio.

Se me der ao trabalho (e olhem que ja é algum) de reler todos os meus "posts" anteriores escritos aqui no "Relier", verificarei que passei por varias fases:

- A EXPECTATIVA: Foi, sem duvida, a 1a fase, e que acabou por durar cerca de 1 ano, desde o meu primeiro contacto com esta instituição, em Setembro de 2007, e a confirmação do meu estagio em Paris. Afinal, quem não gostaria de fazer um estagio fora, fosse do que fosse e, quanto mais, na cidade-luz?! Muito poucos, imagino eu! O facto é que foi um misto de vontade, sorte e preserverança. Assim, criei uma expectativa enorme neste estagio, e contagiei todos os que estavam à minha volta antes de vir para Paris. Este sentimento, foi sempre acompanhado de um "frio na barriga" quando pensava na minha vinda para Paris: uma cidade diferente, uma lingua diferente, um hospital e gentes diferentes, o viver so pela primeira vez, enfim... a expectativa...

- O DESLUMBRAMENTO: Os 10 dias que passei em Paris antes de começar, de facto, a trabalhar, foram do mais puro deslumbramento - a casa de 34m2 no centro da cidade (uma verdadeira mansão quando comparado com os espaços onde os autoctones habitam, e uma "ridicularidade" de espaço para o que nos estamos habituados - é cerca de 2/3 da area apenas da sala da minha casa de Portugal), a "cidade-museu", os espaços livres, os espaços fechados, e até a 1a reunião (lembram-se?) com o director de Serviço. Até parece que foi ontem... Estes 10 dias de deslumbramento, também foram os 10 dias de maior descoberta da cidade, sempre acompanhado pela mãe, também ela deslumbrada com o filho caçula na sua cidade preferida.

- A DOR-DE-CABECA: Não sendo um sentimento, é a repercussão fisica de uma mescla de sentimentos. Como me poderei esquecer da monumental dor de cabeça que tive a oportunidade de experimentar no final do 1° dia de trabalho? Esse mesmo! Aquele em que descobri a falta de organização, as praticas e formas de trabalhar diferentes, e a necessidade de concentração ENORME para entender e me fazer entender com os franceses, colegas e doentes.

- A PERPLEXIDADE: Rapidamente fiquei perplexo, no final da primeira semana, com a quantidade de papeis que, afinal, me faltavam, para ter a minha situação perfeitamente regularizada como FFI (fazendo função de interno). Resmunguei, "estrebuchei", literalmente "passei-me"! Não me entrava na cabeça (assim como continuo sem compreender) porque raio de motivo haveria eu de me inscrever na faculdade de medicina. Se ainda trouxesse alguma vantagem, além de ter de pagar a proprina de cerca de 450 euros... O facto, é que a unica vantagem que tive, até ao momento, foi um desconto de 3 euros no bilhete do cinema (paguei 7 em vez dos 10 euros previstos). De resto, nem desconto tive nos museus...
Assim, fiquei perplexo com o pais burocratico e de "rendez-vous" que é a França. Este sentimento ja passou, pelo simples facto de que não me posso manter perplexo todos os dias durante 1/60 da minha vida, mas também devo dizer que não ha dia em que este pais ou os seus habitantes não criem, em mim, um esboço de perplexidade...

- A FURIA: Varios foram os momentos de furia que passei, pela falta de apoio, pela sensação de abandono, por achar que se estivesse em Portugal a trabalhar no nosso serviço de hepatologia estaria a aprender mais. Devo dizer-vos que este é um sentimento que tenho, por vezes, mas que julgo ser da responsabilidade de um qualquer gene do "Ser Português", mas que esta cada vez mais, mais reprimido.

- A RECOMPENSA: Apesar de tudo o que ha de negativo para listar, também é inegavel que tenho tido bons momentos no hospital. Tenho bons colegas e, de facto, ha ca gente que sabe muito. Pode é não querer transmitir a sabedoria toda... Tenho tido excelentes feedbacks por parte de varios colegas, sobre o meu trabalho e forma de trabalhar, o que é sempre bom. tenho visto um numero de doentes enorme, com uma variedade de patologias imensa, dentro da area do figado, o que faz com que, a cada dia que passe, me sinta mais à vontade com os doentes e os seus "males da figadeira".

- A COMPANHIA: Se ha coisa que não me posso queixar, é da falta de companhia e de apoio de toda a gente. Falo não dos de ca, mas dos dai, daqueles que me lêem e que me vão dando noticias. Sim! De vocês mesmos! São vocês que, acompanhando-me nos piores momentos, me têm permitido fazer a catarse e aliviar a cabeça de sentimentos ruins e pesarosos. E as visitas a Paris que continuam a ser (e ainda bem) continuas. O meu "studio" não é mais do que a "casa da mãe Joana" como ja alguém lhe chamou, e a minha cama... enfim!

Assim, o "bilan" destes primeiros 3 meses tem de ser, obrigatoriamente, positivo, independentemente das contrariedades (e que foram muitas) que fui encontrando pelo caminho. Tenho tido companhia, vivido a cidade (não tanto quanto queria) e aprendido muito, independentemente de achar que poderia ser de outra forma.

Que venham os proximos 3 meses!

Bien à vous,
Fil

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A greve, o metro e o Georges!

"La tante" ja chegou. Não à "passage de l'ancre", mas sim a Paris, e deve, neste momento, estar "engarrafada" no meio do trânsito das ruas desta cidade, perfeitamente caotica em dia de greve. Caotica porquê? Porque, pensando todo o mundo na inexistência de serviços publicos prestados durante toda a jornada, que é como quem diz, nomeadamente e, sobretudo, os transportes (autocarros, metro, RER...), a opção mais razoavel era e foi, para quem tem viatura particular, deslocar-se desta forma. Conclusão: um trânsito perfeitamente anormal por toda a cidade e, pasmem-se, uma regularidade e pontualidade "britânicas" dos transportes publicos, nomeadamente daquele que eu utilizo: o metro. Assim, para mim, foi um dia perfeitamente normal, sem quaisquer intercorrências, nomeadamente no que diz respeito à minha deslocação para e do hospital.

