domingo, 30 de novembro de 2008

Nas margens do Sena...

Misturado com a brisa fresca que acompanhava a corrente do rio, ouvi os risos de uma criança. Brincava, dava de comer às gaivotas, aos cisnes e às pombas que pairavam sobre a margem. Feliz, num puro acto de filantropia e de comunhão com a natureza, num momento raro de beleza e ternura, numa mescla de regozijo e de medo pela proximidade pouco habitual das aves ao pequeno ser humano. O pai, embevecido, contemplava o filho e, assim, partilhavam de um momento que, com uma grande probabilidade, nem um nem o outro se recordarão de futuro. Imortalizei esse momento num ficheiro de 3264x2448 pixeis que aqui vos deixo.

Bien à vous,
Fil

sábado, 29 de novembro de 2008

O espirito de Natal!

O espirito natalicio chegou, finalmente, a Paris, e atingiu-me em cheio!
Finalmente, e aproveitando a estadia (ainda que breve) de uns amigos, sai à rua, respirei o cheiro da cidade e voltei a cumprimentar Paris. Que beleza de sitio! Não fiz nenhum percurso novo nem conheci, na essência, novos lugares (talvez uma ou outra rua). Saimos de casa, passamos pelo Forum des Halles, seguimos em direcção à Place des Vosges e la nos demoramos um pouco. Prosseguimos em direcção à Ile de St Louis, atravessamos para a margem esquerda do Sena, entramos pelo Quartier Latin, fomos até St. Germain-des-Prés e, finalmente, retornamos a casa.
Agora, estou de novo so, mas de alma cheia.
Paris esta festivo e o rebuliço das pessoas ja faz notar a quadra que se aproxima. A brisa gelada que nos bate na cara também não nos faz esquecer que o Natal esta à porta.
Assim, não vos vou falar da cidade ou dos locais por onde passamos (remeto-vos para posts anteriores) mas sim das decorações de Natal que Paris nos tem para mostrar.

Começo, precisamente, pelo Forum des Halles:



O Forum des Halles, contruido em 1979, mostra-se aos seus visitantes como um conjunto de galerias envidraçadas que circundam um patio no seu interior, e foi construido no local onde antigamente se realizava o mercado de frutas e verduras. La, podemos encontrar quase de tudo: desde géneros alimenticios, no seu supermercado, passando por todo o material informatico e tecnologico (como na fnac e afins), até lojas de roupa e artigos para a casa. Na realidade, é um espaço luminoso pelo facto de ser envidraçado e, no decorrer de todas as galerias, podemos ver a decoração de Natal conforme expresso na fotografia acima. Não aprecio, em particular, a cor que utilizaram, sobretudo, pelo seu excesso.

Contudo, o cor-de-rosa/ fushia/ como lhe quiserem chamar, esta espalhado um pouco por toda a cidade, desde laçarotes em vitrinas de lojas, a bolas penduradas em arvores, enfim... inclusive, na Place des Vosges, também encontrei o mesmo tipo de decoração que no Forum des Halles. Sera a moda?



As proprias montras das lojas tentam mostrar o seu melhor, e cativar, dessa forma, o mero transeunte para uma viagem ao mundo do cartão VISA e, assim, deixar uns euros nos bolsos dos seus proprietarios. Apesar de não terem sido as montras mais bonitas que encontrei, foram aquelas que fotografei, e ambas na Ile de St. Louis. A primeira, uma loja de brinquedos, dos verdadeiros, dos classicos, daqueles que fazem parte da nossa memoria e que nos fazem viajar ao periodo em que tinhamos 7 anos. A segunda, não é mais do que uma montra de uma loja de chocolates. Nem parece...
Aproveito para dizer que, na Ile de St Louis, e conforme ja vos havia dito em posts anteriores, se encontra uma das gelatarias mais conhecidas de Paris - Berthillon. Apesar do frio, comi um gelado de maracuja. Pura polpa...





E, assim, imbuido de espirito natalicio resolvi, então, comprar o meu sapin de Noël. Apos ponderar se queria um pinheiro natural (e os daqui são bem bonitos), ou artifical, acabei, no final, por não comprar nem um nem outro, mas sim uma "espécie" de pinheiro que podera ser facilmente transportado para Portugal e, assim, ajudar a recordar, para o resto dos meus dias (salvo quando as luzes fundirem mas, ai, é outra historia...), o 1/60avos da minha vida que passei nesta cidade.



Deixo-vos, agora, com uma das mais bonitas fotografias que tirei em Paris, sobre a "Pont Notre Dame", com vista para a Ile de la Cité.



Bien à vous,
Fil

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Cartões e dinheiro...



Bonito, não?
Hoje recebi o meu cartão de identificação do hospital. Apesar de ser, na realidade, um pedaço de papel impresso numa impressora banal e inserido num envolucro de plastico, vale como um cartão como o de todos os outros, e da sempre aquele ar de "individuo" totalmente inserido no meio, ao fim e ao cabo, como se fosse mais um dos connards dos franceses. Mas, caros leitores, desenganem-se, pois que, de connard, não tenho nada!
Mais uma boa noticia, e mais uma prova de que afinal este povo é amistoso e que me recebe de braços abertos (não! Não fumei drogas nem consumi cogumelos magicos...): Recebi o meu primeiro salario como médico em França: um acontecimento! Contudo, desenganem-se, mais uma vez, se julgam que foi um ordenado chorudo. Recebi tal e qual, quase ao cêntimo, aquilo que recebo em Portugal de salario base, com a agravante de ter sido... sem subsidio de Natal!
De resto, não tenho mais noticias para vos dar.
Amanha voltarei a ter companhia ca em casa, e assim sera ate meados do mês de Dezembro.
Prometo, em breve, deixar-vos imagens deste Paris "anatalado", ja que conto dedicar-me, no proximo fim de semana, ao passeio, e às fotografias nocturnas desta cidade, assim o tempo o permita. Quero, também, aproveitar para comprar o meu "sapin de Noël": pequenino, às dimensões do apartamento, mas bonito...

Bien à vous,
Fil

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Não ha nada como um dia apos o outro...

Ë verdade, meus amigos: não ha nada como um dia apos o outro. Que o diga S. Pedro que faz com que nuns dias chova e noutros faça sol (ha quem diga que tem a ver com os centros de baixas pressões mas eu não acredito... so podemos justificar a chuva que por vezes é suja, outras vezes acida, outras vezes forte e outras vezes granizo, com a diurese do santo que tem a chave do céu, pois caso contrario vejam: a chuva acida é a infecção urinaria, a chuva forte, é quando tem a bexiga cheia, o granizo é quando expulsa os seus calculos urinarios...).
Digo isto porque, apos dias a lamentar-me e, convenhamos, que com razão, sobre a nuvem negra que pairava sobre a minha cabeça em Beaujon, hoje, as nuvens começaram a dissipar-se e a deixar uma réstia de esperança. De facto, e apos conversa com a Antonella (a senior mais junior), os "trucs" mudaram, pois ela falou directamente com o chefe de ala, referindo o meu desconsolo/ desagrado/ desânimo (enfim, chamem-lhe o que quiserem que, com toda a certeza, sera adequado) face ao meu estagio no Hospital, e o meu actual "mentor" vai delinear uma estratégia de intervenção que, apos ter falado comigo me parece ser, de momento, a mais adequada.
Hoje, recebi, também, o meu diploma e a sua respectiva tradução, pelo que julgo ter, agora, os documentos todos necessarios para voltar à faculdade...
Vamos então ver se, apos um mês de estagio, o jogo mude a meu favor.

Hoje, também, tive a primeira visita no meu domicilio, de Portugal, que não familia. Assim, fui jantar com uma colega de profissão e amiga e a sua cara-metade, à creperie Beaubourg, ao lado do centro Pompidou (no caminho em direcção ao Pompidou, dei comigo a pensar que ja não passava por ali ha quase 15 dias, o que é resultado da minha vida casa-hospital-casa).
Apos o repasto que, saliente-se, me foi oferecido pelo amavel casal (desde ja agradeço, e faço votos para que voltem e, sobretudo, que todos aqueles que me venham visitar tomem esta atitude como modelo, como um bom exemplo, ...), viemos ao meu fantastico apartamento de 34m2. Esteve-se bem, e fez-se a catarse. A partir de Janeiro, verei a Mariana com mais frequência, ja que se ira juntar a mim nesta cidade, também para um estagio, mas não no meu hospital. Enfim... vivemos na verdadeira aldeia global!