Aproveito os minutos que me restam frente ao "ordinateur" antes da chegada da minha proxima visita, para vos falar um pouco do fim-de-semana anterior, com uma outra visita, também, de uma "blogueira" habitual. Não, não deixo aqui pormenores, mas falo-vos, hoje, do tão ja abordado mas ainda não comentado, "Restaurant Georges", pelo que vos deixo, mais uma vez, a rubrica:

"O GUIA DAS ESTRELAS NERY PARA OS MORFES"

RESTAURANTE: GEORGES
ENDEREÇO: Centro Georges Pompidou
AMBIENTE/ DECORAÇÃO: 4,9 - Extraordinario, fantastico, muito "fashion", com umas vistas simplesmente deslumbrantes sobre a cidade de Paris, avant-garde, com um "décor contemporain industrialo-chic des plus étonnants". Simples, com mesas de suporte metalico, tampo em vidro-fosco com um centro luminoso, e uma jarra com uma rosa vermelha em cada mesa. Sem duvida que o tom da flor contrastava com o ambiente "metalico" envolvente. A noite estava extraordinaria, pelo que a vista era contemplada até ao infinito, com a Torre-Eiffel a ter umas crises luminoso-psicadélicas de vez em quando. Porquê não 5 valores? Devido à musica. Não que fosse mä ou desadequada ao espaço, mas porque estava muito alta.


(Imagem do interior, com vista para o exterior...)


SERVIÇO PRESTADO/ ATENDIMENTO: 4,9 - Ë necessario reservar, claro esta! A entrada, esperava-nos uma jovem de vestido encarnado, gira, muito bem "apessoada" como gostamos de dizer. Confirmava o nome, e o numero da mesa. Depois, eramos encaminhados para o respectivo lugar do repasto por uma outra jovem que, provavelmente estava a estagiar (como eu a compreendo...), ainda de mapa na mão, para saber qual a mesa à qual nos deveria levar, apos a ordem da sua superiora. Os empregados, todos vestidos de preto e de igual. Rapidos no acolhimento e no serviço. Não esperamos nem muito, nem pouco entre os pratos. Foi o adequado.

COMIDA: 5 - UAU!!!! Por forte imposição da companhia, vi-me obrigado a experimentar aqueles bichos que deixam um rasto de "gosma" pelo caminho, tal e qual os personagens dos contos dos irmãos Grimm (que deixam um rasto de migalhas pelo caminho...), e que, em Portugal, têm o azar de se chamar... caracois! Aqui em Paris, tudo mudo de figura, pois chamam-se "escargots", e digo-vos mais, no Georges, chamam-se "Escargots Extraordinaires", onde um conjunto de 6 custa a modica quantia de 15 euros. QUE DELICIA!!! Come-se a gosma toda até ao fim, e rapa-se a carapaça (desconheço o nome cientifico da casota do bicho) com uns palitos de pão torrado!
O prato principal, dispensa quaisquer comentarios: "Le tigre qui pleure". Ë verdadeiramente de comer e "pleurar" por mais! Uma carne tenra e suculenta, com um molho de especiarias e um arroz que, não tendo nada de extraordinario, estava espectacular. A minha dama da noite comeu um "Risotto aux Gambas" que, so pela apresentação do prato, valia a pena deixa-lo tal e qual como veio à mesa. Aguardamos os seus comentarios. Quanto à sobremesa... Hummmm, a sobremesa... "Cracker's cheese cake". Era um cheese cake perfeitamente fora do comum, com um gosto especial, que se derretia na boca. O jantar foi acompanhado por um vinho da região de Bordeus.

RELAÇÃO SERVIÇO/ PREÇO: 4,6 - Ë inegavel que o jantar ficou caro, cerca de 65 Euros por pessoa (La tante chegou a casa), mas valeu a pena... muito a pena!

Total:4,85!!!!! EXCELENTE!!!

Bien à vous,
Fil


(Não sendo habito, deixo-vos uma fotografia minha, na entrada do Restaurante)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A greve geral de 29 de Janeiro

Enquanto aguardo pelo envio de fotografias do fim-de-semana que se passou, nomeadamente para vos fazer menção àquele que sera, muito provavelmente, o restaurante que mais pontos tera, até ao fim da minha estadia, aqui, em Paris, no "Guia de estrelas morfes do Nery", escrevo-vos umas palavras sobre os acontecimentos politico-sociais que se vão desenrolando um pouco por toda a parte e, em particular, pela França.



Assim, prevê-se, 5a feira, um dia negro. Não, não é pela chegada de "la tante", pessoa que muito prezo e que aguardo ansiosamente, mas sim pela GREVE que ai vem!
Pois é, que França é conhecida pelo pais das greves (vejam a caricatura feita pelo artista, ha coisa de 3 semanas, quando representou todos os paises da Comunidade Europeia, nomeadamente França, com o seu mapa, e a palavra "GREVE" sobre a sua area), nos ja sabemos, que as fazem de forma regular, também, mas que o transtorno que essas mesmas greves provocam na população em geral, dada a enorme afluência, é que muitos dos meus caros leitores não imaginam.
O facto é que, greve que é greve, deve conduzir a transtorno socio-economico, com impacto suficiente para fazer abalar estruturas. Caso contrario, não seria greve.
Greve que é greve deve, também, fazer as pessoas sair para a rua e fazerem-se passear com cartazes e palavras de ordem. Greve não é para ficar em casa.
Prevê-se, então, que 5a feira, dia 29, a greve tenha uma adesão francamente importante, o suficiente para as escolas ficarem fechadas, os hospitais apenas com os serviços minimos, e que a rede de transportes entre em colapso.
Não sei, francamente, como, e a que horas, vou chegar ao hospital, assim como não sei a que horas chegarä, "la tante", do aeroporto à Passage de l'ancre (não confundir com encre...).
O pessoal do hospital que prevê fazer greve, conta vir a desfilar na parada dos grevistas e, isso sim, é bonito, coisa que se vê cada vez menos em Portugal. Greve que é greve, no nosso pais, é para ficar em casa a dormir mais umas horas, aproveitar para acordar tarde, e babar-se o resto do dia em frente à televisão.
Confesso que fiz, em toda a minha vida que, não sendo vasta, tem sido bem preenchida, 2 greves. A 1a, no meu 10° ano de escolaridade, enquanto aluno e vice-presidente da Associação de Estudantes. Foi uma mobilização colectiva, não propriamente pela não realização das provas globais, mas pelo curso que o ensino secundario estava a levar. Foi o primeiro ano da "nova reforma" no ensino secundario. Estive presente num coloquio com a nossa ex-ministra da educação Manuela Ferreira Leite (onde lhe coloquei uma questão irreverente, à qual não obtive resposta dirigida), e na manifestação organizada na Av. dos Aliados. Foi pena não nos terem dado ouvidos, talvez a educação não estivesse como estä... Talvez não chegassem, os "miudos" ao ensino superior tão imberbes e mal preparados.
A minha 2a greve, fi-la no meu primeiro ano de trabalho, ainda como Interno Geral, e prendeu-se com a proposta do novo diploma governamental, que previa a junção do internato geral e complementar num único patamar, reduzindo os anos de formação, assim como a diminuição efectiva (ja baixo, e as pessoas não imaginam como!) do salario do médico interno, chegando a propor trabalho como "voluntario" no Serviço de Urgência.
Foram 2 dias de greve, com repercussão imediata (e nem eu imaginava como!) no meu vencimento correspondente àquele mês. Algumas coisas mantiveram-se inalteradas, outras não, como em todos os diplomas e em todas as greves! Não fui para a manifestação que ocorreu na capital, pois fiquei a estudar em casa para o exame de acesso à especialidade...

Em França, a greve geral de 29 de Janeiro, visa a situação actual dos salariados, a actual taxa elevada de desemprego, e os planos sociais em vigor. Aconselho uma visita ao sitio oficial da greve, em 29janvier2009.fr (local de onde "tirei emprestada" a imagem que aqui vos deixo).

Bien à vous,
Fil

PS: Pelo menos, nesta "coisa" das greves, os franceses sabem como se organizar!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Um fim-de-semana em Paris (sumula)

Este foi um fim-de-semana de emoções: a malograda não parou de andar de um lado para o outro, pelas ruas desta cidade, qual fantasminha a assombrar todo o mundo; o ratatouille morreu, nas margens do rio Sena, perto de Notre-Dame, esmagado por um sapato; marquei mais um ponto face a Picasso (estava-me atravessado...), e la vi a sua "pisseuse" mais uma vez; andei, pela primeira vez, na linha 10, rumo ao mundo arabe; jantei num dos mais "fashionable" restaurantes do mundo, e descobri livros rarissimos na biblioteca do Louvre.

Claro esta que não fiz nada disto sozinho, mas sim com a belissima companhia da Nogueirinha (a proposito, o sapato era o dela...). Aguardo, impaciente, as fotografias tiradas na maquina dela para fazer, de forma adequada, a reportagem do fim-de-semana. Amanhã vai embora (ohhhhh...). Contudo, e de acordo com a maxima "rei morto, rei posto", 5a feira terei nova companhia, a companhia de "La tante"!

Quem tem amigos, não morre na cadeia!

Bien à vous,
uma boa semana,
Fil

sábado, 24 de janeiro de 2009

Mais uma semana se passou e agora... o WEEKEND!

Quem lê o meu blogue começa a julgar que devo estar num outro pais que não França, num outro fuso horario que não aquele do GMT+1.

Mais uma semana se passou, melhor, por comparação com a anterior, mais ligeira, com menos intercorrências, com menos horas de sono e, por isso, também, com um bocadinho mais de cansaço.
A falta de horas de sono prendeu-se com a apresentação que fiz hoje em reunião de "staff", o que me levou, naturalmente, a algum estudo e ao tempo "perdido" em frente ao computador, neste teclado que ainda hoje me pergunto como é que foi possivel a sua idealização (até os gnomos devem ficar confusos), a compor os slides. Tudo correu muito bem, com comentarios muito positivos e de felicitações (por imposição da Cris, pendurada no pescoço), culminando com um comentario fantastico, e que vem ao encontro dos meus pensamentos aqui bem expressos na ultima semana, e que foi "Foste tu, sozinho, que fizeste os slides, ou alguém te ajudou?!"... No coments on the case!

Apesar da falta de horas de sono, o ânimo esta ao rubro, por mais uma visita. Desta vez, de uma das "blogueiras", como alguém, um dia, assim o disse. Mais do que uma "blogueira", uma amiga.
Desta vez, não fizemos a volta dos tristes, até porque é a 7a vez que vem a Paris e, também, porque o avião chegou tarde e a mas horas, o que fez com que todas as hormonas possiveis e imaginaveis que fazem com que sintamos apetite (não digo fome, pois quem me conhece sabe o meu comentario a este proposito...) estivessem ao rubro e se sobrepôs ao impeto do passeio. Assim, fomos directos à Creperie des Arts, em St Germain, comer uma galette sarasin com salmão.
E depois foi caminhar, caminhar, caminhar e fazer a catarse, muita catarse, um com o outro e para o outro.
E agora... caminha!

Bien à vous,
Fil

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Como os neuronios ainda fazem sinapse às 3 da manhã, isso é que eu não sei!