Bom, minha boa gente, a inspiração não é muita e o cansaço apodera-se de mim, dando ordens ao cérebro para me enfiar na cama e repousar nos braços de Morfeu. E ainda por cima amanhã tenho de acordar 5 minutos mais cedo para desfazer a barba...

Assim, tiro como conclusões deste meu post:
a) tudo na vida é passageiro, como sejam os maus momentos (o que é bom), ou os bons (o que é mau);
b) que "a arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte" - frase que não é da minha autoria, captada no meu consciente (e subconsciente também, porque não?) por interposta pessoa (ha muitos anos atras): a "mana".Não so é uma frase bonita, como também serve para nos lembrarmos que, para vivermos a vida com gosto e conforme queremos que ela seja vivida, é preciso não so querer, como também fazer por isso!
c) que o melhor da vida são a familia, os amigos, e que os momentos memoraveis que vamos passando são, a maioria, passados com eles. Claro esta que todos temos os nossos momentos introspectivos, de solidão "necessaria", onde nos reafirmamos como pessoa e consolidamos o nosso caracter...
d) que este meu blogue, seja nos meus "posts", seja nos vossos comentarios, ficara para sempre na minha memoria (pensada e escrita) e, seguramente, na vossa também.

Assim,
bien à vous,
o vosso,
Fil

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

De mau humor!

Caros leitores, desculpem.
Desculpem pela escrita quase "hebdomadaire", desculpem pelo mau feitio que as minhas palavras possam expressar nestes proximos minutos de prosa mas, o facto, é que o meu estado de espirito não é, de forma alguma, dos melhores. Este estado de espirito, que me aflige de vez em quando, justifica-se pela conjuntura astral, dado o facto de ser do signo Gémeos. So isso pode justificar a minha alternância do bom e do mau humor. Isso, ou uma psicose maniaco-depressiva. Em todo o caso, julgo preferir a primeira.
Pois o meu estado de espirito não é devido à saudade, ou à "nostalgia" como estes idiotas dos franceses gostam de dizer (é o melhor termo que conseguem arranjar para descrever a palavra e o estado de espirito que é saudade, tão tipico do ser português; não nego, contudo, que me falta, por vezes, a familia, as gentes conhecidas, vocês, o meu carro, o meu hospital, os meus doentes, os meus colegas de trabalho - não imaginam como é agradavel ligar, quando estou a trabalhar no Porto a um outro Serviço para fazer um pedido ou seja la o que for, e ouvir do outro lado "Ah Filipe, és tu! Como estas?!...), não é devido ao tempo invernal que, tão ajustado a esta época do ano ja se faz sentir, não é devido à cidade que, na realidade, não tenho tido a oportunidade para a conhecer, não é devido à apresentação de 6a feira que, alias, correu muito bem.
O facto, é que vim para um centro europeu de referência de doenças hepaticas e, aquilo que constato, é que não são melhores do que nos em nada: são desorganizados (o numero de processos que se perdem, os relatorios que ninguém sabe onde estão, ...), as instalações são mas (com acento) e, além do mais, estou num regime do verdadeiro "desenmerdanço" (esta palavra existe, la tante?)... Dou-vos, como exemplo, o meu ultimo fim-de-semana de "Astreints", em que era suposto ter uma especialista a trabalhar comigo quer no sabado quer no domingo. O facto é que, sabado esteve no hospital das 10:30 as 13 horas, amavelmente deixou-me o seu numero de telemovel, para o caso de eu ter "qualquer problema" e foi-se embora. Não me perguntem onde é que a senhora estava no domingo, pois também não sei, mas enquanto que o escravo trabalhava a ganhar uns miseros 60 euros pelo fim-de-semana total (!?), imagino que sua excelência se encontrasse no vale dos lençois, sabe Deus a fazer o quê. E ainda falam que os médicos em Portugal não trabalham? Juizo!... Pois é, o balanço do meu quase 1° mês de trabalho não é positivo, de forma alguma. O unico momento que se demonstrou verdadeiramente formativo, até à data, foi a apresentação de 6a feira, pois tal obrigou-me a estudar. Ai, na apresentação, estavam la todos, para fazer perguntas... O meu ultimo slide, apresento-vos mais abaixo. Um conjunto de fotografias do meu Sto Antoninho. Diz quem la estava, que eu olhava para aquele slide com um verdadeiro facies de nostalgia. Ai sim, a palavra foi bem aplicada.

Bien à vous,
Fil





PS: apesar disto, e porque "life goes on", fui jantar, sabado à noite, ao Zanzibar. Um restaurante perto da républica, africano, do qual gostei em particular, pelo espaço fisico e pela companhia que foi excelente (uma quantidade de pessoal italiano, amigo da Antonella, a minha colega sénior, mas junior...). Em breve, quando estiver mais bem disposto, deixar-vos-ei as minhas referências para o "guia das estrelas morfes do Nery".
PS2: Também vou, a partir desta semana, e até ao dia 14 de Dezembro, ter gente a visitar-me. Vai ser bom, também, para me obrigar a sair da rotina!

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O Metro

O metro é uma lombriga que percorre os intestinos desta cidade a uma velocidade estonteante. Velocidade da maquina em si e dos elementos que a vão parasitando em cada minuto.
No metro entra gente e sai gente. No metro vêem-se pessoas bonitas, pessoas feias, muitas pessoas muito feias e poucas pessoas muito bonitas. Vêem-se brancos, pretos, amarelos, gente que gostava de ter outras cores. Gente com mamas, sem mamas, gente que gostava de as ter e gente que gostaria de ter nascido sem elas. Gente nauseabunda, gente Channel N°5. Gente com écharpe ao pescoço, com a écharpe na cabeça, écharpe à cinta e sem écharpe. Mulheres giras e sofisticadas. Mulheres mal tratadas e mal amadas. Vêem-se crianças de todas as idades, o futuro deste pais. Gente com piercing, gente sem piercing, gente com piercing e com piercing e com piercing... Gente que sai e que entra. Executivos, doutores, vendedores, ladrões, professores, gestores, ladrões, bancarios, logistas, ja vos falei dos ladrões? Gente feliz, contente, gente deprimida, ausente... Gente que acabou de receber a melhor noticia do mundo, gente que acabou de receber a pior noticia da sua vida. Gente que entra e que sai. Uma paragem, duas paragens, três paragens, ... "pardon, pardon, PARDON!" ..., quatro paragens, cinco paragens... Gente que sai e que entra.
E assim vai fucionando o metro, dia apos dia, nas entranhas profundas da cidade, sem ver a luz do dia. A melhor, e a pior das invenções!
Assim é o metro de Paris.

Bien à vous,
Fil

Abaixo: Fotografia de 1945 de Robert Doisneau - Le Métro


quarta-feira, 19 de novembro de 2008

INFORMACAO

Caros leitores,
o gestor deste blogue (vulgo eu proprio), informa vossas excelências de que não estara disponivel para qualquer relato mais ou menos mirabolante desta vida nada pacata de trabalhador parisiense nos proximos 2 dias. Tal, deve-se a uma apresentação no Serviço dentro de "environ" 36 horas e, para a qual, este vosso humilde anfitreão tem de estudar para não fazer ma figura.

Sem mais de momento,
com a mais elevada estima ou, como nos gostamos de dizer, no final de um relatorio médico para um colega, "Je vous prie de croire, Cher Confrère, en l'assurance de mes salutations les meilleures, ..."