Chamem-me tolo, louco, maluco, tarado, doido varrido ou coisa-que-o-valha.
São quase 3 da manhã e eu acordado, frente ao computador, a escrever duas linhas (talvez mais) de treta para me divertir e a vocês também!

Não, não estou com alcool no sangue, não tomei nenhuma droga que dê speed, e não comi cogumelos magicos. Efeito ou não da jornada continua do dia de hoje no hospital e, depois, ca em casa, estou perfeitamente electrico.

O facto, é que estou ha cerca de 7 horas sentado frente ao computador a fazer uma comunicação para apresentar na 6a feira em reunião de "staff", sobre terapêuticas pré, per e pos-transplante hepatico nos doentes com infecção pelo virus da hepatite B e que, como é logico, têm indicação para transplante. Assim, julgo que os gnomos franceses que habitam no meu super-computador, emanam, nas suas 24 polegadas disponiveis, qualquer substância radioactiva que, por seu turno, activa zonas do meu cortex cerebral que, até ao momento estavam adormecidas, fruto do granizado de liquor de que fui alvo ha cerca de 15 dias quando Paris foi invadida por um frio polar. Podia ter sido por um conjunto de ursos polares ou de esquimos armados com lanças de pesca, mas não, foi mesmo so do frio polar.
Bom, o facto é que la consegui acabar os meus 27 slides, de pura ciência! Não sei é como é que amanhã vou acordar... Talvez com o despertador, quem sabe?

Alguns saberão, outros não, mas o facto é que estão disponiveis, desde o dia 19 deste mês, no sitio oficial da nossa radiotelevisão portuguesa, para quem assim o desejar, as musicas candidatas (assim como a possibilidade de exercerem o vosso direito de voto àquela que, os meus caros leitores, acharem que deve ser a musica representante do nosso Portugal por essa Europa fora) ao festival da Eurovisão da canção.
Tomei conhecimento deste evento numa das minhas incursões semanais àquele sitio na internet, às segundas feiras à noite, para ver o programa que passa em Portugal domingo à noite, e que é o "Conta-me como foi". Quem não conhece, aconselho vivamente. Retrata, de forma que julgo ser fidedigna, o Portugal do inicio dos anos 70.
Bom, o facto é que me vi "obrigado" a dar uma "escutadela" rapida as canções concorrentes. Também é verdade que temos verdadeiro(a)s (?!) artistas portugueses, como sejam a Floribela, a Nucha, o Gama e outros afins, uns mais e outros menos conhecidos. Contudo, não percam o vosso tempo. A qualidade das musicas é de tal forma ma que qualquer uma ira competir para um dos lugares cimeiros a contar do fim. Apesar disso, temos a nossa Floribela que, com a sua nova "poitrine", ira com toda a certeza, despoletar a motivação de muitos para votar.

Os gnomos, neste momento, estão-me a sugar energias.
Vou-me deitar, e ainda vou dormir umas 4 horas e meia. Faz-me lembrar os dias de urgência... Ahhhh...

Bien à vous,
Fil

domingo, 18 de janeiro de 2009

De baterias recarregadas!

Caros leitores,

Mais uma semana se passou e, tal como vem sendo habito, revestida de bons, maus e de pessimos momentos. Na realidade, qualquer semelhança entre o meu perfil de humor e os indices das bolsas internacionais, é pura coincidência.
Contudo, e tal como o provérbio assim o diz, depois da tempestade, veio a bonanza e, com ela, um fim-de-semana em familia, por terras de Marialoop, Bélgica. Foi maneira de me mudar a disposição e, basta recordar as gargalhadas do meu sobrinho para, no imediato, esboçar um sorriso na face.
Foi, também, o seu aniversario. Recebeu um robô, tal como ele desejava, por parte da sua avo e, por parte do tio, uma Torre Eiffel em Lego, e que foi o entretenimento do sobrinho e, em particular, do eu tio, durante toda a jornada de sabado e parte da de domingo. Sai da Bélgica ainda sem a construção concluida, mas cheguei a Paris com a noticia da obra terminada e, porque as vias de comunicação assim o permitem, também, com a obra visualizada.
Agora, é tempo de respirar fundo, acabar a escrita, arrumar a casa (por forma a tê-la apresentavel para a minha proxima visita - dentro de 5 dias), dar um pulo à rua para jantar qualquer coisa, e retornar com o fito de estudar para a apresentação desta semana que agora entra.

Faço votos para que o universo encontre de novo o seu caminho, e para que a lei da entropia se faça notar um bocadinho menos nas nossas vidas, esperando que estes tempos proximos sejam de paz e sossego, para todos...

Bien à vous,
Fil

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O Homem e a homenagem

15 de Janeiro de 2009.

Dia de perda de um Homem com qualidades inegaveis, com uma grande alma. Dia de perda de um mestre. Perda de um professor de muitos, perda de um "anjo" para todos os doentes que pelas mãos deles passaram.
Perda de um personagem que ja fazendo, ficou, em definitivo, na historia do Hospital Sto Antonio.
Perda de um Homem de forte caracter, de um pilar, de um sustentaculo para os doentes.

Contudo, esta madrugada, o coração, cansado, parou.

De Paris, um forte abraço, uma homenagem sincera, uma lagrima.

Filipe

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O ser e o sentir das "gentes"

Os dias, em Paris, vão-se sucedendo, de acordo com a sua ordem natural, uns atras dos outros.
E, à medida que os dias se vão passando, vou-me apercebendo, de forma crescente, do feitio e forma de estar do Francês, enquanto pessoa.
São afaveis e amaveis no primeiro contacto, que abusam de palavras conotadas com sentido prestativo e amigavel. Ë frequente ouvirem-se termos como "Oh! c'est gentil!", "Je te remercie de tout mon coeur!", e outros que tais.
Se, inicialmente, tais termos são, aparentemente, providos de sentimento, rapidamente nos apercebemos que são banalizados e que entram em qualquer frase.
Contudo, e passada a fase de "lua de mel", vou-me apercebendo da necessidade de afirmação dos franceses relativamente à minha pessoa (de alguns, não todos), como se eu estivesse aqui para lhes tirar o lugar. Assim, sinto-me posto à prova a todo o momento, desde a secretäria, o pessoal de enfermagem, até aos proprios colegas. Ja ouvi, e não foi so uma vez, em reuniões, "então vamos la saber a opinião do internista!" ou "Ah! Este é um caso para o internista resolver...".
Curiosamente, tenho este sentimento face a colegas especialistas mais novos, do que relativamente aos mais velhos, experientes e que, naturalmente, não têm de provar nada a ninguém.
Este sentimento, ainda não o tinha experimentado antes, na pratica clinica diaria e, muito francamente, não me agrada.
Contudo, tenho também o reverso da medalha, com opiniões francamente positivas, nomeadamente de "quem manda".
Tudo nas nossas vidas, até ela propria (a vida, claro esta), é transitorio. Assim é este estagio.

Bien à vous,
neste "Relier" relâmpago,
Fil

domingo, 11 de janeiro de 2009

L'amitié

Porque é algo de bonito e profundo, porque é algo que nos toca na alma e nos faz vibrar, porque é com ela que podemos abrilhantar os melhores momentos da nossa vida, porque é com ela com que sempre podemos contar, dedico, o "post" de hoje, à amizade, numa forma que so o poeta a sabe descrever, e numa voz, que so aquela que é a da Françoise Hardy a podia cantar.

Assim, deixo-vos com "L'amitié".


"Beaucoup de mes amis sont venus des nuages
Avec soleil et pluie comme simples bagages
Ils ont fait la saison des amitiés sincères
La plus belle saison des quatre de la Terre

Ils ont cette douceur des plus beaux paysages
Et la fidélité des oiseaux de passage
Dans leurs cœurs est gravée une infinie tendresse
Mais parfois dans leurs yeux se glisse la tristesse
Alors, ils viennent se chauffer chez moi
Et toi aussi, tu viendras

Tu pourras repartir au fin fond des nuages
Et de nouveau sourire à bien d'autres visages
Donner autour de toi un peu de ta tendresse
Lorsqu'un autre voudra te cacher sa tristesse

Comme l'on ne sait pas ce que la vie nous donne
Il se peut qu'à mon tour je ne sois plus personne
S'il me reste un ami qui vraiment me comprenne
J'oublierai à la fois mes larmes et mes peines
Alors, peut-être je viendrai chez toi
Chauffer mon cœur à ton bois."


Hoje, o "Relier" foi pequenino no tamanho, mas grande na mensagem.
Bien à vous,
Fil

sábado, 10 de janeiro de 2009

Nem tudo aquilo que parece... é!

Mais um dia se passou, mais um minuto de sol, menos um dia em Paris, mais um dia de estagio, menos um dia para o Verão, menos um dia nas nossas vidas, mais um dia de experiência, enfim... uma vida de mais e de menos, com um dia que se passou mais ou menos.

Hoje trabalhei, e nem me apetece discorrer sobre o assunto. Amanhã terei outra dose semelhante, talvez a terminar um pouco mais cedo, e com a perspectiva de me fazer passear no imediatamente apos a labuta.

Que ja fui ao Centro Georges Pompidou, os meus caros leitores ja sabiam, mas que ja havia repetido a dose, isso é que não!
Pois voltei ao museu no dia 4 de Janeiro, na companhia da minha progenitora e, também, da minha actual "companheira" de estagio em terras de vocês-sabem-quem (este nome tem a ver com as influências da minha actual leitura e, por favor, não se riam, "Harry Potter et les reliques de la mort" - 810 paginas do mais puro francês!) a Dra Brandoa (sera este o seu pseudonimo, doravante, nas cronicas do "Relier").
Fomos la por 3 motivos: o primeiro, e logo à cabeça, como não poderia deixar de ser, pelo facto de ser gratis (recordo-vos que, além de ser dia de aniversario do meu primo, também foi o 1° domingo do mês), o segundo, pelo facto da minha mãe e da Dra Brandoa nunca la terem ido e, o terceiro, para tirar fotografias de esculturas e quadros que me podem vir a ser uteis para futuras apresentações em congressos (fica sempre bonito...).

Assim, apresento-vos uma obra de Wang Du, intitulada "Le baiser", de 2005. E agora, por favor, não percorram a pagina do "Relier" rapidamente, pois tiraria a graça toda.




Esta escultura, em resina poliester, madeira e pintura acrilica (estou um verdadeiro entendido em arte, como podem constatar), poder-se-ia intitular "Nem tudo aquilo que parece... é!".
Vemos, então, uma figura masculina, com uma expressão de puro amor e carinho pela outra figura (neste momento so lhe vêem o cabelo) que vos garanto ser feminina. O abraço forte, os olhos cerrados e a expressão das sobrancelhas completa o tema.

Contudo...

Quem olha de lado...

Vê uma outra situação...




POIS NÃO Ë QUE A PARVALHONA DA MIUDA ESTA A BEIJAR OUTRO?!

As minhas questões são as seguintes:
1a - Atendendo à diferença de idade aparente entre o homem que abraça a rapariga e o rapaz, sera o homem o pai da jovem? Assim sendo, so demontra falta de respeito por parte dela, e nada como uns bons açoites naquele rabo e uma semana de castigo sem brincar com as barbies, para pôr a rapariga, de volta, nos "eixos".

2a - Se, de facto, o homem que abraça a rapariga não for o seu pai, mas sim o seu namorado e ela andar metida com outro, so demonstra que este mundo esta perdido, que nos (homens) não podemos confiar nelas, e que devemos, cada vez mais, fazer sexo seguro (pode ser na AXA, na Tranquilidade, na AMA, ou onde bem entenderem).

3a - Se a premissa da qual parto na 2a questão for verdadeira, então o rapaz que a beija também não esta isento de culpas, e proponho um dia sem a playstation!