Bien à vous, até breve,
Fil

domingo, 16 de novembro de 2008

O fim-de-semana na Bélgica

Bonsoir, mes amis!
Eis-me voltado de um fim-de-semana familiar, a uns 300km de Paris.
A proximidade da cidade-luz de outras regiões de interesse fazem com que, como os franceses também gostam de dizer com regularidade "en fait", as deslocações a outros locais sejam rapidas e, sobretudo, tentadoras...
Assim, fui passar o fim-de-semana até a Bélgica, a residência da minha irmã, onde fiquei perto de 48horas... Ë sempre bom o aconchego do lar familiar. Assim, deu para "matar" saudades (que ainda eram poucas, dado ter estado com esta parte da familia ha cerca de 15 dias), ver um jogo de voleibol da minha irmã, "curtir" a noite de ontem numa festa em prol de Burkina Faso em Passandale, almoçar em familia (tal como se pretende no dia do Senhor) e, finalmente, retornar aquela que é a minha residência actual, por mais 5 meses e meio.
Quanto a festa de ontem a noite, ja estava agendada, e teve lugar no centro paroquial da Vila que supracitei. Curioso foi ver, logo na porta (por cima) da entrada do centro, uma caixa iluminada, com os seus 80x60cm, com duas linhas, a inferior, onde podiamos ler (em flamengo, claro esta!) "Centro Paroquial" e, a de cima, o reclame da Jupiler (a cerveja), tal como a imagem acima. Ë bonito de se ver: um centro paroquial patrocinado por uma marca de cerveja. Imagino as "raves" que por la não se fazem... O facto é que, na festa, todas as bebidas eram gratuitas, o que, como os caros leitores devem imaginar, levou a excessos e, a "paginas tantas", estavamos a admirar as figuras que os participantes de tal acto de altruismo a favor de Burkina Faso, faziam...
Seja como for, foi uma noite muito bem passada, com a irmã, cunhado e amigos de ambos. Pena, no final, o cheiro a tabaco que, inevitavelmente se infiltra nos tecidos das nossas roupas.

Amanha começa uma nova semana de trabalho, para mim, e para todos aqueles que estão no activo. Para todos os outros, desejo uma boa semana de descanso, de fisioterapia, de leitura, de passeio, de cinema, de diversão, enfim: de boa disposição pois, no fim de contas, é aquilo que se leva desta vida!

Bien à vous,
Fil

sábado, 15 de novembro de 2008

A luz ao fundo do túnel!

Caros leitores, bom dia!
Como o tempo passa rápido... Estou há quase 1 mês fora de Portugal e não parece, na realidade, que tenha sido há tanto tempo assim! O facto, é que das 24 semanas que terei de estágio, 2 já passaram, apesar de algumas adversidades que os meus caros têm a oportunidade de ir conhecendo.
Esta última semana, apesar de tudo, foi mais ligeirinha, pelo simples facto de, em França, a 11 de Novembro ser feriado (dia do Armistício). Quanto ao trabalho, começa a ser pautado pela rotina...
Também, nesta última semana, o português esteve bem presente no meu dia-dia, pois não houve um único dia em que a nossa língua-mãe não fosse falada no hospital. Eles são Portugueses, Angolanos, Cabo-verdianos, enfim...
Estes últimos dias também têm sido dias de resolução dos problemas borucráticos (só me falta, basicamente, o certificado de curso e a respectiva tradução certificada, para o processo estar (espero), regularizado). Recebi a minha certidão de nascimento, fui buscar os outros documentos que tinha deixado a traduzir e... abri conta no banco.
Contudo, mais uma vez, deparei-me com dificuldades e com as burocracias do sistema francês. Na 2a feira fui ao banco e estava fechado... na 3a feira foi feriado, na 4a feira, por motivos inerentes ao serviço não pude ir e, na 5a feira, lá consegui sair do hospital por breves instantes após o almoço e ir ao banco. Quando lá cheguei, não havia clientes, mas sim uns 4 ou 5 funcionários ao balcão que, como devem imaginar, estavam todos altamente atarefados. Toda a conversa seguinte foi passada, naturalmente, em francês, mas deixo-a aqui traduzida:
FILIPE: "Bom dia!"
SENHOR DO BANCO: "Bom dia!"
F: "Gostava de abrir uma conta bancária, por favor..."
SDB: "Marcou um rendez-vous?" (Esta palavra, tão tipicamente francesa vou deixá-la, propositadamente assim, conforme o original)
F: "Rendez-vous? Não, não marquei... Mas a que propósito? Vim apenas abrir uma conta."
SDB: "Pois... mas sem rendez-vous não é possível atende-lo, pois não está ninguém disponível!"
(Filipe olha à volta, vê vários funcionários, nenhum cliente e, imbuído de cólera, e num tom elevado de voz, como é característico do povo de Viriato, e a sacudir violentamente o passaporte que tem na mão esquerda)
F: "Não acredito! Os franceses são loucos, este país é inacreditável! Desde que cá cheguei que só tenho tido entraves... São papéis, documentos que não têm cabimento de ser, rendez-vous a torto e a direito, quase que é necessário marcar um rendez-vous com a senhora da padaria para ir comprar uma baguete... Vou voltar para o meu país! Vocês são doidos!"
SDB: "Bom, tenho um rendez-vous marcado com um cliente daqui a 15 minutos... Venha comigo por favor..."
F: (vendo a luz ao fundo do túnel, e entrando no gabinete do SDB) "Peço desculpa, mas desde que cheguei só tenho tido dissabores com o sistema francês..."
SDB: "Pois... é sempre complicado para quem vem de fora..."
(Entretanto, Filipe entrega os documentos necessários - passaporte, certificado de residência, comprovativo do estágio - e olha atentamente para a secretária do SDB: Várias fotografias do SDB de férias na India, Brasil, Portugal, ... e uma placa com a identificação do próprio: GEORGES FERREIRA)
F: (ainda em francês) "Desculpe, mas... é Português?"
SDB: (já em português com sotaque...) "Sou filho de portugueses... e atendi-o porque vi o seu passaporte português na mão, e sei o quão difícil é, para quem chega, integrar-se, ou estar familiarizado com o sistema."
A partir desse momento, tudo correu bem: Já tenho conta no banco, cartão visa, livro de cheque, enfim... Viva Portugal e os nossos emigrantes que por aí andam!

Hoje acordei fantasticamente tarde, acordado por um beijo da princesa Catarina.
Prevê-se uma noite longa, de pura farra!

Bien à vous,
Fil

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

á, é, í, ó, ú!

á, é, í, ó, ú!!!!!
Acento GRAVE!!!!!!
Contudo, tal estado de euforia é apenas do momento pois, apesar de estar a escrever num teclado AZERT, é um teclado AZERT belga... Pois é, caros leitores, a proximidade da cidade-luz com o resto da Europa, fez com que viesse passar o fim-de-semana à Bélgica. Nada como um TGV (e a sua 1a classe... que conforto!) para nos deslocarmos a uma velocidade quase, quase, equiparável à da luz.
Tenho mais algumas histórias para contar, que foram acontecendo ao longo da semana, mas fica para amanhã.
Vou aproveitar o conforto do lar familiar, e desfrutar...

Bien a vous,
Fil

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Portugais?

"Qui est cinglé, lui ou vous? Un fou nous fait la morale... Francisco est fou, parano, schizo, mytho, portugais... Pourtant il ne s'agrafe pas les testicules sur une porte comme Jackass, il ne se crucifie pas sur une croix tel des fanatiques Philippins, il n'écoute pas Grégory Lemarchal... Par contre, il mange des oeufs. Porquoi?"