4a - Mas, e se afinal, e como estamos numa sociedade moderna, todos souberem do que esta a acontecer e vierem a participar, tal como nos murais da "Salle de garde", numa relação a 3?

Independentemente de tudo, e de todos os julgamentos e conjunturas que se possam fazer face a esta obra, é inegavel a sua qualidade, quer artistica, quer de conceito.

Bien à vous,
o vosso, o de sempre, e verdadeiro,
Fil

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Rien à dire.

Hoje, escrevo para dizer que estou vivo: ainda respiro, a uma frequência de 16 ciclos por minuto, o coração ainda bate, a cerca de 65 batimentos por minuto, abro os olhos espontaneamente, cumpro ordens complexas e digo umas asneiras de vez em quando, mas de forma perfeitamente orientada e dirigida aos eventos do dia-a-dia.

O dizer um impropério em francês é rotina diaria (a minha amiga advogada diria certamente que é chique - concordo com ela) na conversação. Não fica mal, toda a gente o diz, e não tem, a maior parte das vezes (note-se), qualquer sentido pejorativo. De facto, parece-me mais arriscado dizer "connard" do que "merde" e outras coisas afins.
Bom, também não sei porque acabei por escolher este tema. Não sei e, se querem que vos diga, nem me apetece, sequer, pensar sobre o assunto.

Estou fatigado e saturado da desorganização dos franceses. Não se queixe, o povo "tuga" do facto de uma endoscopia ser desmarcada, um exame não efectuado porque o médico chegou tarde, ou que é picado na veia uma duzia de vezes. Garanto-vos, meus caros, que por aqui... é bem pior! Pior, ao ponto de haver doentes que são internados no dia anterior à realização de uma colonoscopia com sedação, devidamente agendada, com o fito de fazer a respectiva preparação, vulgo, "limpeza aos intestinos" e, no dia seguinte, apos passar a respectiva noite a correr para a casa de banho a ...-se todo, e a ter sido obrigado a beber 4 litros de uma agua salina que sabe mal e da vomitos, ver o seu exame cancelado porque não ha anestesista agendado para aquele dia ou o endoscopista teve uma diarreia...
Bom, contudo, tenho aprendido umas coisas, não fosse esse o grande motivo da minha vinda a Paris, e visto casos bem interessantes que me "têm passado pelas mãos".

Hoje, fiquei sozinho mais uma vez. A mãe emigrou para a Bélgica, foi ter com a mana (a biologica). Contudo, na proxima semana, terei o prazer de ter mais visitas (tenho de manter a média). Conto com mais uns primos, não fosse a familia ser numerosa e gostar de andar no "lareu".
Este fim-de-semana, sera de trabalho, no hospital. O proximo, sera de desforra na Bélgica.

Bom, parece-me que ja não escrevo coisas com nexo. Falta-me a inspiração.

Bien à vous,
Fil

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Un petit môt

Bonsoir à tous!

Aujourd'hui il fit un froid de canard, que é como quem diz, um "frio do caraças", para não aplicar um outro termo mais portuense e que, iria, sem duvida, fazer baixar o "niveaux" do "Relier". E tal, não queremos, pois não? Não, sobretudo apos a minha ultima descrição com direito a bolinha...

Assim, e como ja referi, hoje fez (e continua a fazer) muito frio. Tanto, que transformou a chuva em pequenos flocos de neve que persistiram em cair dos céus durante toda a jornada. Ë de facto fantastico o que a natureza nos tem para oferecer. Apenas temos de aproveitar, olhando, e registando nas nossas mentes as imagens fantasticas que esta cidade nos é capaz de oferecer, quando coberta de neve. Assim, Paris juntou, ao seu ja monocromatico tom, o "branco total".
Desta vez, não tenho fotografias para vos mostrar, mas fica a cargo da vossa imaginação, o contruir, nas vossas mentes, a imagem das ruas de Paris e pinta-las de branco.

Na realidade, não tenho mais nada para acrescentar hoje ao "Relier", que apenas esta "petit môt". O dia foi regular, com muito trabalho, mas não me posso queixar: ha quem não tenha nenhum!

Bien à vous,
Fil

domingo, 4 de janeiro de 2009

Se pretender activar o controlo parental, ligue para o 696969!

Como fazer aumentar as audiências da televisão? Ë simples: basta, no dia anterior, publicitar a passagem de um filme, ou série, ou coisa-que-o-valha que fale de sexo ou, pelo menos, de sexualidade... pois bem, o "Relier", hoje, resolveu apresentar uma parte um bocadinho mais picante desta cidade (que sal, vocês ja sabem que tem!). Não, não vos vou falar do theatre Chochotte (em St André des Arts), das montras da Rue St Denis ou dos bordeis de Clichy. Vou-vos falar, novamente, da Salle de Garde!!! Local onde todos os dias da semana vou almoçar, no hospital. Eu, e um grupo perfeitamente restrito de médicos e farmacêuticos, não havendo lugar para mais nenhum "grupo operario" do hospital. Segregacionista, não?
Ja vos falei dos rituais diarios das pancadinhas nas costas, do facto de não se poder falar outra lingua que não o francês, de não se poder atender os telemoveis à mesa, de não haver guardanapos (a consequência é ter de limpar os "beiços" à toalha de mesa), ou colher de sobremesa (o que implica comer o iogurte com o cabo do garfo - ja tentei comer com o cabo da faca mas é mais estreito, pelo que menor quantidade de iogurte acomoda, pelo que se demora mais tempo a comer e, consequentemente, a fazer a figura triste que é a de comer o iogurte com o cabo de qualquer coisa que não o talher devidamente inventado para desempenhar tamanha função).
Contudo, e apesar disto tudo, a Salle de Garde do Hôpital de Beaujon é tida como aquela em que melhor se come. Não tendo eu outra Salle de Garde para comparar, posso-vos assegurar que a comida é de facto bem confeccionada, o que faz com que seja, normalmente, a minha melhor e mais completa refeição do dia (à noite, ja em casa, fico-me por crepes pré-confeccionados, com queijo e fiambre, aquecidos no micro-ondas e uma fabulosa sopa Royco, por exemplo "Velouté de Légumes", que so demora um minuto e meio a fazer, e que tem as proteinas, glucidos, lipidos, fibras, sodio e vitamina C adequados às minhas actuais necessidades).

Agora, a parte picante... Crianças, desliguem o computador... Pais activem o controlo parental!

A Salle de Garde, no passado (aparentemente ja não se faz, pelo menos com a assiduidade adequada que permita o meu visionamento e participação, in loco, durante a minha estadia de 6 meses), foi alvo de inumeras festas, reuniões de afabilidade e troca de carinhos, enfim, quase (ou mesmo!) puras orgias (ou como diria um concorrente do Big Brother que ja não me recordo o nome, "orgias", mas com acento que este computador não me permite por)!
Claro esta que essas manifestações de carinho e partilha eram fomentadas, incendiadas, aumentadas ou qualquer outro adjectivo que implique "aumento de", pelos proprios murais pintados nas varias paredes da Salle de Garde.

São estes murais que vos passo a mostrar, ja de seguida, e que convivem comigo diariamente naquele hospital...



Este primeiro mural retrata, como os meus caros leitores podem observar, a ultima ceia, talvez aquela que ocorreu antes da ultima manifestação de luxuria na Salle de Garde, ou da ultima intoxicação alimentar... Reparem como Leonardo da Vinci tinha razão ao pintar, à direita de Cristo (no seu quadro original), uma mulher... Reparem, também, na manifestação de voloptuosidade que a mulher que esta a direita da imagem demonstra, ao oferecer os seus seios ao senhor que esta ao seu lado esquerdo. Reparem nas manifestações falicas que vão havendo em toda a composição. Todas as faces são representativas de alguma figura conhecida daquele hospital.



Este segundo mural é, julgo eu, uma homenagem ao asterix e obélix e aos festins que realizavam no final das suas aventuras, naquela pequenina aldeia resistente, na Galia, ou não fosse ser, o javali, o repasto preferido daquela população (que eu saiba, nunca me foi servido tal bicho nestes 2 meses e qualquer coisa). Esta composição é, apesar de tudo, um bocado mais explicita do que a anterior, no sentido em que o seu autor despiu os seus protagonistas das suas vestes...



Este fresco é, sem duvida, o mais "avant garde" de todos eles. Não comento posições, posturas, ou ordem natural das coisas.

E assim é, meus caros, a Salle de Garde de Beaujon.

Agora, vou almoçar à Place des Vosges e, a seguir, dar uma volta pelas exposições do Pompidou, aproveitando o facto de hoje ser o primeiro domingo do mês e, como tal, ser gratuito. Não usufruirei da companhia da prima e pai que partiram hoje cedo, muito cedo... Mas sim da mãe, que ainda fica ca mais uns dias, e da amiga que se resolveu aventurar 6 meses em Paris, num outro hospital, numa outra area, numa outra Salle de Garde...

Bien à vous,
Fil

sábado, 3 de janeiro de 2009

O sol frio de Inverno em Versailles

Ontem foi dia de descanso no hospital. Tal, deve-se ao facto de, como em todo o mundo, as instituições, no periodo de festas, andarem a "meio-gas". Paris não é diferente de tudo o resto e, assim, o hospital de dia e de semana, onde estou neste momento a trabalhar, fechou no dia 2. Como no dia 1 estive a trabalhar, não me causou qualquer dano moral o facto de ontem ter aproveitado o dia para folgar e, assim, fazer-me passear por Paris com a familia que ainda vai estando por ca, a queimar os ultimos cartuchos.

O dia, ontem, acordou não frio, mas sim, gelado! Tendo nevado um pouco na noite anterior, fomos presenteados, ao sair de casa, com um manto, ainda que pequeno, branco, sobre as estradas, telhados, plantas...

Apos uma viagem de cerca de uma hora de Metro e RER, chegamos a Versailles, assim como um mar de gente. Nesta terra, tudo parece planeado para fazer face aos caprichos dos turistas, pelo que não é nada complicado chegar ao destino.


(Chegada a Versailles: o Palacio, as pessoas e a neblina matinal)

O Palacio de Versailles é grande, sumptuoso e belo. Construido no século XVII no reinado do rei-sol, Luis XIV (que tomou o poder apenas com 4 anos de idade), é o maior Palacio da Europa e chegou a albergar, naquele tempo, cerca de 20000 pessoas. Brutal ! Foi com pena nossa que vimos uma série de galerias cortadas ao publico, para restauro, nomeadamente a opera (ja imaginaram, os meus caros, terem uma opera em casa ? « Oh Maria Antonieta, hoje queres ir a opera ? ») De facto, muito dinheiro foi empregue naquelas obras naquele tempo, dinheiro do proprio rei, claro esta, pois que ele era o estado logo, o tesouro do estado era dele !
Esperamos mais de uma hora para comprar os bilhetes de entrada, numa fila de centenas de pessoas, sob frio cortante, às 10 da manhã. Valeu-nos o chocolate quente que bebemos entretanto, e as roupas « térmicas » que levamos. Descobri que o meu cartão de estudante da universidade de Paris de pouco me vale. Fosse eu saber e teria vindo para ca fazer um estagio ou mestrado em artes. Esses sim ! Esses é que têm todas as regalias de tarifas reduzidas para a entrada de espectaculos e museus. Resta-me a luz ao fundo do tunel, que é como quem diz, as vantagens fiscais no IRS (continua a sonhar, Filipe, continua a sonhar…) !