Este foi o "mote" para ir, ontem, até ao Theatre de la main d'or, na Bastilha. Peça escrita e interpretada por um Português (Francisco E. Cunha), e aconselhada pela "la tante", fazia prever um serão bem passado.
Começo por descrever o espaço. Uma sala grande, multicolor, com cadeiras e mesas todas diferentes e uns sofas feitos de "desperdicios", acolhe os espectadores que vão chegando ao local, antes de começar o espectaculo. Um cheiro entranhado a tabaco, exala dos poros das madeiras, e a luz dos focos não é suficiente para iluminar, de forma uniforme, toda a sala.
Cerca de 20 minutos apos a hora prevista, as portas pretas que dão acesso à sala de espectaculos abriram-se finalmente, e la entramos. Devo dizer, antes de continuar, que ha 2 tipos de espectadores: aqueles que pagam o bilhete à entrada (foi o meu caso, 8€) e aqueles que são denominados "clientes chapéu", que não pagam nada pelo bilhete e que, no final, caso assim o entendam, e de acordo com o seu agrado (ou desagrado) face à prestação do artista, deixam, à saida, o montante que bem entenderem, dentro de um chapéu estrategicamente colocado.
A sala de espectaculos, não sendo grande, permite, bem aconchegadinhos, albergar aquilo que eles dizem, 120 pessoas. Tem uma disposição em anfiteatro, com uma espécie de tabuas a fazer de bancos e umas almofadas vermelhas aveludadas onde podemos sentar o traseiro.
O espectaculo escrito e interpretado pelo nosso amigo tuga não foi propriamente apreciado por este vosso cicerone. Não sei se por estar imbuido (eu proprio) de um espirito lusitano que não o sabia assim tão vincado, mas o facto é que o nosso comediante acabou por fazer uma parodia aos portugueses o que, se fosse em Portugal, até teria a sua piada, mas não em terras de Marie Currie. Achei que a propria palavra "portugais", expressa varias vezes pelos espectadores franceses, foi dita sempre com "ar de deboche". Portanto, quase tudo aquilo que era suposto ter piada (e que se calhar até tinha) não me fez "rigoler". Contudo, a questão "Par contre, il mange des oeufs. Pourquoi?" é uma pergunta que nos faz pensar e, não sendo necessario grande contexto (a não ser que o artista deixou bem claro e aconselhou toda a plateia a fazê-lo, varias vezes por dia, todos os dias do ano...), deixo-a aqui no ar e, dando um ar de interactividade ao blogue, espero pelas respostas dos meus caros leitores, sendo que a resposta da mana não vale, pois ela ja sabe qual é...

Hoje o dia no hospital foi diferente. Começou pela boa disposição matinal com que acordei, o que fez com que o dia fosse pautado pelas minhas "graçolas" multilingues: em Francês, Português, Italiano, Inglês, gestual, enfim... Onde a vossa imaginação vos levar!
Foi diferente, também, pelo facto de ter tido 3 doentes cuja lingua-mãe era o Português, que é como quem diz um par de conterrâneos e um Angolano que, curiosamente, não falava Francês, pelo que servi como intérprete e tudo. Curioso foi, quando um outro doente, de nacionalidade francesa, apercebendo-se que eu era Português, também começou a falar comigo na lingua de Camões. E porquê? Porque foi emigrante durante 8 anos no Brasil...
O dia terminou, com uma das especialistas a dizer que eu me "débrouille" muito bem!

Assim, estou com o meu espirito de português levado ao rubro! Viva Portugal!

Bien a vous,
Fil

PS: Peço desculpa, mais uma vez, pela falta de acentos. Ainda hoje perguntei ao pessoal do hospital se o "clavier AZERT" em França não tem o acento grave, ou o "é" maiusculo, sendo que a resposta, pelo aspecto do meu mail, ja sabem qual foi...

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Gnomo morto, gnomo posto!

Caros leitores,
os gnomos, esses pequenos seres de que ja vos tenho falado em "posts" anteriores, assemelham-se a qualquer ser humano no sentido em que ha os maus, os bonzinhos e os muito bons. Infelizmente, tal como os seres humanos, os gnomos maus, quando atacam, destroem tudo aquilo que lhes passa pela frente, ao passo que os seres humanos muito bons, pela sua raridade, pouco se fazem sobressair. Seja como for, e tal como "a mana" disse (e muito bem), ontem, o meu computador portatil que me vem fazendo companhia ja la vao uns bons quase 3 anos, crashou. Claro esta, que a culpa foi do conjunto de gnomos que vieram dentro do cavalo de Troia. Os gnomos bonzinhos ainda tentaram avisar (coitados, são simpaticos, mas pouco podem contra os gnomos maus), lançando caixas de textos sucessivas a dizer que o meu computador estava a ser alvo de um ataque. Contudo, os gnomos bonzinhos, algo lorpas, por sinal (dai o diminutivo), nao me deram uma opção valida, ja que a mensagem assemelhava-se ao seguinte: "o seu computador - são, apesar de tudo, educados, não me tratam por tu, apesar do relacionamento ja duradouro - esta a ser alvo de um ataque de virus troianos. O que pretende fazer? Aconselhamos a reparar o seu ficheiro, contudo, caso o faça, tal atitude pode tornar o computador instavel ou, inclusive, suspender funções (que é como quem diz, crashar!)".
Ora bolas, perante tamanha mensagem que diz, à bom Português "isto esta mau, muito mau e vai continuar mau independentemente do que faça", o que fazer? Assim, a minha 1a atitude e, julgo eu, a mais sensata, foi pegar na minha pendrive de 4Gb e passar todos os documentos importantes para la. Meu dito meu feito! Finda tamanha operaçao, os gnomos maus libertaram-se de dentro do cavalo e, numa luta desigual, acabaram com os bonzinhos, os muito bons e... com a minha conta bancaria!!!
Pois é, meus caros leitores... Não estão, vossas excelências, a imaginar que poderia deixar de escrever as minhas notas quase diarias! Assim, hoje mesmo, dirigi-me à fnac do Forum Les Halles e... comprei um ordinateur que... so fala francês! Neste momento, tenho uns super-gnomos a trabalhar para mim, num fantastico processador Intel Core 2 Duo E8400, com uma "vitesse du processeur" de 3GHz, tudo isto num monitor de 24'' WUXGA (1920x1200) X-black LCD com dupla lâmpada (estou maravilhado!) DDR2 SDRAM de 4Go (2x2 Go)(800MHz), com um disco duro de 500Go (!!!! = colossal!!!), leitor E GRAVADOR Blue-ray, Tv e sei-la-bem-que-mais!
Claro esta que os "cons" destes franceses tinham de AINDA usar um teclado AZERT e... não encontro o acento agudo! O que, naturalmente, é grave! (O acento agudo do "é" é uma excepção, pois ja existe uma tecla com essa funcionalidade!)

Portanto, desculpem-me pela falta de acentos que, em determinados momentos, pode parecer dar outro sentido às palavras e, consequentemente, às frases... Vou-me debruçar um bocadinho mais sobre o assunto, que é como quem diz, sobre o teclado, à procura do dito acento.
Entretanto, deixo-vos com uma fotografia da minha nova maquina.



Assim, desejo felicidades para os meus novos gnomos, na certeza de que, caso algum deles se decida a "armar em esperto" e dar-me cabo da maquineta, nao voltarei a comprar outro computador...

Bien a vous,
Fil

domingo, 9 de novembro de 2008

crash ordinateur stop

Caros leitores stop hoje o computador crashou stop escrevo do telemovel stop parabens pelos 40 anos de vida em conjunto dos pais stop bom s martinho stop bien a vous stop fil fim de mensagem stop

sábado, 8 de novembro de 2008

Apesar de tudo, Paris é sempre Paris!