Como ja referi, o Palacio faz juz ao nome. Desde os portões ao pormenor das pinturas dos tectos, tudo é perfeito e simétrico. O quarto de Luis XIV ficava, como não poderia deixar de ser, exactamente no centro do Palacio, virado a nascente. Rei-sol que se preze tem de ter o astro-rei a entrar-lhe pelo quarto dentro logo no inicio do dia, numa espécie de simbiose, de quem emprega o nome de um e do outro simultaneamente, apenas em sentidos diferentes « rei-sol » e « astro-rei ».


(A capela do Palacio. Pequenina... Muito pequenina...)

Os jardins são outra coisa de colossal. Redesenhados por André Le Nôtre, são um conjunto de alamedas, lagos, jardins, bosques e estatuas. O Inverno mostra-nos uns lagos tomados pela cor branca do gelo, que substitui o azul a que a agua nos habituou. A ausência de flores e de cor não tirou beleza ao quadro. Julgo, francamente, que os jardins, em particular, deverão ser visitados tanto no Inverno como no Verão. Duas estações do ano diferentes, a traduzir 2 belezas distintas mas complementares.


(Os jardins do Palacio, com referência particular aos lagos e canais, gelados...)

Assim, o dia de ontem foi passado, basicamente, em passeio por Versailles, que recomendo vivamente a quem vier a Paris. Ë uma espécie de Serralves, mas para maior… coisa pouca…

Hoje passeamo-nos pela cidade, apos restituição das varias horas devedoras ao sono, em trajectos por ruas da margem direita e esquerda. Passamos pela Place Vêndome, que ainda não conhecia e que é, igualmente, muito distinta.

Amanhã 2/4 da população residente na ultima semana do 2o andar do prédio C da Passage de l’ancre volta ao nosso Portugal, para o nosso sol e calor. Dentro de dias ficarei sozinho de novo, mas não por muito tempo !

Bien à vous,
Fil

PS : Voltarei amanhã com fotografias picantes… muito picantes… com direito a bolinha e tudo !

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

UNE TRES BONNE NOUVELLE ANNEE 2009!!!

Caros leitores, um bom ano!

Acabei o ano 2008 em Paris e, vejam so o curioso, comecei o ano 2009 em Paris. Estranho, não?!
O repasto de fim d'ano (eis que os prezados amigos começam a denotar a influência da escrita francesa com uma outra coisa que lhes é particular e à qual eu chamo "comedora de letras", que é como quem diz, o "apostrofo") foi feito ca em casa: camarões, salmão fumado com limão e vodka, roti de porco, queijo, fiambre, foie-gras, tudo "regado" com Sauternes (escolha da sapiente prima).
Pouco depois das 22:30 saimos à rua, rumo à Torre Eiffel, apos conselho dos autoctones ca da terra (colegas do hospital), na esperança de ver a nossa passagem de ano abrilhantada por um extraordinario fogo de artificio.
Fomos a pe (apesar da gratuitidade do metro), pelo que escusado sera dizer que chegamos ao destino perto das 12 badaladas. Deixo-vos uma fotografia que tirei pelo caminho e que dispensa quaisquer comentarios.


(Fotografia tirada na Passerelle des Arts, versando a Ile de la Cité.)


Pelo caminho, fomos passando por "gentes" de todas as raças, cores e feitios, umas mais embriagadas do que outras, umas mais euforicas do que outras...
Chegados ao local, e como qualquer "tuga" que se preze, "armamos a tenda". Isto é, tiramos as taças de champanhe (de plastico, compradas no Monoprix), e colocamos, em cada uma, 12 uvas. Guardamos a abertura do néctar para o momento imediatamente apos o pedido dos 12 desejos, feitos ao ritmo de cada uva deglutida que, como deveria ser e não é (virtualmente impossivel comer uma uva por cada segundo), a cada badalada.
12, 11, 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, ... 1... 2009!!!! Beijinhos, abraços, yuppiiiii, urraaaahhhhh e todas as manifestações tribais que possam imaginar. Abrimos a garrafa de champanhe e bebemos. Virtude de termos levado 6 "flutes", de sermos apenas 4, de ainda haver champanhe e um casal de polacos ao nosso lado praticamente "fundidos" um no outro (estava frio...), e imbuidos de espirito filantropico, partilhamos o nosso alcool com aqueles dois seres que, como nos, estavam à espera do fogo de artificio. E, tal como nos, esperaram, esperaram, esperaram e, cansados de esperar, foram embora!
Pois é, caros amigos, não houve nenhum fogo de artificio magistral, apenas uns foguitos, aqui, ali e acola, virtude de iniciativas privadas. Contudo, à meia noite, a torre deixou o seu tom azul-cianosado que ja aqui vos falei para passar a brilhar tipo cristal swarovski.

(Torre Eiffel ao virar do ano)


Contudo, e porque a romaria até tinha semelhanças com o nosso São João, não poderiam faltar os nossos balões a vaguear pelos céus de Paris. Perguntei-me, sem ter obtido qualquer resposta, como é que se deverão chamar os nossos balões de S. João em Paris: "Ballon de Paris?"

No regresso, passamos pelos Champs Elysées (onde a festa também deve ter sido bonita, a julgar pelas 750000 pessoas que por la passaram o ano), e acabamos por fazer todo o caminho até casa, a pé. Claro esta que, não me tendo deitado tarde para uma passagem de ano (pouco passava das 2:30), deitei-me tarde para quem tinha de trabalhar no dia seguinte, e que foi o que aconteceu.


(Champs Elysées, repleto de gente e não de carros, como o habitual)


Um dia apos o outro, um ano apos o outro, e tudo continua na mesma, salvo os 12 desejos ou vontades que temos, suspensos por cada badalada, e que normalmente assim de manterão mais 365 dias, até voltarem a ser renovados na proxima passagem de ano. Esta foi em Paris. A proxima, onde sera?

Bien à vous,
une très bonne nouvelle année,
Fil