Caros leitores,
Paris continua a ser Paris, apesar dos "cons" que por cá habitam e das suas borucracias.
Assim, pelo fresco da manhã, e aproveitando uma aberta por entre as núvens, pus-me a caminho de um dos locais por onde passo quase todas as noites à vinda do trabalho: Jardin des fleurs e Église Saint Eustache.
Que beleza de igreja! Neste momento, uma das minhas favoritas e quase, diria eu, A favorita. É de estilo gótico mas, como qualquer igreja de Paris, dado ter levado cerca de 1 século a ser construída, tem uns laivos de renascença. Tem uns pilares e colunas enormes, uma luminosidade extraordinária e um órgão magnífico. Foram lá baptizados o cardeal Richelieu, Molière e Mme de Pompadour, sendo que Luís XIV fez lá a sua primeira comunhão (vou propôr que o meu sobrinho também a faça lá... ele havia de gostar!). Dia 6 de Dezembro há um "Oratorio de Noël", de Bach, com 130 músicos, às 20h30. Chego, nesse dia, de Hamburgo, às 19:20, mas acho que vou arriscar e comprar o bilhete...
O Jardin de Fleurs, que fica imediatamente à frente desta igreja é amplo e bonito, com várias fontes. Fica mesmo ao lado do Forum Les Halles e vale a pena passearmo-nos por lá em dias soalheiros. Acabei por ir andando por essas ruas fora, e fui mesmo ter a St Germain, à Gilbert Jaune. Entretanto vim para casa, introduzi uns dados no computador, fui fazer as compras da semana ao Monoprix, e cá estou eu, de momento, a escrever umas linhas. Deixo-vos com as fotografias da Église Saint Eustache que é, a meu ver, um dos pontos a não perder numa vinda a Paris!

Bien à vous,
Fil

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

ESTES GAULESES SÃO DOIDOS!

As coisas nem sempre correm como gostaríamos. Condição sine qua non que nos acompanha ao longo da vida.
O meu gosto pela hepatologia, como parte integrante da Medicina Interna vem desde há muito tempo. Virtude do grande número de doentes que temos nas urgências, nas consultas, no internamento, virtude do desafio do diagnóstico aquando da sua apresentação como forma aguda e grave que motiva intervenção atempada e que pode culminar no transplante hepático, virtude do gosto especial que temos pelas coisas sem as conseguirmos explicar muito bem (porque é que uns gostam mais do preto e outros do branco?), enfim, virtude do doente ser um todo, e o fígado uma das suas partes constituintes.
Foi este gosto pela hepatologia que me levou, já há mais de um ano, a propor-me a um estágio nesta área da Medicina no meu hospital, dado ser um dos 3 centros em Portugal de referenciação de doentes com doença hepática, pelo simples facto de lá fazermos transplantação de fígado. Nessa altura, e por indicação de uma colega que intervém nesta área, propus-me a fazer esse mesmo estágio num local de referenciação Europeu, que é o Hôpital Beaujon. Vim, então, a Paris, falei com o director de serviço de cá, "acertámos" agulhas, e iniciei o processo para que tal estágio se viesse a concretizar.
Devo-vos dizer que um dos papéis tem 5 (!) assinaturas diferentes, e que as burocracias, ainda em Portugal, foram muitas. É necessário um papel a propormo-nos para fazer o estágio, o papel com as assinaturas de Y + B + Z + X + A..., o papel para a equiparação a bolseiro (que demorou eternidades para ser assinado), o papel que vai para a ordem dos médicos, o papel que segue para o Colégio da especialidade, o papel que vai para o Ministro, enfim... Tudo parecia, no final, bem, para que, após a aprovação do meu estágio e o reconhecimento da sua idoneidade, pudesse vir, em paz e sossego trabalhar para terras de vocês já sabem quem: Carla Bruni-Sarkozy.
Claro está que já imaginava serem necessários outros papéis para apresentar aqui no hospital, apesar de nunca me terem sido formalmente pedidos quer pelo secretariado do Serviço quer pela Instituição em si.
Quando fui à secção de pessoal do Hôpital Beaujon (doravante denominado como HB) foi como uma banhada de água fria (a 1ª), já que me disseram que, para ter equivalência a FFI (qualquer coisa como, traduzindo, "Fazendo Função de Interno), necessitava, e passo a citar, e em Francês que é para ser mais concreto:

PIECES A FOURNIR POUR ETRE FAISANT FONCTION D'INTERNE

1. Lettre de proposition de candidature du chef de service (ok, este ítem está resolvido, porque já a tenho e, graças a Deus, em Francês pois, caso contrário, eram mais 45 Euros para traduzir cada página...);

2. ORIGINAL (e está assim com letras bem gordas) du diplôme de Docteur (chique, heim?!) en médecine et sa traduction par un traducteur assermenté (arranjei um tradutor, que me vai traduzir, para 2ª feira, os 2 documentos originais que trouxe: um deles, é um papel, azul, 25 linhas, da Ordem do Médicos, a dizer como sou "Docteur" e estou inscrito na ordem; o outro, passado pelo Hosp. Sto António, a dizer que concluí o internato geral com aproveitamento - como podem ver, nenhum dos dois é o "diplôme de Docteur" mas, digo eu, se tenho os dois em meu poder, significa que já sou "Docteur", ou será que não? - Seja como for, desembolsei apenas 90 Euros para a sua tradução...)

3. Le passeport et la carte de séjour en cours de validité (tenho as duas, ufa!)

4. Autorisation provisoire de travail en cours de validité pour les étudiants ayant déjà effectué un ou plusieurs de semestres (não tenho nada disto, mas o pessoal da secretaria disse para não me preocupar...)

5. Un extrait du casier judiciaire Nº2 datant de moins de trois mois. (Acho que nas 3 semanas em que estou em Paris ainda não cometi qualquer infracção - grave - à lei... já tenho o papel, mas tenho que o preencher. Seja como for, seria sempre possível requisitá-lo pela net. Ítem à partida com luz verde, apenas dependente de não fazer asneiras nos próximos dias...)

6. Le livret de famile ou un extrait d'acte de naissance (si vous êtes célibataire) (Ora, os franceses têm um hábito incrível, que é o de por, não como as galinhas, ovos, mas sim, em qualquer papel que se peça em qualquer sítio, se somos "célibataire" - palavra feia para "solteiro" e, se não o formos, temos uma quantidade de ítems a preencher, portanto, mais vale continuar "célibataire". Este ponto também já está com luz verde, já que o pai deste escritor se desenvencilhou, em Portugal, para obter o "extrait d'acte de naissance" que, neste momento, deve estar a meio caminho entre Portugal e França).

7. Un curriculum vitae détaillé à partir du début des études médicales (références, attestations de stage, spécialit, exposés titres et travaux) (Como devem imaginar, vai ser um dos meus trabalhos do fim-de-semana - traduzir o meu curriculum... fico na dúvida se devo, ou não introduzir a minha experiência nas artes nocturnas da cidade do Porto, se é que me faço entender...)

8. Un certificat de vaccinations mis à jour (Hépatite B, diphtérie, tétanos, poliomyélite) (Haja Deus e a mãezinha que disse "Meu rico filho, olha que é melhor levares o boletim de vacinas, nunca se sabe..." O que vale é que não mo pedem traduzido pois, caso contrário, a 45 euros a folha, ficar-me-ia um pequeno balúrdio!)

9. La carte d'assuré sociale (disseram para não me preocupar, pois a entidade patronal tratará do assunto. Assim o espero!)

10. Attestation de domicile, contrat de bail (já há! - luz verde!)

11. Un relevé d'indentité Bancaire (ainda não tenho nenhuma conta bancária, mas hei-de ter; julgo não ser o passo limitante...)

12. 4 photos d'identité noires et blaches (já me estou a imaginar, qual Amélie Poulin, a brincar no Photomaton!)

13. Une enveloppe timbrée (tarif normal) à vos noms et adresses (se dependesse de "la tante", já estava cheio de envelopes timbrados, de correio azul, verde, vermelho, das cores que quisessem! Aproveito para deixar aqui uma homenagem a "la tante", por tudo...)

E agora, caros leitores, a VERDADEIRA PALHAÇADA E O PASSO LIMITANTE:

14. La carte d'étudiant en cours de validité faisant ressortir l'UFR et le diplôme (AFS ou AFSA) (bom, neste país, os internos têm de estar inscritos na faculdade... isto é, eu terei de estar inscrito na faculdade, naquilo que estes idiotas chamam de "le troisième cycle"! Barafustei, resmunguei, disse que já era médico, que não era estudante, que essa bela fase da minha vida já tinha passado e que agora, além de médico, também era professor na faculdade - dá sempre outro impacto... - admito que as senhoras da secretaria - que entretanto já eram duas - ficaram um bocadinho incomodadas, pois não sabiam o que dizer!)

Bom, este 14º passo levou-me, hoje, até ao número 15 da Rue de l'école de Medicine, para saber o que tinha de fazer para me inscrever na dita Faculdade de Medicina. Admito que fui mal recebido, e que me passaram um "papelete" - isso mesmo, um "papelete", um pequenino papel, mal amanhado, com uns dizeres em francês e um endereço da internet, para o qual vos remeto: http://www.fmpmc.upmc.fr lá, no site, deverão ir a "Formations" e, depois, "Le troisième cycle". Aí, vêem a variedade de coisas nas quais me posso inscrever mas, aquela que julgo ser a pertinente, é a AFS. Claro está que me pedem outra quantidade enorme de coisas e, no fim... O PAGAMENTO DE UMA PROPINA DE QUATROCENTOS E CINQUENTA E TAL EUROS!!!!!
ESTES GAULESES ESTÃO LOUCOS!!!!
Claro está que devem imaginar o meu espírito, não?! Este sim, é o verdadeiro passo-limitante! Portanto, caros leitores, devo-vos dizer que este humilde companheiro de "quase todos os dias" voltou à escolinha... (ou vai voltar, assim o espero!) Claro está que também espero, com isto, ter benefícios fiscais no próximo ano, e descontos para estudante no acesso aos museus e tudo! Até já estou a pensar tirar o cartão de amigo de Serralves de estudante, vejam só!

Bom, como devem estar a ver, parte do meu fim-de-semana vai ser passado a "curricular". Contudo, além das compras que tenho de fazer para a casa (já não tenho mais mercearia...), quero ver se me vou "promenar" por Paris.

Bien à vous,
Fil

PS: Agradeço os votos de coragem. Mas o facto é que, se já no nosso país as burocracias são o que são, tratar das mesmas coisas num país diferente, numa língua diferente não é, de forma alguma, uma boa maneira de se dar as boas-vindas!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Núvem negra sobre Paris...

Caros leitores, amigos, companheiros desta "aventura", a minha ausência de palavras nos dias anteriores, o meu silêncio, deveu-se, não só, ao cansaço que vai sendo algum (e que serve de justificação para hoje escrever apenas meia dúzia de linhas) como, também, ao meu espírito/ estado de alma que não tem sido dos melhores.
Tal, deve-se a vários factores, tão e somente relacionados com a minha vida no hospital. Não pelas pessoas, que são o que de lá há de melhor, mas com o "sistema" (afinal não é sempre assim?). Com o facto de ter descoberto a necessidade de um bem maior número de papéis do que aqueles que julgava serem necessários para ser um "médico europeu", com o facto de achar, neste momento, que no nosso cantinho à "beira-mar plantado" fazemos as coisas tão ou melhor do que cá, com o facto de existir a franca possibilidade de ter de fazer urgência geral (garanto-vos, meus amigos que, nesse momento, pego nas minhas malinhas e vou fazer as MINHAS URGÊNCIAS, no MEU HOSPITAL), e com outros factos que não me apetece aqui relatar, e que deixo para confidências familiares "skypianas" que servem de catarse ao final do dia.
Desculpem a brevidade da mensagem, e o facto de não vos enviar fotografias bonitas, sítios giros para visitar, factos da vida real engraçados mas, infelizmente, nem tudo nesta vida são rosas, e os momentos piores também fazem parte dela, ajudando-nos a valorizar os bons. Contudo, sempre há-de ter a sua graça, uns meses mais tarde, reler estes meus "laivos" de mau humor.

Bien à vous e, já agora, a moi também (hoje preciso),
Fil

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A Salle de Garde

Bonsoir à tous!

Hoje comi o iogurte não com o cabo do garfo mas com o quê? Com o cabo da faca... que a colega do lado não utilizou. Devo-vos dizer, em primeiro lugar, para experimentarem com um ou com o outro utensílio e, em segundo lugar, que prefiro o garfo à faca: o cabo é mais largo e funciona melhor como "colher". Reparei hoje, também, e na ausência de guardanapo, que o bordo da toalha de mesa funciona como tal!
Bom, hoje o dia foi semelhante ao de ontem, talvez menos confuso. Como é lógico, este não é o local para vos falar de medicina ou do meu trabalho em si, das indicações para biópsia hepática, das complicações inerentes àquele procedimento, das hepatites B, C, das cirroses de etiologia multivariada, etc, etc, etc... Contudo, é o local para vos falar das logísticas e dos "truc" engraçados que vão decorrendo ao longo da minha estadia por terras de Proust.
Assim, hoje, vou-me dedicar à "Salle de Garde".
A "Salle de Garde" é, na realidade, um conjunto de salas que formam, no seu todo, o 2º piso de um edifício satélite, relativamente grande, ao hospital propriamente dito. É lá que funciona a cantina (ou espécie de...) e onde existem várias outras pequenas salas, todas contíguas umas às outras, onde os médicos não fazem mais do que... pura tertúlia! E que bonito é de ver! Hoje pareceu-me, de facto, um regresso à faculdade.
Todos os internos e séniores mais júniores (não sei se me faço entender... sobretudo para os não médicos passo a explicar: há os muito séniores, os séniores, os séniores júniores - aqueles que já são especialistas mas desde há pouco tempo e que trabalham, ao fim e ao cabo, tanto quanto os internos - os internos complementares, aqui em França não há internos gerais, e aquilo a que chamam "externos" que são os alunos; na realidade, esta hierarquia funciona um bocadinho como as prateleiras: quando mais altas, menos úteis...) de todas as salas do Serviço de hepatologia foram almoçar às 13h (incluíndo eu, claro está!). Chegámos mais cedo do que ontem, pelo que ficámos na sala com as mesas em "U", e só tive de bater em meia dúzia de costas...
O almoço foi divertido, e fiquei a conhecer as regras da "Salle de Garde", além da que já vos havia referido relativamente à distribuição da comida, e que se confirma ser mesmo assim. Assim, a partir do momento em que nos sentamos, não nos podemos levantar a não ser no final da refeição (isto é, não há lugar a evacuar águas estagnadas ou resíduos sólidos); não podemos atender telemóveis, apenas o "bip" (quando o "bip" toca podemo-nos levantar para ligar para o número marcado - acho que no Sto António estamos tecnologicamente mais evoluídos, pois já entramos na era das radiações auriculares, vulgo, telemóvel); NÃO É PERMITIDO FALAR DE MEDICINA À MESA! É verdade! Ao contrário do que se passa no meu hospital de origem, que estamos sempre a falar dos doentes, dos serviços ou mal uns dos outros, aqui não há nada disso!
Estas são algumas das regras. As paredes têm verdadeiros "murais" pintados de "arte" afrodisíaco-pornográfica. Tentarei, em dias ulteriores, tirar uma fotografia (sem ninguém dar conta) a tais obras de arte!
Depois do almoço, é hora do café. Assim, um de nós (em regime rotativo), vai buscar cafés de máquina (e à borla!) para todos, enquanto que o resto da trupe se instala confortavelmente nos enúmeros sofás, ou na sala com cadeiras e matrecos. Muito bom! Muito saudável! E o facto é que, passando todos os dias pelo menos 10 horas no hospital, aquela hora do almoço é, garanto-vos, uma hora bem passada.
Hoje tive a oportunidade de conhecer mais 3 "entes" que falam português. Estes, com sotaque, já que são, vejam só, Brasileiros, e também acabadinhos de chegar, para estágios em várias áreas.

Bom, por aqui me fico, vou descansar. Acho que vou deixar a cozinha para arrumar amanhã. Afinal de contas, hoje, não conto com visitas!

Bien à vous,
Fil

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O 1º dia de trabalho.

Caros leitores,
escrevo, hoje, por obrigação! Obrigação de quem tem amigos que lêm o blogue e que estão à espera de novidades. Obrigação de quem habituou os caros leitores a mensagens quase diárias desde o debut (pronto, lá vêm as mots francesas...) do "Relier à Paris".
Estou cansado após o esforço que foi concentrar-me para perceber e fazer-me entender em francês. Cansado por um dia de trabalho longo e algo laborioso. Cansado das 8 notas de alta (ainda que sucintas) que fiz...
E é este cansaço que não me deixa, neste momento, ser completamente feliz!
O dia, como devem imaginar, foi diferente de qualquer meu outro dia. Apresentei-me no Serviço às 8:30. Fui recebido pela Catherine, uma enfermeira Africana (ela assim o disse), muito simpática, e que tratou, de imediato, de me arranjar uma "blouse" pois que, médico que se preze tem de andar de bata! E, vejam só, com o frio que faz por estas paragens, de manga curta! Claro está que o Serviço é todo ele quentinho...
Um bocadinho mais tarde chegou a minha colega Búlgara, a Yana. Também ela impecável, um bocadinho stressada. Então, uma outra enfermeira fez-nos a apresentação a todo o Serviço. Já passava das 9h quando chegou o médico de residência, que só esteve até às 14h, e que foi o seu último dia no Serviço. Não sei quem, de séniores, ficará nos restantes dias da semana mas, a partir da próxima 4ª feira (dia 12) teremos, connosco, uma médica Italiana (sénior), também ela impecável. Quando lhe disse que vinha do Porto do Hospital Sto António, a 1ª coisa que ela perguntou foi porque diabos é que tinha ido parar a Beaujon, se trabalhava naquele hospital, no sentido de que, aparentemente, o meu Sto Antoninho é reconhecido além fronteiras, eh! Eh!
Bom, a manhã foi-se passando, tendo-me sentido um verdadeiro aluno do 3º ano de Medicina, que não conhece nada, não sabe como os "truc" (palavra óptima que aprendi e que significa "coisa" o que quer dizer, meus caros, que quando vierem a Paris e não souberem uma palavra ou objecto basta dizerem "ce truc lá!") se processam, enfim...
Só depois do almoço, e na vigência da falta de médico sénior, meti a 3ª, a 4ª, a 5ª e lá fui a alta velocidade tal e qual o meu gnomo de patins, desenrascando o que me aparecia pela frente. Até "baixas médicas" passei! (No essencial, é igual a Portugal, mas é para me armar um bocadinho...).
O almoço foi digno de ser filmado, e há coisas que dificilmente vos conseguirei transmitir, pois o meu estado de fluência de palavras está em baixo de forma.
Bom, às 13:15 lá fui eu e os meus restantes colegas internos almoçar à cantina exclusiva para médicos e farmacêuticos. Entramos em filinha indiana e eu, como um verdadeiro gentleman, fui atrás da malta toda quando, qual o meu espanto, vejo-nos a entrar numa sala, pequena por sinal, com uma mesa em "U", onde cabiam, talvez, umas 12 pessoas de cada lado, e reparo nos meus colegas da frente a "baterem ao de leve" com o dorso das mãos, as costas das várias pessoas que comiam. Já a mais de meio de semelhante espectáculo, perguntei à Sónia (a minha colega Tunisina, que ia à frente) que procedimento era aquele, ao que ela me respondeu que era uma espécie de cumprimento! Bom, o facto é que, depois de termos percorrido todo o U, retiramo-nos daquela sala e fomos para uma outra contígua com uma única mesa comprida, com lugares dos 2 lados. De cada lado da mesa havia lugar para, talvez, umas 15 pessoas. De prato ladeiro, faca e garfo, eis que começou a chegar a comida, passada em travessas, desde a minha direita, e num gesto repetido de colega para colega. Isto é, imaginem, os caros leitores, que tenho o colega 2 que está à minha frente e à direita, o colega 1 que está do meu lado direito, eu sou o número 3, o colega 4 é o que está mesmo à minha frente, o 5 é o do meu lado esquerdo e o 6 o que está à minha frente à esquerda. Pois que todas as travessas que passaram por mim, desde os legumes, o prato de massa, de atum, de carne, de batatas, de fruta, de iogurtes, vinham no sentido do 1 para o 2, do 2 para o 3, do 3 para o 4, do 4 para o 5 e assim adiante, em zigue-zague, e ai de quem trocasse o esquema da coisa!
O apogeu foi quando veio o iogurte. Caros leitores, como é que se come o iogurte numa cantina que é só para médicos e farmacêuticos num hospital de Paris? Toda a gente sabe que é com o CABO DO GARFO!!! Realmente nós, os Tugas, temos cá uma mania... Olha lá, utilizar uma colher para comer um iogurte... se tem jeito!
Bom, a tarde lá se passou, a fazer as notas de alta dos doentes que estiveram internados no hospital de dia, e saí do hospital perto das 19horas.

E foi assim o meu primeiro dia.
Balanço final: Gostei dos colegas, da equipa de trabalho e do ambiente, apesar de estar, e ainda continuar, num processo de integração que, naturalmente, vai demorar.

Bien à vous,
Fil

domingo, 2 de novembro de 2008

Café de Flore e mais uma dica para comer!

Paris acordou luminosa mas não solarenga, fresca mas não gelada, e eu acordei com ela!
Escrevo já depois de ter redigido uma extensa mensagem para adicionar ao blogue e que, por um evento não totalmente esclarecido, e que provavelmente se deve aos gnomos que andam de patins em linha e que habitam dentro do meu computador a veicular a informação de um lado para o outro (toda a gente sabe que os computadores funcionam desta forma, tal e qual os ventiladores, em que existe um gnomo no seu interior com um fole, e que tem o laborioso trabalho de fazê-lo insuflar e desinsuflar de acordo com os nossos comandos; contudo, como toda a gente sabe, eles existem, mas nunca ninguém os viu!). Julgo que o gnomo responsável por apagar as letras, textos, imagens e demais informação, deve ter tropeçado num patim e lá apagou (sem querer, claro está...) todo o texto que eu já havia escrito.
Assim, perdoem-me, os meus caros leitores, pelo meu eventual excesso de poder de síntese (que já sabem não ser o meu habitual) que surja nas próximas linhas.
Hoje, o acordar, apesar da minha boa disposição habitual, foi diferente do dos dias anteriores, no sentido em que hoje não tinha ninguém para dizer bom-dia! Bom, seja como for, rapidamente colmatei esta falta de massa humana no meu estúdio, com uma saída à rua já que, conforme vos referi, o tempo assim o convidava.
Pois então, liguei o GPS das minhas sapatilhas e pus, como coordenadas, o "Café de Flore" em St Germain, após várias mensagens a recomendar tal "lieu". Fui lá ter direitinho, sem qualquer ajuda de mapa, apenas com os desvios inerentes às mudanças de direcção pois, caso contrário, habilitava-me a bater com o nariz em qualquer poste, carro ou parede ou até, quem sabe, a nadar no Sena (aqui em Paris, o Sena não é masculino, é feminino, dá-lhe outra graça, sem dúvida!). Devo-vos dizer, contudo, que passei por um mercado na Ile de La Cité, onde estavam à venda vários animais, e fiquei entusiasmado para comprar um furão, um coelho, ou uma chinchila. Contudo, parece-me que, caso opte por comprar um animal de estimação em Paris, lá terá de ser o comum "peixinhus vermelhus", que toda a gente conhece como peixinho vermelho!
Lá cheguei, então, ao Café de Flore. Sem dúvida bonito, como já haviam relatado, com o seu interior em Art Déco a transparecer as tertúlias que lá foram feitas com grandes nomes das artes e letras, tal e qual o nosso "Piolho" - local que aqui presto homenagem, e que me acolheu de braços abertos em várias manhãs durante o meu período estudantil. Claro que à semelhança das marcas de roupa, sapatos, etc, aqui também se paga a tradição, pelo que o café não é caro, mas sim muito caro! Por um chá e um bolo seco paguei, convertido para o nosso velho escudo, vulgarmente designado por "pau", 1800 paus!!! 9 Euros, meus senhores! Ainda me lembrei do meu pai: se lá tivesse estado (e provavelmente estará quando cá vier) teria barafustado tanto, mas tanto... Tenho a impressão que, após tomar o chá, e tal e qual uma chaleira ao lume quando a água entra em ebulição, começaria a assobiar por todos os lados (salvo-seja!) e a deitar vapor pelas orelhas! Dir-vos-ei, a seu tempo, qual a sua reacção.
Bom, seja como for, aproveitei o "aluguer" da cadeira para ler atentamente o "Guide de l'interne" que me foi fornecido na 6ª feira, onde estão descritas as actividades do hospital, e qual o papel do interno. Fiquei, claro está, mais conhecedor do que me espera. Transcrevo, aqui, um excerto do texto, relativo ao ponto 3 - Organisation des soins: "Aucune admission ne peut être faite sans que l'interne en ait été préalablement informé. C'est l'interne qui décide de la sortie du patient. L'interne est le seul prescripteur d'actes diagnostiques et de traitement...". Lá como cá...
Finda a minha leitura, e saído do café, deparei-me com mais um monumento desta cidade, mais outra igreja, a de St.-Germain-des-Prés. Entrei, e demorei-me um pouco no seu interior. Mais outra beleza da cidade, esta, com a particularidade de ser a igreja mais antiga de Paris, o que se denota pelos seus vários estilos, resultado da passagem das modas e das pessoas ao longo dos tempos.
Depois, resolvi ir almoçar a um local onde já havia ido lanchar uma vez com a família sendo que, nessa altura, tive vontade de lá voltar. Assim, deixo-vos com a rúbrica:

O GUIA DAS ESTRELAS NERY PARA OS MORFES

RESTAURANTE: Crêperie Saint-Germain
ENDEREÇO: 33, Rue Saint-André-des-Arts
AMBIENTE/ DECORAÇÃO: 4,3 - Sem dúvida um ambiente acolhedor pelo espaço pequeno que é. Trata-se de uma creperia provavelmente com cerca de 30-35m2, com capacidade reduzida para cerca de 30 pessoas. Muito "gaudiana" no sentido em que as mesas são "forradas" de pequenas pastilhas multiculores, e não só as mesas como partes das paredes. Contrasta o laranja-velho das paredes e tecto com o azul das mesas. Dito assim pode parecer um bocadinho mau mas não é! A cozinha é perfeitamente visível, e os clientes podem observar a preparação (rápida) da refeição. Apesar de ser uma mais valia para o restaurante que assim seja, a tiragem do ar acaba por não ser das melhores, sendo sobretudo por esse motivo que este ítem não é mais valorizado.
SERVIÇO PRESTADO/ ATENDIMENTO: 3,5 - Sem grandes queixas relativas a este ítem, e o facto de ser apenas uma empregada a atender toda a gente não faz com que o serviço seja mais demorado ou prestado com menor simpatia. O problema surgiu quando a empregada que fez "manhã" foi substituída pela que fazia "tarde" e que chegou mais tarde do que o desejável. Pelo que me apercebi, adormeceu. Assim, os seus primeiros 20 minutos de serviço foram um bocado desconcertantes no sentido em que a própria não estava ainda "enteirada" dos pedidos previamente formulados pelos clientes. Não cheirava mal de qualquer cavidade/ afundamento corporal visível/ mais exposta/ vocês já sabem qual...
COMIDA: 4,0 - Pedi um crepe manhattan (com carne, ovo, salada, queijo, ...) para prato principal e um crepe com açucar de sobremesa. Sabor razoável, o expectável, regular.
RELAÇÃO SERVIÇO/ PREÇO: 3 - Tenho ideia que este ítem nunca será muito valorizado nesta minha rúbrica... Paguei pelos pratos já enunciados e por uma coca-cola 17 Euros. Não foi totalmente mau, dados os preços praticados habitualmente, mas também já comi crepes mais baratos.
NOTA FINAL: 3,7 - Nota final razoável. Gostei em particular do ar acolhedor da "Crêperie", mas comi bem e o serviço foi razoável. Passem, pelo menos, por lá para lanchar, para apreciar o local, comer um crepe com manteiga e açucar, entre as Livrarias Gilbert Jaune e a Taschen.

E pronto, caros leitores, no final de contas, o meu poder de síntese não foi aquele que esperava após a destruição inicial do meu texto pelo gnomo apagador.

Amanhã é dia de trabalho... para todos!

Bien à vous,
Fil

sábado, 1 de novembro de 2008

Longe da vista, perto do coração...

Bonsoir à tous!

Pois bem, caros leitores, a partir de agora deixo de ser mais um turista em Paris e passo a ser um dos milhares de emigrantes na cidade-luz.
Ontem, conforme já vinha a publicitar nas minhas mensagens anteriores, tive o tal "rendez-vous" com o Prof. Dominique Valla e os restantes internos que, tal como eu, foram convocados para esta reunião de apresentação.
Mais parecia o hemicíclo das Nações Unidas do que propriamente uma reunião de internos, tal a "multinacionalidade"/ "multiculturalidade" ali existente. Além da minha pessoa em representação de Portugal, estava também um Belga, um Africano (não sei qual o país, mas o mais provável é ser de uma das ex-colónias), uma Tunisina, uma Búlgara e, vejam só, uma Francesa! Pois é: dos 6 novos internos do Serviço de hepatologia do Hôpital de Beaujon, apenas uma é autóctone. Dos 6, apenas eu sou de Medicina Interna, sendo os restantes de Gastroenterologia.
O Professor é um verdadeiro senhor: com os seus cabelos brancos e ar esguio, fala de uma forma serena que só os anos de experiência podem conferir, de uma "pontualidade britânica", e um francês correcto que permitiu, inclusivé, a sua total percepção ao meu ouvido (ainda duro). Começarei, então, a trabalhar segunda feira, com um horário de trabalho que, francamente, pouco se adapta ao meu sistema, já que os meus níveis de cortisol atingem o seu máximo num horário mais cedo do que a média da população, que é como quem diz, preferiria iniciar o meu trabalho mais cedo e, como tal, terminar também mais cedo e não... às 19h (environ...), todos os dias da semana. Contudo, ao contrário do nosso rico país, o nosso horário não é controlado com "dedos" ou outros sistemas de ponto, mas sim pelo trabalho realizado, isto é, se acabar as minhas tarefas mais cedo, não tenho porquê de me manter na instituição e poderei vir embora. Contudo, como em tudo na vida, quanto mais quisermos fazer, mais nos dão que fazer, e mais oportunidades surgem. Num fim-de-semana por mês terei de trabalhar sábado durante o dia e a manhã de domingo. Achei curioso quando perguntei se a jornada seria de 24 horas, ao que toda a gente deve ter achado que eu estava maluco, pela forma como me olharam. É verdade: a nossa responsabilidade nas enfermarias ou nos cuidados intensivos (por onde também passarei) será máxima, contudo, sempre com um sénior a balizar as atitudes. Além do mais, o hospital, de acordo com aquilo que me parece, tem um sistema de emergência interna e externa que fica a cargo dos anestesistas/reanimadores (todos eles séniores). Bom, a reunião durou quase 1h 40m (saí do hospital perto das 20h), foi-nos entregue um dossier sobre a organização do hospital em geral e do serviço em particular, com algumas directrizes básicas para o bom funcionamento.
2ª feira lá estarei para começar, então, este meio ano de estágio em terras de Sarkozy.

Desde as 15 horas de hoje (hora de Paris), estou totalmente por minha conta e risco. Após uns dias um bocadinho mais agitados, mas muito agradáveis, pela massa humana que ocupou o meu imóvel transitoriamente, estou, de facto, só. Ohhhhhh...
Pois bem, mal o pessoal saiu, deitei mãos à obra e, em cerca de 2 horas aspirei, limpei, arrumei e, pela primeira vez na vida (não sei se isto é muito abonatório a meu favor...) pus a máquina da roupa a lavar!!! Assim, os "próximos clientes" cá de casa podem contar com lençóis e toalhas lavadinhas.

E bom, não tenho mais nada de relevo para vos dizer. Amanhã espero um tempo um bocadinho melhor que dê, pelo menos, para ir estudar qualquer coisa para um dos cafés de St Germain.

Bien à vous,
Fil